Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Receitas de Amor para Mulheres Tristes, Hector Abad Faciolince

29.02.16, a dona do chá

IMG_20160117_191645.jpg

 "Dás reviravoltas ao corpo e à imaginação para afastar a tristeza. Mas quem te disse que é proibido estar triste? A verdade é que, muitas vezes, não há nada mais sensato que estar triste; todos os dias acontecem coisas, aos outros e a nós, que não têm remédio, ou melhor, que têm esse antigo e único remédio de nos sentirmos tristes."

 

Uma leitura deliciosa e a razão não reside unicamente nas receitas descritas. A proposta de Hector Abad Faciolince com este livro é abranger uma série de receitas para maleitas resultantes tanto de razões físicas quanto de condições espirituais e sentimentais. Portanto, todo o livro é dividido por variadas receitas e para cada uma, acompanha uma história por detrás da receita em si. A escrita é poética e faz muitas vezes lembrar mezinhas e poções de tempos passados. Fiquei particularmente encantada com este pequeno e poderoso livro. Se for possível, deve ser lido devagar. Talvez uma receita por dia. Eu o li rápido demais e foi um erro. É um livro a ser degustado, saboreado, sorvido lentamente. Por isso, recomendo vivamente esta leitura, em pequenas diárias.

A propósito de não se gostar do que tudo mundo gosta.

15.02.16, a dona do chá

Um dia o inevitável momento acontece:  sentir-se só, em cima do palco, com a luz a dar directamente contra os olhos e tudo o que se enxerga é penumbra e sombras. Desconforto, imobilidade e exclusão.

Há sempre um preço a pagar pela autenticidade. E este é um excelente legado e lição para transmitir ao meu filho. 

 

Comprometida, Elizabeth Gilbert.

15.02.16, a dona do chá

IMG_20160126_190423.jpg

Promovido como a continuação de "Comer, Orar e Amar", a meu ver, descola-se um pouco do livro anterior. É verdade que este livro retoma a temática do relacionamento, ou o amor, que é a parte final do livro anterior mas o foco está na temática do casamento. Em traços gerais, Elizabeth Gilbert e o seu companheiro por terem nacionalidades diferentes foram impedidos de estar juntos em solo americano porque ele, em específico, é brasileiro e não tinha visto para permanecer nos EUA. Isso criou um impasse. Ambos não queriam nem ponderavam casar mas este imprevisto trouxe a questão à baila e para os dois a resposta pareceu mais do que natural: casar. Contudo, este não é um processo fácil para qualquer estrangeiro(a) que queira casar com um cidadão(a) americano(a). Principalmente, trata-se de um longo e cansativo processo burocrático.

Então, a história parte deste episódio do relacionamento de ambos e de todo o processo que tiveram de enfrentar até finalmente poderem dizer "enfim, juntos".  A dado momento, a parte pessoal do relacionamento do casal esbate-se no esmiuçar que a autora faz sobre a instituição "casamento".

Pode-se mesmo dizer que "Comprometida" é mais uma reflexão sobre o casamento em si, sobre o papel da mulher na sociedade e sobre a própria visão da autora. Elizabeth Gilbert fala na primeira pessoa e, muitas vezes, recorre à própria experiência das mulheres da sua família e de outras culturas. Não se nota uma pretensão de ser exaustiva ou de mostrar-se uma especialista no assunto. O que se depreende é um exercício de busca,  uma forma que a autora usou para que pudesse compreender a sua visão pessoal sobre o casamento e a sua reserva diante do compromisso. Este aspecto foi muito interessante e foi o que mais gostei neste livro.

Elizabeth Gilbert é uma boa contadora de histórias, então, a dado momento o leitor envolve-se nos relatos de viagens e nas suas reflexõe - até porque para cada reflexão, há sempre um episódio peculiar. Depois há o sentido de humor, algo muito presente na sua escrita e que é agradável.

Trata-se de uma leitura agradável e que, muitas vezes, emociona e faz surgir um sorriso nos lábios de identificação com aspectos da vivência e das dificuldades de se manter um relacionamento. 

