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Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

( TRANSFORMAR A NOITE EM DIA )

19.10.04, a dona do chá
Há dias que são escuros como noites. Não nos reservam novidades. Não nos olham nos olhos. Dirigem-se para muros caiados. Dirigem-se para ruas sem saída ou para ruas labirínticas. Seria melhor que os dias fossem como cortinas, de tecido leve e suave, que protege a vista do sol intenso, mas deixa passar alguma luminosidade.


Os meus dias são como noites, disse ela. E eu ouvi. Enquanto olhava para as rachaduras das paredes, ainda ouvia a frase. [e não era o rádio, estava desligado]. Aquela que me vê do lado de dentro do livro ainda repete a mesma frase. Aquela que se deita entre páginas de revelações fala ao meu pensamento. Poderia ser um espelho. Poderia ser aquela inumerável quantidade de folhas caídas da mesa. Eu podia ter sido muitas coisas, disse ela também. Inimagináveis. Mas não detinha grandes sonhos, nem era muito ambiciosa. Queria viver e fazer viver. Não queria estar confinada às ideias alheias. Nem ser prisioneira das suas próprias ideias.

Como transformar o dia em dia? - interrogava-se. Ela não era como os outros, a chuva, o vento e a neblina não consistiam num incómodo. Eram alegorias dentro da escuridão.
Há dias que são tão tristes, tão tristes, que se transformam em noites. E os dias convertem-se em sucessões de semanas.



Repete-me, bem junto ao ouvido, que tudo vai ficar bem. Talvez, assim, o sol empurre o manto escuro da realidade.

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