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Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Sessão do clube de leitura

24.06.15, a dona do chá

"— Dê o tiro — disse, com a mão no peito. — Não há maior glória do que morrer por amor"

Estou a fazer a uma releitura de "O Amor nos Tempos do Cólera" do Gabriel García Márquez para o clube de leitura. É uma alegria fazer isto. A escrita de Gabo é realmente especial. Há tanta poesia nas suas frases e, ao mesmo tempo, tanta objectividade. Escrever assim não é para qualquer pessoa.

Não sei se as minhas amigas irão gostar do livro, mas, pessoalmente, é um dos livros da minha vida.

Letters from Skye | Jessica Brockmole

24.06.15, a dona do chá

Após o Natal comecei a ler este livro porque soava ideal para uma leitura de fim de ano: um romance leve. Portanto, não me preocupei de pesquisar sobre o livro ou conhecer mais sobre ele; simplesmente comecei a ler. O resultado é que enganei-me redondamente. Este livro foi uma total surpresa. Acreditem, eu apenas esperava um livro bonitinho e leve, talvez induzida pelo título. Eu li a versão brasileira ("Querida Sue") mas quero futuramente ler na versão portuguesa ("Nove mil dias e uma só noite") - sim, ambos títulos traduzidos não fazem nada jus ao livro. Assim, a resumir numa frase, achei este livro belíssimo, de extrema delicadeza e profundo. Entenda, não é um livro complexo. Mas aborda os sentimentos, as motivações e as escolhas que fazemos na vida de uma forma muito verdadeira. Então, se procura ler um romance leve, esqueça, este livro não é para si.

Todo o livro segue o modelo epistolar. (Faço aqui este parênteses para dizer que encarei este facto, por si só, como uma vantagem - é um género que me agrada. Então, mais uma vez, se não gosta de ler cartas, esqueça, este livro não é para si.)

A história é contada através da troca de cartas entre várias pessoas em duas fases cronológicas: os capítulos intercalam entre a I Guerra Mundial e a II Guerra Mundial. Tudo gira em torno de Elspeth Dunn, uma poetisa escocesa, e David Graham, um estudante americano. Ambos não se conhecem mas depois da leitura de um livro de Elspeth, David toma a iniciativa de escrever-lhe e isto acaba por gerar uma amizade por correspondência. Cada um revela as particularidades de suas vidas e pensamentos. Encontros, desencontros, família, escrita, amor, casamento, escolhas, sofrimento, felicidade. A passagem dos anos, dos dias, das horas, e ainda assim, uma persistência em se ser verdadeiro a um sentimento e a uma escolha. E, em meio a tudo isso, todo um processo de cura de feridas guardadas.

 

Passados alguns meses de ter lido este livro, sinto uma leve saudade. É difícil encontrar um livro do qual se pode dizer "esta é uma belíssima história". E, confesso, a dado momento, eu me emocionava e ria na mesma proporção. Será com certeza um livro a reler. 

Não pode ser.

23.06.15, a dona do chá

Não pode ser. O pensamento antes da queda. A incerteza da antecedência. Não, não pode ser. A pausa iluminada pela ausência de som e de momento. Uma contagem sem fim do desconhecido. Não, não pode mesmo ser. Há uma totalidade de inacreditável, de intangível e de mornidão. Lágrimas, angústia, espera, descompasso, esperança e o sabor amargo da impotência.

Perder. Não pode ser.

Eu daria a minha vida por ti. Mas, não, não pode ser.

Doença.

18.06.15, a dona do chá

A compreensão da imperfeição é iluminada pela certeza da falibilidade. O senso de justiça, para si e para os outros, entra em erupção e transborda pelas veias do quotidiano. Não há nada a fazer quando não há nada a ser remediado. Quando um vaso é quebrado, os seus cacos nunca poderão ser reconstituídos à condição inicial. O problema não está na imperfeição, nem na fabilidade. O que importa alcançar é o foco (da doença?).

Pensamento solto.

