( espécies raras )
Secam-se as palavras na garganta. Sílaba por sílaba, entaladas. Sufoca-se a cada letra. A impossibilidade de verbalização é desértica. A impossibilidade de se fazer entender é opressiva. A impossibilidade de se ser, de expandir-se. Há uma ruptura em pequenas partículas de racionalidade o que afasta qualquer possibilidade de coesão dos sentimentos. As palavras fogem com a velocidade do incêndio. Queimam-se ideias, arrasam-se vidas e dizimam-se imensidões. O incêndio alastra-se e espécies raras de carinho são exterminadas pelo poder da palavra dita e da incompreensão da visão parcial.
A água pura. A água refrescante. A água torrencial do entendimento. A capacidade de ouvir e a capacidade de discernir levam ao fim do fogo posto. As letras, as sílabas, as palavras ganham vida e sobem pela garganta. Empoleiram-se ansiosas por voar. As palavras, relíquias da linguagem, unem-se para sair do deserto, para se afastarem do incêndio e para alcançarem estatuto de construtoras de futuro. Edificadoras.
Beije-se as palavras com a mesma paixão de quem beija a amada. Admita-se apenas como incêndio o ardor da palavra amor.