(maravilhosa)
O dia foi lento. A lembrança dela tem me acompanhado. Tem estado comigo. Tenho pensado bastante nela. Cada vez mais. Soa-me a sua gargalhada. Parece que ainda ouço as suas palavras. É estranho, é muito estranho. Não entendo muito isto da ausência. Farto-me de escrever sobre isto. Sobre este efeito da passagem do tempo. Parece que foi ontem. Parece que foi há um século. Parece que nada aconteceu. O peso do facto permanece.
Parece que vejo-lhe os olhos. Atentos e inteligentes. Parece que nos engolia com a sua sabedoria.
Ela era verdadeira, íntegra e frontal. Absolutamente frontal. Isto – que hoje em dia está em desuso – agradava-me. Sempre hei-de apreciar as pessoas que são capazes de dizer aquilo que pensam de forma correcta e sem panos quentes. Aqueles que não assumem máscaras. E ela era assim. Ela emanava uma grandeza que vinha deste facto de ser verdadeira.
Sinto-lhe falta. Sinto falta dos seus conselhos. Sinto falta do seu senso de justiça. Relembro-lhe as mãos, tão calejadas e tão belas. Dedos longos e fortes. Sinto falta da sua presença, como que um farol ao qual todos recorríamos.
Assim, olho para esta quadra e sinto-lhe cada vez mais a falta. Os olhos doem-me de tanto lhe relembrar o rosto e os gestos. Tenho saudades do Natal que nunca cheguei a passar do seu lado enquanto nora. Acho que teria sido especial. Acho que teria sido inesquecível.
Perdoem-me quando não junto a minha voz àqueles que fazem humor com a figura da sogra. A minha era maravilhosa e sinto a sua falta.