16.06.15, a dona do chá

Assim, meio sem querer, o pensamento ganha as suas próprias asas e torna-se independente. Segue um rumo ao qual não lhe dedico muita atenção. Entre uma tarefa e outra, posso ouvi-lo. Lavo um prato e enxugo um prato e lá vai ele, pensamento, em corrida simples. Deixo-o andar, ele é uma criança: precisa do seu espaço. 

Recordações anónimas.

15.06.15, a dona do chá

Esta inútil consciência de que os gestos não são suficientes e de que cada dia reserva lugar ao imprevisto. É um movimento involuntário de desencontro entre as horas silenciosas em meio ao ruído circundante e um número de coisas sem sentido. Perseguir os segundos para refazer uma série de minutos. Despender cada volume de tempo para cumprir o dia até que venha a noite.

Um tic-tac, uma contagem invisível e as nuvens raiadas de cinzento que ocupam cada azul do céu. É audível a presença de crianças a brincar ao fundo da rua. Risos e gargalhadas: a vida em pés saltitantes. Um leve farfalhar das folhas e dos galhos e o pensamento de como isto é agradável. Há um inclinar das árvores à passagem das horas e ninguém dá por isso. Quase ninguém. Talvez porque ainda seja Primavera quando todos querem Verão. Apetece esquecer as convenções da normalidade social e fechar os olhos no mover de cada passo. Fechar os olhos para ver. Sentir este som atravessar o cabelo e criar novas memórias. Recordações anónimas de uma manhã como todas as outras.

Goodreads e metas.

12.06.15, a dona do chá

O Goodreads é a rede social que eu mais gosto. Lá tenho amigos, conteúdos sobre livros|autores e o mais importante é totalmente desprovido de estridência. É isso. No meu feed do Goodreads há um leve murmúrio. Visualizamos apenas o que os nossos amigos andam a ler e, eventualmente, uma questão a outra. De resto, parece aquele leve farfalhar da brisa entre as folhas das árvores. Valorizo esse sossego.

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A minha auto-proposta para este ano é a de ler 60 livros. Está lá registado no Goodreads. Mas é apenas uma meta e algo que me permite ter uma noção do que vou lendo. Nunca fui muito organizada e disciplinada no sentido de ir anotando o que vou lendo e quando. Não acho sequer que consiga ler metade, mas é construtivo ter esse registo. O importante é ler, sem muito stress quanto a números e objectivos. Para isso, já basta o trabalho nosso de cada dia.

Ler em formato digital ou em papel.

12.06.15, a dona do chá

Sim, tornei-me uma adepta do livro digital. Não, não abandonei o livro de papel. Por quê cargas d´água uma coisa tem de excluir a outra? Inclino-me mais pelo abraçar todas as formas que me levem ao fundamental: ler.

É verdade que há toda aquela magia de entrar numa livraria e de folhear páginas. É também verdade que há toda uma apreciação do tipo de papel, capa e diagramação escolhida para uma edição. Sim, há uma certa beleza em vaguear pelos corredores de uma livraria e refugiar-me a um canto a ler o primeiro capítulo de um livro. Continuo a participar desta magia. Mas trata-se de forma. Embora válida e relevante, o importante para mim é a essência, que é ler. Neste sentido, o meio digital tem sido um paraíso na minha vida. Dado o meu trabalho e ritmo de vida, se eu dependesse somente do livro em formato papel, eu leria talvez um livro por mês, se tanto. Graças ao formato digital posso ler em qualquer lado. Através do computador, do portátil, do telemóvel, do tablet ou de um ereader. 

Ler é o que me permite respirar. Não exagero quanto a isso. Quando fico algum tempo sem ler, o meu humor fica desestabilizado e os meus ombros parecem mais curvados. Sinto que os corredores da minha mente ficam empoeirados e sombrios. Num Fahrenheit 451 ou enlouqueceria ou seria uma resistente a esconder e decorar todos os livros que pudesse. A leitura é este espaço de sanidade e de liberdade que a minha mente precisa para respirar com regularidade e tranquilidade.

Reduzir a experiência de ler a um único formato é retirar à leitura e ao livro a sua grandeza. 

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