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Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Bicentenário O&P #1 | Leitura Comparada Orgulho e Preconceito - Portugal

31.01.13, a dona do chá

LEITURA COMPARADA DE "PRIDE AND PREJUDICE" DE JANE AUSTEN NAS SEGUINTES TRADUÇÕES:

"Orgulho e Preconceito" (Nuno Castro) E "Orgulho e Preconceito" (Lúcio Cardoso)

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PRIMEIRAS PALAVRAS

Inicio com a Raquel esta nova aventura pelas páginas de Pride and Prejudice. Acredito que serão dias de imensa alegria e deslumbramento. Porque será que Jane Austen tem esta capacidade perpétua de deslumbrar? Não sei explicar. Reler Pride and Prejudice é uma sensação de lar, de me sentir em casa. De alguma maneira a sua escrita abraça-me e diz-me quase num sussurro que sou bem-vinda. Uma sensação de que todos os personagens estão à porta com sorrisos e mãos estendidas. É uma sensação extremamente boa.

Esta leitura comparada não tem pretensões académicas ou segue um método rígido. Nem sequer tem como intensão apontar erros. Não sou tradutora, nem sequer tenho formação na área de estudo de literatura inglesa. Então, gostaria de deixar claro de que esta leitura comparada resulta de um acto de amor pela obra e por Jane Austen; bem como o destacar das particularidades do português de Portugal e do português do Brasil. Em tempos de afirmação do Acordo Ortográfico (sobre o qual eu desacordo), é para mim um grande prazer ainda ter matéria de comparação entre a língua portuguesa utilizada em ambos países. Há tanta beleza nesta diferença…

Como escrevi anteriormente, o resultado da leitura será publicado por mim e pela Raquel ao fim de cada mês. Abordaremos cinco capítulos de cada vez. Ao longo desta leitura comparada também procurarei abordar alguns temas que suscitam a minha atenção através de alguns trechos preferidos.

 

O INÍCIO

Para começo de conversa, transcrevo o primeiro parágrafo da obra e verão que não há grandes diferenças entre as duas traduções. É seguro afirmar que o início de Orgulho e Preconceito é dos mais emblemáticos:

 

EN | "It's a true universally acknowledged, that a man in possession of a good fortune must be in want of a wife" Pride and Prejudice, pg 2

PT | "É uma verdade universalmente aceite que um homem na posse de uma fortuna avultada necessita de uma esposa" Orgulho e Preconceito, cap. 1, pg 5 

BR | "É uma verdade universalmente conhecida que um homem solteiro, possuidor de uma boa fortuna, deve estar necessitado de uma esposa" Orgulho e Preconceito, cap. 1, pg 9

Haverá alguém que fique indiferente a este parágrafo? Tomo a liberdade de dizer que esta afirmação prende o leitor por completo. Este e o parágrafo seguinte sempre me fazem lembrar um estilo meio teatral, algo meio ao estilo Shakespeare. Imagino sempre um narrador, em cima de um palco, a declamar: "Senhoras e senhores, é uma verdade universalmente conhecida…"  e, de seguida, surge o primeiro acto em que Mrs. Bennet e Mr. Bennet entram com o deliciosamente divertido diálogo sobre o novo vizinho, Mr. Bingley.

Dizer "é uma verdade universalmente conhecida" (opção de Lúcio Cardoso) é a opção mais usualmente utilizada. Mesmo no contexto de conversação é uma expressão usada correntemente. Nesta primeira frase, Jane Austen deixa bem claro um dos assuntos mais presente no livro: o casamento.

 

DIFERENÇAS

EN | "You take delight in vexing me. You have no compassion for my poor nerves." Pride and Prejudice, cap. 2, pg 4

PT | "O senhor tem prazer em arreliar-me. Não tem qualquer compaixão pelos meus pobres nervos." Orgulho e Preconceito, cap. 2, pg 6

BR | "Você se compraz em aborrecer-me; não tem nenhuma pena dos meus pobres nervos." Orgulho e Preconceito, cap. 2, pg 11

Ambas as traduções seguem o sentido da expressão original,  mas agrada-me que cada tradutor tenha utilizado um termo tão típico da sua nacionalidade. Em Portugal, o termo "arreliar" é corrente e acho que cai como uma luva na fala de Mrs. Bennet.