Relendo Jane Austen. (1)

10.02.16, a dona do chá

No meu dicionário pessoal "Jane Austen" surge como um sinónimo de "Zona de Conforto". Sim, ler Jane Austen é um momento de total e completo prazer.  Por volta dos 15 anos li "Orgulho e Preconceito" e desde então o amor por esta escritora estabeleceu morada no meu coração. Sim, é piegas, mas verdadeiro. 

Como eu disse anteriormente neste post, reler Jane Austen era uma meta para 2015, mas não chegou a acontecer. Disse para mim mesma que não podia deixar de fazê-lo em 2016. Sentia dentro de mim uma urgência interior a respeito disto e comecei a questionar-me sobre o porquê. Por que cargas d´água isto é tão importante?

Como qualquer coisa que identifiquemos como zona de conforto, retornar a este ponto confere um sentimento de bem-estar. No caso da leitura, faz com que o olhar pouse sobre trechos e ideias que fizeram (e ainda fazem) sentido. É verdade que ler também é, muitas vezes, fugir da zona de conforto e sermos confrontados com o desconforto. E, com certeza, hei-de viver leituras assim ao longo do ano, que incomodam e mexem com as entranhas. De igual forma, há momentos que são assim: precisamos estar cercados de coisas que façam sentido. Momentos âncora.

A releitura inscrita na passagem do tempo permite estabelecer uma nova interpretação. Então, há o conforto de voltar a uma posição de reconhecimento de algo que me fez feliz mas também há uma reinterpretação do que foi lido. 

Vejam bem, eu li Jane Austen na minha adolescência, depois na juventude e agora vou relê-la na idade madura. Parece-me ser um processo natural. Algo elementar e essencial. Algo que tenho simplesmente de fazer.

Na realidade, já dei partida ao projecto, se é que posso chamar assim. Não estipulei nenhuma regra ou método. A ideia é ir lendo lentamente e reflectir sobre os temas abordados. Quase como um passeio cuja a única preocupação é desfrutar a paisagem. Comecei com "Sensibilidade e Bom Senso" mas na tradução brasileira, "Razão e Sentimento". Não o fiz com intenção de seguir a ordem cronológica de publicação das obras. Apenas senti vontade de começar por aí. As Dashwood têm me feito companhia neste dias chuvosos de inverno e não poderia ter escolhido melhor.

Os Miseráveis. (1)

08.02.16, a dona do chá

IMG_20160116_095100.jpg

Então, vamos finalmente falar sobre Os Miseráveis?

De uma forma geral... Victor Hugo arrasou comigo. Literalmente. Elevou de tal forma a fasquia que fui perseguida por uma vontade de voltar a classificar todas as leituras feitas anteriormente. As pessoas que me cercam foram massacradas pelo meu entusiasmo durante a leitura desta obra. Não conseguia falar de outro livro ou sequer pensar noutra história. A minha obsessão chegou a um ponto que durante um mês só conseguia ouvir o musical de Os Miseráveis. 

 

Jean Valjean é a grande figura deste livro, sem dúvida. Ele é o fio condutor através do qual toda a trama vai desenrolar-se. Jean Valjean, condenado a trabalhos forçados nas galés (por ter roubado um pão para matar a fome de sua irmã e sobrinhos) cumpre a sua pena e é posto em liberdade, mas passa a viver uma liberdade condicionada porque tem de se apresentar com periodicidade à polícia. Ninguém lhe dá trabalho nem sequer demonstra ter a menor misericórdia, como se apesar de ter cumprido a sua pena nunca perdesse a condição de criminoso. Ser um ex-condenado seria uma mancha da qual nunca conseguiria se livrar. Até que Jean conhece o Bispo de Digne e ele se vê diante de uma segunda chance para mudar de vida e recomeçar do zero.
O percurso de Jean Valjean é o motor do enredo mas, muitas vezes, o narrador muda totalmente o cenário, para centrar a atenção noutro personagem. Por muito que o personagem seja secundário, naquele preciso momento em que o narrador coloca o foco nele é como se o elevasse à condição de personagem principal. E esta é uma faceta deste livro que acho interessante destacar.

