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Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

(Três Corações | 1)

06.04.14, a dona do chá

Impressões sobre a gravidez

- O começo -

 

Cinco dias antes do meu pai morrer, descobrimos que estávamos grávidos. Há um ano atrás, neste mesmo mês. A fazer bem os cálculos, a concepção teria acontecido por estes dias: fim de Março ou início de Abril. Pode-se dizer que a vida é curiosa e até um tanto irónica já que num mesmo mês concebemos, descobrimos a gestação e, por último, o meu pai partiu. Olhando bem para tudo o que aconteceu, enxergo o quão improvável seria isso acontecer. Haverá um valor estatístico para esta improbabilidade?

Sinceramente, eu só conseguia pensar "Porquê agora?". Não podia adivinhar que o meu pai morreria em tão pouco tempo embora soubesse que o seu quadro apontasse para a inevitável partida.  Mas nestas coisas a racionalidade só existe nos factos e não queremos aceitá-la tal e qual ela é; pelo contrário, queremos a racionalidade apenas para podermos entender os "porquês" que nos dilaceram o coração. Andava de braços dado com esta interrogação como se este abraço pudesse resolver tudo. Mas a verdade, crua e irrevogável, é que a única resposta que existe para o insistente "Porquê?" é um incontornável "Porque sim".

Deus dá, Deus leva. A vida dá, a vida leva - esta verdade simples é muito difícil de ser entendida.

Ainda hoje interrogo-me sobre o que eu poderia ter feito para o meu pai viver mais um dia e o porquê do meu pai não ter vivido para ver e conhecer o neto. As coisas não funcionam do jeito que queremos. Podemos e devemos sonhar, planear e lutar; mas certo é de que a vida não é prisioneira dos nossos desejos e anseios. Há tanta coisa que nos ultrapassa. Tanta coisa…

Quando eu olhei para a inscrição no teste, o resultado "grávida" já era uma realidade. Eu, intimamente, sabia; mas não queria saber. Ali, sozinha, com o teste nas mãos, facto confirmado, senti os meus lábios se torcerem num sorriso involuntário, incontrolável, transbordante. Não somos mais os dois que se tornaram um. A matemática da existência baralhou-se e agora somos dois que se tornaram um mas que vieram a ser três. Três corações.

"Tenho três corações a bater dentro de mim… Três…".

Três corações e um começo. 

(José Wilker)

05.04.14, a dona do chá

Quem segue as redes sociais encontrou hoje a notícia da morte deste grande actor.

Para mim, pelo menos, ele era grande. Quem cresceu a assistir o seu trabalho é quase impossível ficar indiferente.

Quando constato que ele tem a idade da minha mãe... ainda fico mais chocada.

Guardo-o num lugar muito especial do meu coração dedicado às personalidades que admiro.

(sobre as séries)

05.04.14, a dona do chá

Para quem seguia mais de 10 séries, basicamente tornei-me abstémia. À semelhança do que vivi relativamente às leituras no ano passado também quase que deixei de acompanhar as séries que seguia. Simplesmente enjoei. As únicas que actualmente acompanho são Modern Family, Downton Abbey e The Mindy Project.

Não quer dizer que eventualmente, durante um zapping, não veja um ou outro episódio de alguma série; mas, no geral, três chegam.

Devo salvaguardar que há por aí muitos projectos interessantes e que esta minha postura actual resulta de um processo pessoal. Concluí que é libertador não seguir tantas produções. A dado momento virou um hábito demasiado mecânico.

A única série que abandonei antes de iniciar este momento de "enjoo" foi Anatomia de Grey: o fim da temporada 8 não me convenceu e os primeiros episódios da temporada 9 tinham sabor de prazo de validade vencido: já devia ter acabado há muito tempo. 

(sobre as leituras)

05.04.14, a dona do chá

Como disse noutro post, ando a tentar recuperar o ritmo das leituras.

Ano passado foi árido nesta área: não havia espaço no meu coração para ler. 

Este ano tem sido diferente. A par das alegrias da maternidade, tenho lido bastante. Será maravilhoso encontrar nas minhas recordações destes dias de licença maternidade, a imagem do meu filho adormecido nos meus braços enquanto leio. O mais correcto é dizer: ler enquanto tenho o meu filho adormecido nos braços. Isto porque logo que ele abre os olhinhos, o livro fica de lado. Não quero perder um minuto destes dias com o meu pequenino.

(Três Corações | impressões sobre a maternidade | 0)

05.04.14, a dona do chá

(imagem retirada daqui)

 

Há alturas em que não se consegue deixar de escrever e noutras parece ser impossível. Não por falta de vontade. Simplesmente permanece assim um frémito de viver absolutamente imponderável. Uma incapacidade de colocar em linhas o que parece ser um turbilhão. Ao longo do ano que passou até agora passei muitas vezes pela necessidade de esmiuçar o que os meus olhos estavam a ver e o que o meu coração estava a sentir. Amiúde conseguia enxergar as letras e as palavras a caírem como gotas de chuva enquanto caminhava. Sem saber explicar bem, eu vestia um impermeável e abria o guarda-chuva - mesmo em dias ensolarados - e deixava-as tombarem no chão. Conseguia ler os textos que perseguiam os meus pés. Porquê não os levantei do chão? Porquê não lhes estendi a mão? Porquê não os carreguei nos braços?

Aparentemente, mostro-me impiedosa com os meus próprios pensamentos e sentimentos; como se renegasse o parentesco às minhas próprias palavras.

Não foi um acto de crueldade. Acabei por pretender uma pausa fundamental. Compreendo agora que a necessidade de viver, de ver, de depurar, de sentir, de entender e de não entender, de estar à margem era superior à acção de registar cada palavra que me surgia diante dos olhos. Às palavras a dançarem diante dos meus olhos e aos textos que pulsavam na minha mente, pedi gentilmente que esperassem com paciência. Tudo tem o seu tempo e hora adequada.

Às 37 semanas e 2 dias de gestação estava de pé, de guarda-chuva aberto, com as letras a pingarem aos meus pés. É verdade, que tinha algumas impressões registadas e alguma vontade de transcrevê-las. Pequenas frases. Mas somente agora fecho o guarda-chuva, dispo o impermeável e sinto-me preparada para regressar ao conforto de escrever: expressar o que tem sido a perda do meu pai e a alegria da maternidade.