EN | "(…)and already had Mrs. Bennet planned the courses that were to do credit to her housekeeping, when a answer arrived wich deferred it all" Pride and Prejudice, cap.3, pg  10

PT |"E já a senhora Bennet tinha planeado os pratos que comprovariam os seus dotes de boa dona de casa, quando chegou uma resposta que deitou por terra todos os seus planos." Orgulho e Preconceito, cap. 3,  pg 9

BR| "Mrs. Bennet já tinha planejado os pratos à altura da fama da sua cozinha quando chegou uma resposta adiando tudo." Orgulho e Preconceito, cap. 3, pg 16

Neste trecho, encontro-me diante desta dúvida. Parece-me que "to do credit to her housekeeping" parece-me estar relacionado com a capacidade de governar bem uma casa, mais do que a qualidade da cozinha ou das refeições confeccionadas. O que faria com que a tradução portuguesa, neste aspecto, estivesse mais em consonância com o original. Contudo, a frase também indica que Mrs. Bennet estaria centrada em conceber os pratos a serem servidos, o que talvez explicasse o sentido ressaltado pela tradução brasileira, mais centrada na notoriedade dos jantares servidos por Mrs. Bennet. Na segunda parte da frase, destaco apenas a expressão "deitou por terra" por ser uma expressão bastante utilizada em Portugal.


EN | "Mr. Bingley was good-looking and gentlemanlike; he had a pleasant countenance, and easy, unaffected manners" Pride and Prejudice, cap. 3 pg 10 

PT | "O senhor Bingley era bem parecido e tinha um ar distinto, além de um semblante agradável e modos simples e francos." Orgulho e Preconceito, cap. 3, pg 9

BR| "Mr. Bingley era simpático e fino de maneiras. A sua aparência era agradável, os gestos, sem afetação" Orgulho e Preconceito, cap. 3, pg 17

O que eu gosto mais neste trecho é o destaque entre as diferenças do uso da língua em ambos países, principalmente na sua apropriação social e coloquial. Aparentemente, se alguém ler "good-looking" dirá que a tradução portuguesa estaria mais adequada isto porque traduz "bem parecido", o que destaca o aspecto físico de Mr. Bingley. Ou seja, ele seria bonito.  Enquanto que traduzir "good-looking" como "simpático" poderia parecer errado porque a simpatia tem a ver com o lado qualitativo do carácter, algo ligado mais aos sentimentos do que ao aspecto físico. Contudo, dizer "simpático" no Brasil pode estar ligado ao físico. É natural dizer que alguém é "simpático" no sentido de ser "bem parecido", alguém agradável à vista. Mais uma vez, não estou a colocar em causa nem justificar as opções dos tradutores, mas ao ler este trecho foi esta a interpretação que fiz do mesmo. Já que inúmeras vezes, lembro de aplicar o termo simpático da mesma maneira.

 

DÚVIDA

Reli esta frase várias vezes e confesso que fiquei extremamente confusa... Não vos parece que ambas dizem algo totalmente diferente entre si?

 

EN | "Lady Lucas was a very good kind of woman, not too clever to be a valuable neighbour to Mrs. Bennet." Pride and Prejudice, cap. 5, pg 19

PT |"Lady Lucas era uma mulher muito amável, mas não suficientemente inteligente para ser considerada uma vizinha preciosa para a senhora Bennet." Orgulho e Preconceito, cap. 5, pg 13

BR| "Lady Lucas era uma mulher de bons sentimentos cuja inteligência não era demasiado brilhante para impedir que fosse uma vizinha preciosa para Mrs. Bennet." Orgulho e Preconceito, cap. 5,  pg 26

De tal forma causou-me dúvida, que tive curiosidade em verificar nas outras traduções que tenho de Orgulho e Preconceito como o mesmo trecho foi traduzido. Gostei muito da opção feita pela tradução de José da Natividade Gaspar, na edição da Civilização Editora:

 

"Lady Lucas era uma senhora amabilíssima, embora não arguta bastante para que Mrs. Bennet a considerasse vizinha de grande valia", Orgulho e Preconceito, pág. 17 

 

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Nestes cinco capítulos, Jane Austen apresenta o núcleo da família Bennet, alguns habitantes da localidade e os novos vizinhos que vem habitar  Netherfield. E nisto vemos a subtileza da escritora ao desenhar a personalidade de cada um.

