(vagas de lume)
nestas horas, de silêncios e respirações entrecortadas, a casa dorme. a rua dorme. as gotas de chuva que caem sobre o estendal de roupa na varanda também estendem-se adormecidas. o mundo todo dorme e respira e inspira e transpira e esquece. o curso da madrugada é esta longa estrada de esquecimento e braços aprofundados no abandono dos lençóis. a minha pele, a tua pele, o hálito morno e os corpos em repouso. pela noite dentro, erguem-se horas de precipício. tudo está em pausa. pé ante pé, dispomo-nos tão perto, tão absurdamente perto, que a distância é um sopro de voz. sussurrado. antes da queda. antes da luz. antes de ser dia.