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Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

(é preciso)

26.03.13, a dona do chá

"É a altura do ano em que a vida me bate sem descanso. É preciso resistir, inventar forças. Parece de propósito, um conluio em que as divindades me castigam, troçam de mim, da minha fraqueza, da minha ridícula ousadia. É preciso esperar pela altura em que voltarei a acreditar que um destino me pertence. Se conseguir lá chegar"


"Saudades de Nova Iorque", Pedro Paixão

(Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios)

22.03.13, a dona do chá

"Falamos, falamos, falamos. E mesmo assim faltou dizer tanta coisa. E escutar também. Ela nunca disse que me amava. Jamais ouvi de seus lindos lábios a sentença que pronunciei algumas vezes."

Este é daqueles livros que uma pessoa tem vontade de citar a cada frase lida. Se no ano passado, o livro que mais me marcou foi "A Chuva antes de Cair", penso que este "Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios" será um dos fortes candidatos de 2013 a preferido no meu coração. O mais curioso é que ambos os livros foram recomendados pela mesma pessoa.
Um livro para ser sorvido, pensado, sentido. Um livro de muitas intensidades. Houve um momento em que tive de fazer uma paragem na leitura tal era a intensidade dos sentimentos. Mas que não se pense que é um livro cor-de-rosa, com uma história de amor limpa e cândida. Não. Sobretudo, o livro trata do relato de um amor doído, difícil, visceral e que nos traga completamente para dentro de sua complexidade. 
Uma história que abrange todas as profundezas a que um ser humano pode mergulhar e afundar; na sua porção agonia, desespero, amor, desejo, esperança e paixão. Cauby e Lavínia serão, para mim, personagens inesquecíveis - pela sua natureza tão humana, tão falha e tão corruptível. 

(...)

22.03.13, a dona do chá

"Perguntei por que me escolhera.

Gostei do jeito que você me olhou, disse. Parecia que estava pedindo desculpas por me achar tão bonita.

Remova a poesia do que ela falou: eu a olhei na loja de Chang com uma fome que nunca senti por nenhuma outra mulher. Um episódio inaugural. E também fui olhado de uma maneira que ainda não tinha acontecido antes. Conhecê-la fez do passado um mero ensaio, um treino antes de ser exposto à sua incandescência."


"Eu ouviria as piores notícias dos seus lindos lábios", Marçal Aquino.

(...)

22.03.13, a dona do chá

"Vi mesmo que, falar assim francamente de um assunto que ele considerava inabordável – e vê-lo ser tratado com tanta liberdade – começava a dar-lhe um novo prazer, um alívio inesperado. As pessoas reservadas muitas vezes precisam discutir livremente seus sentimentos e aflições, muito mais do que as pessoas expansivas. Os que parecem estoicos também são humanos, afinal de contas, e “irromper” com audácia e boa vontade no “mar silencioso” das suas almas é, frequentemente, fazer-lhes um favor."
"Jane Eyre", Charlotte Bronte.

(...)

13.03.13, a dona do chá

Não posso esquecer que essas pequenas camponesas pobremente vestidas são da mesma carne e sangue dos descendentes da mais alta genealogia. Nos seus corações, assim como nos das pessoas bem-nascidas, podiam germinar os dons inatos da excelência, refinamento, inteligência e sentimentos elevados. Minha tarefa seria desenvolver esses dons. Com certeza eu teria algum prazer nessa missão. Não esperava muitas alegrias na nova vida que se descortinava para mim, mas se controlasse a mente e exercesse domínio sobre as minhas vontades, sem dúvida poderia viver dia após dia.


"Jane Eyre", Charlotte Bronte

(saudade urbana)

11.03.13, a dona do chá

Hoje acordei com uma infindável saudade de ouvir Legião Urbana. Então, o santo Youtube está a ajudar-me a matar saudades... 
Lembrei-me de ti, prima E. - tu és a pessoa que me fez amar este grupo e as suas letras fantásticas. Emocionei-me ao (re)ouvir "Índios" e me fez pensar que as músicas dos Legião Urbana ainda são tão actuais.
Para quem quiser conhecer e ouvir, há este show acústico completo. 