Anseio por continuar (a reviver) a observação dos personagens e também o percurso do trabalho de ambos os tradutores. Mal posso esperar...

 

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Update: A Leitura Comparada da Raquel:

Orgulho e preconceito · Leitura comparada Brasil-Portugal · Capítulos 1 a 5

 

 

 



Bicentenário O&P #0 | Leitura Comparada - Início do Desafio

30.01.13, a dona do chá

UM AMOR SEM FRONTEIRAS

Esta é uma semana de grande alegria para todos os fãs de Jane Austen espalhados pelo mundo. "Orgulho e Preconceito", a sua obra mais aclamada e acarinha, completou 200 anos de publicação. Desde o dia 28 de Janeiro, data da primeira publicação da obra, esse amor foi visível nas redes sociais, blogues e imprensa internacional.

Pessoalmente, tem sido com satisfação que olho para o meu feed do facebook e do twitter porque através dele posso constatar manifestações  de afecto e de amor por O&P através de textos, imagens e citações da nossa querida Jane Austen. Diante deste cenário, não consegui impedir uma íntima sensação de orgulho. Uma satisfação secreta por partilhar desta devoção. Sim, porque todas nós, com maior ou menor intensidade, vivemos momentos inesquecíveis com esta obra. Não posso deixar de emocionar-me com o facto de que esta obra tem sobrevivido e, sobretudo, tem alcançado a fama e a honra que merece.

 

A MINHA PRIMEIRA VEZ COM JANE AUSTEN

Esta foi a primeira obra que eu li de Jane Austen e também foi o primeiro livro que eu requisitei na Biblioteca (juntamente com "O Monte dos Vendavais" de  Emily Bronte) quando fiz o meu primeiro cartão de utente de uma Biblioteca Municipal. Não a conheci através de algum filme. Antes, li um livro que citava "Orgulho e Preconceito" e Mr. Darcy e fiquei absolutamente curiosa. Decidi, naquele momento, que era absolutamente imperioso conhecer o dito "Mr. Darcy" citado. Então, esta obra tem um carácter especial e profundamente importante para mim. Como sabem, a primeira vez é sempre marcante e nunca a esquecemos.

Quantas vezes ri às gargalhadas com Mrs. Bennet e com o Mr. Collins? Quantas vezes quis dizer meia dúzia de verdades à Lady Catherine de Bourg? Quantas vezes aconselhei mentalmente Elizabeth para não confiar em Wickham? Quantas e quantas e quantas vezes quase sacudi Darcy? "Darcy, assim não irás conquistar Elizabeth!", pensei. Há tantos momentos, ao longo da leitura deste livro, que gerou em mim inúmeras emoções que torna-se difícil catalogar cada uma.

 

LEITURA COMPARADA

 

A convite da Raquel Sallaberry Brião, do blogue Jane Austen em Português, faremos em conjunto uma leitura comparada de duas traduções de "Orgulho e Preconceito" e pretendemos fazer a primeira publicação amanhã, dia 31. Pretendemos também publicar no fim de cada mês o resultado da cada leitura ( 5 capítulos de cada vez). Assim, poderemos fazer com calma, apreciar cada linha e olhar com maior atenção e carinho o percurso da obra. A minha atenção estará centrada neste desafio/parceria que, acredito, me concederá bons momentos de reflexão. Desde já, reitero o meu agradecimento à querida Raquel pelo convite que me dedicou.

(365 palavras [2] edição)

15.01.13, a dona do chá

edição *
(latim editio, -onis, parto, publicação, representação, celebração, versão) 

s. f.
1. Acto de editar.
2. Conjunto dos exemplares que de uma vez se fazem da mesma obra.
3. Publicação literária.
4. Actividade de um editor.
5. Cada uma das realizações de um evento ou programa (ex.: edição da noite do noticiário, festival de edição anual).

