(sobre o poder de uma carta bem escrita)
"Querida Emmi, na palma da minha mão esquerda, mais ou menos no meio, onde a linha da vida curva em direcção à artéria, intersectada por largas linhas em arco, se encontra um ponto. Olho para ele, mas não consigo vê-lo. Fixo-o, mas ele não se deixa agarrar. Só consigo senti-lo. Eu o sinto mesmo com os olhos fechados. Um ponto. Sinto-o com tanta força que fico tonto. Quando me concentro nele, o efeito chega aos dedos dos pés. Pica, faz cócegas, me aquece, me excita. Impulsiona o meu sistema circulatório, controla a minha pulsação e define os intervalos dos meus batimentos cardíacos. Em relação à mente, desenvolve um efeito inebriante como uma droga, aumenta a minha consciência, expande os meus horizontes. Um ponto. Eu poderia rir de alegria por me fazer tão bem. Poderia chorar de felicidade por tê-lo e por ser atingido por ele até ao mesmo ínfimo órgão. Querida Emmi, na palma da minha mão esquerda, onde se encontra o ponto, aconteceu esta tarde um contratempo, por volta das 16 horas, numa mesa de café. A minha mão quis pegar um copo de água. Ao seu encontro vieram os dedos esguios da mão macia de outra pessoa, tentaram travar, tentaram se desviar, tentaram evitar a colisão. Quase foi possível. Quase. A ponta suave de um dedo macio pousou em milésimos de segundo na palma da minha mão que ia segurar o copo de água. Daqui resultou um toque suave que eu guardei. Ninguém me vai tirá-lo. Sinto-te. Reconheço-te. Volto a reconhecer-te. É a mesma. É exactamente a mesma pessoa. É real. Você é o meu ponto. Dorme bem."
Emmi e Leo - A Sétima Onda | Daniel Glattauer