 

PS. Ao ouvir "Faroeste Caboclo" penso: como é possível esta música ser ainda tão significativa, tão gráfica e tão visual? Sempre que ouço, parece que estou a ler uma história de banda desenhada.

Bicentenário O&P #4 | Leitura Comparada Orgulho e Preconceito - Portugal (Capítulos 6 ao 10)

10.03.13, a dona do chá

LEITURA COMPARADA DE "PRIDE AND PREJUDICE" DE JANE AUSTEN NAS  SEGUINTES TRADUÇÕES:

"Orgulho e Preconceito" (Nuno Castro) E "Orgulho e Preconceito" (Lúcio Cardoso) | Capítulos 6 ao 10

 

Estes são capítulos muito interessantes porque vemos através deles, as reacções dos Bennet e dos Lucas aos novos vizinhos. Mr. Bingley pela simpatia e Mr. Darcy pela arrogância imperam no assunto de conversação entre as famílias e, principalmente, entre as mulheres. Jane Bennet é convidada a jantar com as Bingley e acaba por permanecer alguns dias em Netherfield por contrair um grande resfriado. Tal resultou de uma artimanha de Mrs. Bennet para fazer com que a filha pernoitasse lá e pudesse mais tempo na companhia de Mr. Bingley.  Elizabeth, preocupada com irmã, dirige-se a Netherfield e acaba por também ficar por lá a acompanhar a recuperação da irmã. Durante esses dias, decorrem diálogos extremamente interessantes entre os personagens. Permite-nos ver e compreender melhor a personalidade dos novos vizinhos e também ver, mais especificamente, a própria evolução dos sentimentos de Mr. Darcy por Elizabeth Bennet.

 

DIFERENÇAS 

EN | "Had she merely dined with him, she might only have discovered whether he had a good apetite (…)" P&P, chapter 6, pg 25

PT | "Se ela tivesse simplesmente jantado com ele, talvez tivesse descoberto apenas se era um bom garfo ou não" O&P, cap.6 , pg 16

BR | "Se ela tivesse apenas jantado com ele, poderia somente ter descoberto se ele tem bom apetite" O&P, cap.6 , pg 32

As expressões estão correctas mas confesso que tenho um fraco pela expressão "bom garfo". É uma expressão muito visual e sugestiva, que dá a entender alguém que usufrui um grande prazer em comer.

 

EN | "If I wish to think slightingly of anybody's children, it should not be of my own, however." P&P, Chapter 7, pg 32

PT | "Se eu quisesse criticar as filhas de alguém, certamente não seriam as minhas. " O&P, cap.7 , pg  20

BR | "Se eu quisesse menoscabar os filhos de alguma pessoa, decerto não escolheria os meus ." O&P, cap.7 , pg 40

 Ambas as traduções reflectem a ideia da expressão "think slightingly"; contudo, apreciei imenso a tradução brasileira e a adopção da palavra "menoscabar".  Eu desconhecia esta palavra. Experimentem pronunciá-la; a sua própria sonoridade indica, por si só, a ideia de desprezo.

 

 

DÚVIDAS

EN | "You make me laugh, Charlotte; but it is not sound (…)" P&P, chapter 6, pg 25

PT | "Fazes-me rir, Charlotte, mas nada disso faz sentido. " O&P, cap.6 , pg 16

BR | "Você me faz rir, Charlotte; mas a sua teoria não é sensata."O&P, cap.6 , pg 32

 

EN | "Mr. Darcy had at first scarcely allowed her to be pretty (…)" P&P, Chapter 6 pg 25

PT | "O senhor Darcy, a princípio, atribuíra-lhe pouca beleza." O&P, cap.6 , pg  17

BR | "A princípio, Mr. Darcy nem sequer tinha concordado com os que achavam que ela era bonita." O&P, cap.6 , pg 33

Nestas duas passagens acima transcritas, a tradução portuguesa fez mais sentido para mim.