 

Reler o que se escreve conduz inevitavelmente a uma constatação da imperfeição. Encontram-se erros que os olhos deixaram escapar. Conclui-se que se podia ter escrito bem melhor do que o resultado final demonstra. Sobretudo, que a emoção escondida entrelinhas não emergiu com a força pretendida. Volta-se a digitar, a martelar ideias nas pontas dos dedos. O cursor pisca com impaciência, em movimento crítico. O cursor é um contador  de segundos. Move-se e agita-se. Desfaz a aflição da expectativa. Todos estes caracteres imperfeitos conjugam-se nesta mancha negra que desenha o ecrã. Um bailado de revelações pouco óbvias mas reais. Mesmo quando ficcionadas. As palavras não se deixam escravizar pelo cursor, pelo fundo branco, pela sofreguidão; muito menos, pelos dias cinzentos. As palavras encontram libertação, mesmo que seja dentro da imperfeição. Editar é a admissão do erro. A busca pela redenção. 

 

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* Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

(chego aos 37)

05.01.13, a dona do chá

É estranho dizer que realmente sinto a idade que estou a completar. Acreditem, esta é a primeira vez que sinto isso. Tenho 37 e é estranho. Muito estranho. A estranheza de quem já tem alguma coisa para contar, nem que seja para si própria, e não sabe bem como ou sequer se valerá a pena. Começo a contar a vida por décadas e a somar alguns arrependimentos. Ter 37 é como olhar para retratos amarelecidos e perguntar "quem é mesmo aquela?". Quantos éramos e quantos somos agora? Chegamos sequer a ser?

A voz que viajou através do tempo, da distância, do espaço, por sobre as águas, a voz que chegou até mim e me ouviu; ele entende, em parte. Estamos a envelhecer e o Sr. Tempo é uma pessoa inflexível. Nunca volta atrás. Não faz pausas. De pés esfarrapados pela longa travessia, o Sr. Tempo não descansa e prossegue. Ele diz-me que tenho de seguir, tenho. Ele diz-me e toma-me as mãos e não deixa qualquer espaço para hesitações.

Tenho de continuar.

(norte e sul)

03.01.13, a dona do chá

"E em um outro dia, quando ela sorria sem se dar conta de algum pensamento que lhe viera à mente, um trabalhador mal vestido, de meia-idade, dirigiu-se a ela dizendo “Pode sorrir, minha querida. Muita gente sorriria se tivesse um rosto tão lindo.” Esse homem parecia tão sofrido que Margaret não pode evitar sorrir-lhe, como resposta, feliz de pensar que a sua aparência, assim como era, tivera o poder de despertar um pensamento agradável. Ele pareceu entender o olhar de compreensão dela, e um reconhecimento silencioso foi estabelecido entre os dois, sempre que o acaso os fazia cruzarem o caminho um do outro."

Norte e Sul, Elizabeth Gaskell

(madness)

03.01.13, a dona do chá

"I have finally seen the light

and I have finally realised what you mean

and now I need to know is this real love

or is it just madness keeping us afloat?"

Esta música é qualquer coisa... Quanto mais ouço mais fico a gostar dela. Parece que entranha-se na pele. 

(Bicentenário de "Orgulho e Preconceito")

02.01.13, a dona do chá

Neste ano comemora-se os 200 anos de "Orgulho e Preconceito". Mais uma vez, voltei a ter o privilégio de receber o convite da Raquel Sallaberry Brião do blogue Jane Austen em Português para uma parceria. Iremos fazer em conjunto uma Leitura Comparada de "Orgulho e Preconceito" em duas traduções: uma portuguesa e outra brasileira.

Anteriormente efectuamos a mesma acção, a propósito do Bicentenário de "Sensibilidade e Bom Senso" e foi uma aventura excepcional para mim. O meu amor por Jane Austen aumentou, sem qualquer sombra de dúvida.

Começar 2013 com Jane Austen no pensamento é um prenúncio de que terei muitos momentos felizes.

A publicação dos textos sobre esta Leitura Comparada será feita em simultâneo aqui e no blogue JAPT - Jane Austen Portugal, blogue no qual colaboro. De igual forma, também colocarei aqui a indicação para os textos da Raquel. Esta acção se entenderá ao longo de 2013. 

Tenho de dizer: este ano, será uma "verdade universalmente conhecida" que somente conseguirei pensar em Mr. Darcy. Indeed!

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