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Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

( OUTROS ARES )

14.10.04, a dona do chá
Os emigrantes (I)




Estudava, mas não conseguia marrar. Mesmo assim, Joana chegara ao 12º ano sem chumbos. Pensava em ir para a faculdade, ainda que não soubesse bem para quê. Mas tarde descobriu que o sacrifício para entrar na universidade pública, a mais barata, devia ter começado logo no 10º ano. Menos namoro, menos discoteca. Enfim, menos com menos daria mais. Mas a bela matemática não era o forte da "cachopa". E não podendo os pais pagar a sua transferência para o externato no secundário, Joana deveria ter marrado.


O pai bem avisara Joana que se queria ser “alguém na vida” – alguém como ele nunca havia sido – “tinha de comer a relva” e dar o “tudo por tudo no sprint final”. Mas Joana – que todos os anos convencia a mãe a pedir ao médico o atestado de dispensa da educação física – nunca entendera muito bem o alcance das palavras do pai. Pelo menos, até ver que a média conseguida era curta demais para “atingir o objectivo” de poder estudar para ter alguma das profissões dos seus sonhos.


Por isso a ideia de andar pelo mundo fora a salvar a vida às vítimas da guerra e da fome ficara de lado. Bem ao lado da vontade de lutar pela defesa dos direitos dos mais desfavorecidos.


Sem saber que rumo dar aos estudos, Joana acabara por escolher um dos muitos cursos, de mensalidade acessível, que vira anunciado num desdobrável de uma universidade privada. A euforia de ser caloira fê-la esquecer que detestava o curso, mas chegado o fim do ano Joana não aguentou e desistiu. “A pagar por pagar”, explicara aos pais, pagaria um curso de “jeito”. Bastava mais algum dinheiro e já poderia frequentar um curso de Medicina ou de Direito numa faculdade privada de qualidade. O dinheiro extra seria ganho com o seu “suor”. Os pais aprovaram a ideia e Joana foi trabalhar para um supermercado.


Os primeiros 200 euros de salário serviram a Joana de desforra pelo que nunca pudera comprar. Depois de umas quantas roupas novas, e de marca, os restantes salários foram poupados a um máximo de 100 euros/mês. Mais era impossível.


Um ano passado sobre o começo da ‘jorna, o saldo da conta poupança jovem de Joana era de 1200 euros. Uma quantia que os pais sabiam resultar de um bom esforço do qual se orgulhavam bastante. Mas que um comum administrador de uma faculdade privada de qualidade diria servir apenas para pagar três meses de aulas.


Sem dramatismos, Joana continuou a sua escalada pelo mundo laboral. Conseguiu subir até ao patamar do telemarketing.
Horas e horas de auscultador colado ao ouvido e 300 euros no fim do mês. Nada mau pensou Joana por uns momentos até que a avisaram de dois senãos mensais. Segurança Social e IRS. O seu primeiro ano de isenção tinha acabado pelo que teria agora obrigatoriamente de pagar 92.86 euros para a "reforma" e deixar “retidos na fonte” 30 euros para as finanças. 122.86 "vicissitudes" do trabalhado independente. "Um escandalo", bradou o pai de Joana, sem saber a quem insultar por tal despautério.


O panorama estava longe de ser animador quando João, a cara-metade de Joana, surgiu em casa da rapariga com a proposta de emigrarem para a Suíça. Um primo seu, de férias em Portugal depois de uma jornada de seis meses de trabalho nos Alpes, prometia arranjar emprego para o casal num hotel na montanha. Trabalhariam nove horas diárias e ganhariam 1500 euros por mês. Hospedagem em quartos para o efeito na estância balnear onde o hotel estava localizado e refeições feitas lá mesmo, sem custos acrescidos. Não foi preciso fazer muitas contas. Com o dinheiro poupado Joana pagou a viagem de avião. E trocou os sonhos pelo ramo hoteleiro.






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[E, se calhar, a Joana fez muito bem... Mas essa é apenas a minha opinião]

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