 

EN | "The former was divided between admiration of the brilliancy which  exercise had given to her complexion, and doubt as to the occasion's justifying her coming so far alone. The latter was thinking only of his breakfast." P&P, Chapter 7, pg 36

PT | "O primeiro estava dividido entre a admiração pela resplandecência que o exercício imprimira à sua tez e a dúvida sobre se o acontecido justificava a sua vinda de tão longe. O segundo pensava apenas no seu pequeno-almoço. " O&P, cap.7 , pg 23 

BR | "O primeiro estava em dúvida sobre se devia admirar as belas cores que o exercício emprestara ao rosto da moça ou refletir que o motivo talvez não justificasse a sua vinda sozinha, de tão longe. O segundo pensava apenas no seu almoço." O&P, cap.7  , pg 44 

"Breakfast" é em português de Portugal "pequeno-almoço" e em português do Brasil "café-da-manhã". Todo o parágrafo indica que seria de manhã cedo e que estariam a tomar a primeira refeição do dia. Não percebi o porquê da opção da tradução brasileira por referir esta refeição como "almoço".

 

EN | "You have a sweet room here, Mr. Bingley, and a charming prospect over the gravel walk." P&P, Chapter 9, pg 46

PT | "Tem aqui uma sala muito agradável, senhor Bingley, e com uma vista muito agradável para a calçada. " O&P, cap.9 , pg  28

BR | "O quarto em que ela está, Mr. Bingley, é muito agradável e tem uma encantadora vista sobre a aleia principal." O&P, cap.9 , pg 55

Neste trecho ambas as traduções tem seus altos e baixos. Logo na primeira parte da frase, a tradução portuguesa parece exprimir melhor a ideia: penso que Mrs. Bennet refere-se neste fala a sala onde está a ser recebida por Mr. Bingley e não sobre o quarto onde Jane está acomodada. Contudo, a tradução brasileira mostra-se mais adequada na parte final da frase ao traduzir ""gravel walk" como "aleia principal" já que o termo "calçada" parece-me ser uma expressão moderna e urbana (por isso, aos meus olhos, não muito adequada ao contexto rural).

 

 

PREFERÊNCIAS

EN | "She has nothing, in short, to recommend her, but being an excellent walker." P&P, Chapter 8, pg 39

PT | "Ela não tem, em suma, nada que a recomende, além do facto de ser uma óptima passeante. " O&P, cap.8 , pg  24

BR | "Nada tem, em suma, que a recomende, senão ser uma excelente andarilha." O&P, cap.8 , pg 47

Este foi um momento único para mim porque não gostei de nenhuma das opções nas duas traduções para a expressão "excellent walker". Acho que ambos foram um pouco literais e empobreceram um pouco a ideia. Não seria em situações desta que se poderia ter uma certa liberdade na tradução?

 

EN | "'Whatever I do is done in a hurry', replied he;' and therefore if I should resolve to quit Netherfield, I should probably be off in five minutes. At present, however, I consider myself as quite  fixed here'." P&P, Chapter 9, pg 46

PT | "- O que quer que eu faça é sempre de um momento para o outro. - retorquiu ele. - E, portanto, se por acaso decidisse abandonar Netherfield, provavelmente partiria em cinco minutos. Contudo, de momento, encontro-me bastante estável aqui. " O&P, cap.9 , pg  28

BR | "-Tudo o que faço - replicou ele - é às pressas e, portanto, se resolvesse deixar Netherfield, eu o faria provavelmente em cinco minutos." O&P, cap.9 , pg 55

Apenas a destacar a supressão da última frase na tradução brasileira.

 

CONCLUSÕES:

Ainda é cedo para tirar conclusões profundas, mas a sensação que começo a ter com esta leitura comparada é que o nível de ambas traduções estão, até ao presente momento, muito equivalentes. O mesmo não aconteceu com a leitura comparada de Sense and Sensibility em que, no geral,  apreciei mais a tradução brasileira feita por Ivo Barroso.  A exceptuar um caso ou outro, o que tem prevalecido aos meus olhos é um baile de preferências. Ou seja, alguns momentos gosto da forma como a tradução portuguesa a descreve. Noutras prefiro a brasileira. Então, tem sido uma experiência equilibrada.

Quero voltar a reforçar de que não tenho qualquer pretensão de qualificar (ou desqualificar) qualquer uma das traduções. A intenção é apenas transcrever as dúvidas e apreciações do ponto de vista do leitor. No meu caso, uma leitora apaixonada por Jane Austen.

A ver o que reservarão os próximos capítulos...

(...)

09.03.13, a dona do chá

Ternura | Vinícius de Moraes

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar
                                                                                   [ extático da aurora.

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