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Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Já que não consigo dormir...

11.02.04, a dona do chá
- Deixo que a música invada o quarto, baixinho... « Não vou mais falar de amor De dor, de coração, de ilusão Não vou mais falar de sol Do mar, da rua, da lua ou da solidão » - Deixo que a voz se aproxime de mim, em jeito de vaga. Recebo-a como uma náufraga. « Meu vício agora é a madrugada Um anjo, um tigre e um gavião Que desenho acordada Contra o fundo azul da televisão » - Que esta grandeza me embale os olhos: a luz ténue da penumbra e o fluir do som. « Meu (...)

Limites e Fracturas. (1)

05.02.04, a dona do chá
Quando vem a noite e contamos cada minuto que passa, cada rumor na estrada (solta lá fora), cada passo repicado no apartamento de cima, pensa-se em tudo: no passado distante, no que se comeu, no que se devia ter feito e não se fez, no que se deve fazer no dia seguinte, nas contas por pagar, nos aniversários (e envio felicitações sempre com atraso...), nas horas de sono que perco, nos sonhos que deixo de sonhar. Listas e mais listas que passam diante dos olhos. E depois vem as (...)

Ler um poema - enquanto o sono não chega... (3)

28.11.03, a dona do chá
Não Dizia Palavras « Não dizia palavras. Apenas aproximava um corpo interrogante, Porque ignorava que o desejo é uma pergunta Cuja resposta não existe, Uma folha cujo ramo não existe, Um mundo cujo céu não existe. Entre os ossos a angústia abre caminho, Ergue-se pelas veias Até abrir na pele Jorros de sonho Feitos carne interrogando as nuvens. Um contacto ao passar, Um fugidio olhar no meio das sombras, Bastam para que o corpo se abra em dois, Ávido de receber (...)

Parte de um todo.

13.10.03, a dona do chá
A chuva é uma fina cortina dentro da noite. Quase imperceptível. Pouco tangível, mas presente. Ao fundo, estende-se o silêncio. Com uma manta nos ombros, ela tateia a aspereza do vidro e empurra a janela. A mão pousa no chão da varanda e num movimento lento desenha formas incertas. O pó mistura-se com a água da chuva formando um novo elemento, uma tinta natural. Ganha vida, mas se desfaz logo de seguida...

Estridência.

01.10.03, a dona do chá
O som agudo do alarme dos bombeiros voluntários atravessa, pela segunda vez, a madrugada. Ao longe já se fazem ouvir as sirenes, anunciando a desenfreada passagem. Sinto um estremecimento. Algo de errado aconteceu. Algo pode ter causado feridos. Algo pode ter gerado algum desastre. Sinto uma inquietação diante do desconhecido.

Outras pequenas batalhas.

30.09.03, a dona do chá
Ela acompanhou a escuridão da noite até ao primeiro sintoma do nascer do dia. Ouviu as gotas de chuva a cair do céu e viu-as escorrerem nas ruas, carros, janelas, telhados. Esteve toda a noite sentada no chão do quarto, a olhar pela janela, a olhar para o céu, a olhar para a chuva. Sentiu frio, mas não se incomodou. Deixou-se estar. Deixou-se ir. Deixou-se pensar. Os problemas não se resolvem num dia, numa noite e, decidamente, não duram toda vida. Um dia encontra-se a solução (...)

Pedido.

26.09.03, a dona do chá
Que a noite ouça, entenda e venha atender ao pedido de uma insone. Que os olhos lhe pesem e que no descanso dos lençóis encontre forças para mais um dia.

Música lembrada.

09.09.03, a dona do chá
Neste momento, o silêncio é quase absoluto: somente um esporádico carro e os dedos a teclar. A minha cabeça lateja. E ao fundo, depois do latejar, parece que ouço o Renato Russo cantar: "Meu coração não quer deixar meu corpo descansar". Caio em mim. Sinto a música, sem ouví-la.

Por dentro da noite.

09.09.03, a dona do chá
Que força é esta que em empurra dentro da noite? Que me instiga a continuar? O que me faz estar a pé, quando devia render-me aos braços estendidos dos lençóis e descansar? Questões bailam na minha mente. Imagens vividas passam diante dos meus olhos. Eu procuro tentar interpretar olhares vistos, palavras que não foram ditas, silêncios incomodativos e uma culpa não merecida. Como alguém pode se redimir de algo que não fez? Há alguma fórmula? Como é possível que ao se (...)

Entre as mãos.

07.09.03, a dona do chá
As noites já apresentam um frescor. Um certo prenúncio de que o verão está a se esgotar e que em breve teremos noites cada vez mais frias. Tenho entre as mãos uma caneca com chá de menta, bem quente e aromático. Traz-me conforto. Começo a sentir uma lassidão. Parece que, para além do chá, também tenho entre as mãos o sono.