( empurrada )
[ por vezes, sem querer, acabo por pensar que isto de acreditar em algo é uma forma que encontramos de fugir à insanidade. munida de convicções e de verdades, encontro-me diante de mim mesma perplexa com a invalidade das mesmas. estou nauseada com a falta de amor, com o egoísmo e com a tendência escravizante dele. não há idade, doença, dificuldade que o ensine a ser alguém melhor. não. então, por vezes, sem querer, dou comigo a pensar que isto não tem solução. não há solução. estes são os dias e não posso fazer mais nada senão esperar pelo pior. sem querer, rejeito a esperança. a cada dia, a decepção aumenta. de que serve ter esperança? de que serve? tenho perdido, uma a uma, todas as esperanças que alimentei. não o posso dizer em voz alta. não o posso dizer diante da família. não o posso dizer diante dos meus amigos. não o posso dizer. mas tenho perdido, uma a uma, todas as minhas convicções. e sinto esta dor no peito. e sinto este aperto no coração. e sinto que tudo o que fiz, que abdiquei, que lutei e que trabalhei não valeu de nada. tenho dedicado os meus últimos dez anos a cuidar de alguém que não merece e que escraviza todos os que o cercam. ele é totalmente indiferente aos sentimentos alheios. mas sabe representar muito bem diante de quem quer agradar. todo ele hipocrisia e fingimento. e as pessoas acreditam. esta é a minha proveniência? por vezes, sem querer, queria ter o poder de recuperar todas as orações que já fiz e mudá-las. penso, penso constantemente: quem irá cuidar de mim quando eu estiver apodrecida pela vida? estou mais perto da insanidade do que se possa pensar. por vezes, sem querer, vejo-me diante do abismo. escuro e sem fundo. não salto. sou empurrada. ]