Muitas pessoas alertavam para o facto de que Victor Hugo divagava muito, que dedicava muitas páginas a longas descrições de factos e situações que seriam dispensáveis. Particularmente, achei estas descrições enriquecedoras. Não consigo imaginar o livro sem estas partes descritivas. Aliás, são nestes momentos em que a voz do narrador do livro é muito activa e este foi um dos aspectos de que mais gostei no livro. É como se Victor Hugo nos puxasse pelo braço com um suave "senta-te aqui comigo que eu vou contar-te algo que vai fazer com que entendas melhor os meus personagens".
De igual forma, o narrador tem momentos de reflexão sobre suas crenças e convicções. Tenho de admitir, estes momentos deixavam-me boquiaberta. Uma clareza de pensamento e uma perspicácia com a qual o autor enxergava a sociedade da sua época que, na sua essência, poderia bem ser aplicada aos nossos dias. Não é esta uma das características que torna uma obra um clássico? Penso que sim.
Foi muito estranho chegar ao fim de um livro, que me levou tantos dias de leitura e ser assaltada por uma necessidade imediata de releitura. Uma estranha sensação de que alguns detalhes teriam escapado. Sim, foi esse o meu primeiro sentimento, reler o livro. As últimas 100 páginas foram dolorosas porque eu não queria que o livro terminasse.


Concluindo, pode-se atribuir um tema a este livro? Até é possível, mas limitador. Se centrarmos a nossa atenção somente em Jean Valjean, pode-se dizer que é uma história sobre identidade, novas oportunidades, redenção e também sobre o poder do amor. Mas Os Miseráveis vai muito além disso. Toda a sociedade, no seu lado mais puro e no seu lado mais obscuro, está lá desenhada pelas palavras e mão de Victor Hugo.

 

Querer e conseguir.

08.02.16, a dona do chá

Há uma enorme distância entre querer e conseguir. Este ano estipulei o objectivo pessoal de ler os livros que eu já tenho na estante há algum tempo e evitar comprar novos. Ou, pelo menos, ler uma grande quantidade antes de comprar livros novos. O mais complicado é resistir a uma boa promoção. Também é muito complicado descobrir novos autores que se gostaria muito de ler (como a Elena Ferrante e Karl Ove Knausgard) e evitar uma possível compra. 

Tenho conseguido evitar mas querer é um sentimento tramado... 

Leituras de Janeiro.

08.02.16, a dona do chá

Na primeira quinzena do ano terminei a leitura de "Os Miseráveis" e tenho a dizer que foi INCRÍVEL. Tenho andado a "rascunhar" um texto sobre a obra mas tem sido difícil colocar em palavras a experiência de leitura deste livro que, sem sombra de dúvida, foi o melhor que eu li até hoje. Como falar de algo que é perfeito? A minha opinião diante deste livro parece ser algo minúsculo e insignificante. E o "pós-leitura" de "Os Miseráveis"...? Como conseguiria ler algo que chegasse aos pés desta obra? Conclui rapidamente que teria de algo bem diferente para poder ultrapassar esta ressaca. Uma decisão com bom resultado. Dediquei-me, então, a ler "Receitas de Amor para Mulheres Tristes" de Hector Abad Faciolince e outros dois livros da Elizabeth Gilbert: o "Comprometida" e "Grande Magia".

Em Janeiro também comecei a releitura de Jane Austen com "Razão e Sentimento" (sim, optei pela tradução brasileira), algo que tenho feito pausadamente - trata-se de uma releitura a ser degustada lentamente. Também comecei a ler juntamente com uma amiga "As Meninas" de Lygia Fagundes Telles;  está em andamento e tem sido complicada. São, a autora e esta obra, extremamente elogiadas mas realmente já pensei em desistir inúmeras vezes porque não tenho sentido qualquer empatia ou ligação ao livro. Para já, estou a persistir.