( tantas outras coisas )
Desencontro-me do sono. Não foi marcada a hora e a data certa, mas a sua chegada é um pressuposto. Os pensamentos agarram-se às pestanas. Seguram-lhes os movimentos e imobilizam o seu percurso natural. Dançam diante dos olhos. A mente produz e transforma em cenas e sequências o desenrolar dos acontecimentos. É desnecessário um desenho certo daquilo que é visível. O engano, quando existe, é por distracção. O desfecho é conhecido e pouco argumentável. Não é original. Antes, era esperado.
Desencontro-me do sono. Ou será que ele se perdeu no caminho? A luz é ténue, a noite é longa e o silêncio é um sinal estranho. Respirações colectivas e metódicas. Sonos selados pela casa. Ouço-os a todos. Ouço estas palavras junto com o ruído distante de um carro anónimo. Os pensamentos que caminham pelos corredores, sobem escadas e atravessam paredes. Atropelam-se. Esbarram-se. Enumeram-se. “Como vai ser?”, questionam sem trégua. Repetem-se: “Como vai ser?”. Soam a eco: “Como vai ser? ser?ser?ser?ser?ser?ser…
É possível amordaçar os ouvidos da mente fervilhante? É possível des-sentir a obviedade dos factos? É possível despejar toda a frustração dos gestos?
Seria um alívio silenciar o grito mudo do coração. Silenciar as palavras desnecessárias.
Desencontro-me do sono.
Desencontro-me de tantas outras coisas.