( diminuído)
Tenho as sapatilhas e o casaco manchados de sangue.
Um homem caído no chão. Um homem que não se aguenta em pé. Chegamos em forma de auxílio. Dos olhos lhe escorrem lágrimas seguidas de miséria e de vazio. Os olhos não o traem. Não tem nada. Nem no olhar, nem nas mãos, nem na vida. Diz que queria ser diferente, que queria casar, que queria ter uma casa melhor, que queria encontrar um rumo. Os olhos prendem-nos em súplica por uma resposta que ele já conhece. Ele sabe qual é o caminho. Ele sabe. A boca pronuncia um discurso enrolado, de difícil compreensão. Uma fala arrastada. Uma fala que se estende entre o lamento e a revolta. A boca com sangue seco nos lábios. O corpo que estremece com a própria solidão. Eu seguro-o de um lado. O G. segura-o do outro. O homem fala entrecortado. Olha para o céu e pede para não contar nada para a sua mãe. E chora. Diz que quer tomar banho e esquecer. O homem exalta-se consigo mesmo. Chora. O homem sabe qual é o caminho, qual é a solução; mas não aceita, não quer.
Tenho as sapatilhas e o casaco manchados de sangue. E o coração diminuído pela miséria do mundo.