(desmembramento)
Apenas precisava de uma mochila.
Apenas precisava de uma mochila e de umas sandálias nos pés.
Apenas precisava de uma mochila, de umas sandálias nos pés e de um horizonte.
Queria poder abraçar o inesperado e romper com o rotineiro desmembramento das horas. Pés, olhos, mãos, vida, sonhos e o que vem depois? Há este sabor ácido a realidade e a destemperança. Há também árvores podadas e solo revolvidos. Onde há terra haverá, por consequência, colheita.
Apenas precisava de uma mochila e a terra entre os dedos. O sol como um rumo. Mochila, sandálias, horizonte, sol, horas, pés, olhos, mãos, vida, sonhos; e o que vem depois?
Há o insensato, o ruir das cartas, as paredes caiadas, o pó, a cinza. Há este pedaço de relvado e esta sombra no asfalto. Apenas precisava de uma mochila e de sentir os pés no asfalto. Os pés a queimar. Os pés que caminham. Os pés que caminham e entranham-se no andar. Os pés que levam aos olhos o decrescente do presente.
Terra, estrada, asfalto, rumo.
Uma mochila, umas sandálias, um sol, os pés, os olhos e de mãos dadas contigo.
Não olharíamos para trás.