Estar dividida entre os dias, entre as horas que passam. Correr atrás, ininterruptamente. Correr e ter a respiração entrecortada. Correr e deixar de sentir os pés. Perder as forças. De forma gradual, os sons desaparecem. O fim não é uma meta visível. O sol e a lua estão longe de delimitar a fronteira visível entre o dia e a noite. Não existe fim, porque é sempre início e repetição.
Tempo de leituras e de edição de posts antigos. Este exercício tem sido interessante. Trabalhoso, mas interessante. Por vezes, fico estupefacta com algumas coisas que escrevi no passado e quase tenho vontade de me cobrir com um saco de pano. Inúmeras vezes, o pensamento "Meu Deus, Cátia, o que tinhas na cabeça para escrever isto?" surge com insistência.
Mesmo assim - mesmo munida de uma total auto-avaliação cruel - tem sido construtivo e bom.
A compreensão da imperfeição é iluminada pela certeza da falibilidade. O senso de justiça, para si e para os outros, entra em erupção e transborda pelas veias do quotidiano. Não há nada a fazer quando não há nada a ser remediado. Quando um vaso é quebrado, os seus cacos nunca poderão ser reconstituídos à condição inicial. O problema não está na imperfeição, nem na fabilidade. O que importa alcançar é o foco (da doença?).
Assim, meio sem querer, o pensamento ganha as suas próprias asas e torna-se independente. Segue um rumo ao qual não lhe dedico muita atenção. Entre uma tarefa e outra, posso ouvi-lo. Lavo um prato e enxugo um prato e lá vai ele, pensamento, em corrida simples. Deixo-o andar, ele é uma criança: precisa do seu espaço.
Esta inútil consciência de que os gestos não são suficientes e de que cada dia reserva lugar ao imprevisto. É um movimento involuntário de desencontro entre as horas silenciosas em meio ao ruído circundante e um número de coisas sem sentido. Perseguir os segundos para refazer uma série de minutos. Despender cada volume de tempo para cumprir o dia até que venha a noite.
Um tic-tac, uma contagem invisível e as nuvens raiadas de cinzento que ocupam cada azul do céu. É audível (...)
*Cura (latim cura, -ae)
s. f.
1. Acto ou efeito de curar ou de se curar.
2. Período em que se segue um regímen ou tratamento contra uma doença.
3. Recuperação da saúde.
4. Curativo; remédio.
5. Solução para algo.
6. Emenda, regeneração.
Estes dias de viver em suspenso. Estes dias que não são dias. Que não são um acúmulo de horas, minutos e segundos. Estes dias que não o são. Existem, têm passado, mas não são. Será um erro de escrita? Uma insanidade? Mas (...)
descobrir * (latim discooperio, -ire, descobrir, pôr a descoberto, destapar)
v. tr.
1. Achar o ignorado, o desconhecido ou o oculto.
2. Fazer um descobrimento.
3. Chegar a conhecer.
4. Notar.
v. tr. e pron.
5. Destapar.
6. Mostrar.
7. Manifestar; revelar.
8. Avistar; ver; alcançar com a vista.
9. Inventar.
v. intr.
10. Aclarar, clarear a atmosfera; romper (o sol) as nuvens.
v. pron.
11. Tirar o chapéu (ou o que se tem na cabeça).
12. Cumprimentar (descobrindo-se).
13. [Esgrim (...)
despedaçar *
v. tr.
1. Fazer em pedaços; dilacerar; quebrar.
2. [Figurado] Confranger.
v. pron.
3. Partir-se, quebrar-se.
o cinzento traduz a falta de cor dos dias. há momentos, em que a cor parece querer espreitar entre as nuvens: são breves e intensos. cheiram a pedaços de céu. a tua risada, a minha risada, as mãos entrelaçadas. há uma saudade desta cor, das suas várias gradações e de como o colorido é a tradução certa dos sentimentos. eu gostaria de dizer que (...)
cantilena |ê| *
s. f.
1. Canto arrastado e monótono.
2. Narração ou razão fastidiosa.
3. [Antigo] Canto suave.
4. Canto das aves.
5. [Informal] Palavreado astucioso para iludir, enganar.
A verdade é sempre incómoda. Nunca pertence ao próximo. Pensamos que a possuímos, que somos seus donos por excelência. Pressupomos que viveremos eternamente e que usufruiremos de uma redentiva misericórdia que nos impedirá de sofrer. Quem sabe nos livrar da morte. Quem sabe (...)
edição * (latim editio, -onis, parto, publicação, representação, celebração, versão)
s. f.
1. Acto de editar.
2. Conjunto dos exemplares que de uma vez se fazem da mesma obra.
3. Publicação literária.
4. Actividade de um editor.
5. Cada uma das realizações de um evento ou programa (ex.: edição da noite do noticiário, festival de edição anual).
Reler o que se escreve conduz inevitavelmente a uma constatação da imperfeição. Encontram-se erros que os (...)