(mulher)
Todos os anos eu escrevo praticamente a mesma coisa no Dia Internacional da Mulher. Escrevo para - sobretudo - relembrar que este dia tem um significado que está muito além do receber uma rosa, ouvir dizer "és uma mulher fantástica" e inflar o peito com jargões feministas. O Dia Internacional da Mulher serve para - infelizmente - marcar o extenso número de mulheres que, por todo mundo, ainda são vítimas de opressão. As realidades são muitas: violência doméstica, tráfico humano, prostituição, escravatura, mutilação genital, entre tantas outras coisas.
Neste dia, peço: não me ofereçam flores, não me mandem mensagens de mural a festejar, não digam o quanto sou excepcional por ser mulher. O objectivo do Dia Internacional da Mulher não é celebrar, trata-se de uma forma de protesto. É dar voz a quem tem a voz abafada pela fome, violência e miséria. Não nos escondamos por detrás do ecrã de computador achando que só porque há meios, tecnologia e condições de vida que isto é algo generalizado a todas as mulheres. Não nos deixemos submergir na superficialidade do facilitismo dos nossos dias. Esta opressão é ainda muito visível em vários países, como algo normal e aceite; mas também surge de maneira disfarçada no nosso quotidiano, na porta ao lado, na vizinha que sorri para não se matar. Está bem mais perto do que pensamos.
Se eu acho incorrecto o facto de se celebrar este dia? Não, não é exactamente isto. Entendam, ser mulher é sensacional. Mas a questão não é esta. A questão é que este dia é para lembrar o outro – o outro que sofre – e não para puxarmos o foco para o nosso ego. Mortifico-me por ainda ser necessário haver um dia para destacar a mulher. Sinto-me desassossegada por haver um dia que, em vez de forma de protesto, serve para o marketing e as vendas lucrarem. Incomoda-me que, este ano, este dia seja também dia de carnaval, porque como diz a frase “ninguém leva a mal” e devíamos levar a mal. Devíamos encarar como uma ofensa pessoal toda a podridão e toda a opressão que reina neste mundo.