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Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

(sobre o poder de uma carta bem escrita)

28.11.12, a dona do chá

"Querida Emmi, na palma da minha mão esquerda, mais ou menos no meio, onde a linha da vida curva em direcção à artéria, intersectada por largas linhas em arco, se encontra um ponto. Olho para ele, mas não consigo vê-lo. Fixo-o, mas ele não se deixa agarrar. Só consigo senti-lo. Eu o sinto mesmo com os olhos fechados. Um ponto. Sinto-o com tanta força que fico tonto. Quando me concentro nele, o efeito chega aos dedos dos pés. Pica, faz cócegas, me aquece, me excita. Impulsiona o meu sistema circulatório, controla a minha pulsação e define os intervalos dos meus batimentos cardíacos. Em relação à mente, desenvolve um efeito inebriante como uma droga, aumenta a minha consciência, expande os meus horizontes. Um ponto. Eu poderia rir de alegria por me fazer tão bem. Poderia chorar de felicidade por tê-lo e por ser atingido por ele até ao mesmo ínfimo órgão. Querida Emmi, na palma da minha mão esquerda, onde se encontra o ponto, aconteceu esta tarde um contratempo, por volta das 16 horas, numa mesa de café. A minha mão quis pegar um copo de água. Ao seu encontro vieram os dedos esguios da mão macia de outra pessoa, tentaram travar, tentaram se desviar, tentaram evitar a colisão. Quase foi possível. Quase. A ponta suave de um dedo macio pousou em milésimos de segundo na palma da minha mão que ia segurar o copo de água. Daqui resultou um toque suave que eu guardei. Ninguém me vai  tirá-lo. Sinto-te. Reconheço-te. Volto a reconhecer-te. É a mesma. É exactamente a mesma pessoa. É real. Você é o meu ponto. Dorme bem."


Emmi e Leo - A Sétima Onda | Daniel Glattauer

(por causa da neblina e de um ponto luminoso escondido no céu)

27.11.12, a dona do chá

Acordei a pensar nas saudades que eu tenho do calor, da descontração, de usar bermudas jeans e havaianas nos pés, dos dias longos, do som das cigarras, do céu lilás dos fins de tarde, do barulho do mar, da maresia, de dançar sem pensar, do prazer da água fria, do cheiro a pinheiros e a eucalipto e a querer que a eternidade tivesse as cores e os aromas do Verão.

De repente, sinto-me irremediavelmente criança e sem as amarras do quotidiano. Jovem e livre.

(bem longe de ser austera 2)

26.11.12, a dona do chá

Isto do Inspira-me do Sapo, da austeridade, do facto de sonharmos com coisas que ansiamos possuir fez-me pensar na imensidão de coisas que gostaria de ter. Algumas até são simples. 

Acho que vou começar a fazer uma wishlist, porque assim pode ser que gradualmente eu consiga alcançar pequenos mimos para mim própria.

A crise é verdadeira e real. Mas se deixarmos de sonhar, onde iremos parar...?

 

(bem longe de ser austera)

26.11.12, a dona do chá

O que eu gostaria de ganhar no Natal?

Esta pergunta é muito fácil ...

Um mini Ipad.

E como o meu aniversário ocorre poucos dias depois... um Ipod também. 

Um duplo pack :)

Demasiado audaciosa para estes dias de austeridade? Com certeza... Mas posso sonhar, não posso?

 

Ps. Isto porque o Kindle Fire não está a venda em Portugal... :( Senão...

(ferocidade)

24.11.12, a dona do chá

...mas ela sabe que há o outro lado de si mesma. O lado da ferocidade. Devora cada página com a ansiedade de uma paixão incontrolável. Cada página é movida por dedos de vento que uivam e assobiam ao ritmo da chuva que derrama-se pela janela. A vela ilumina e aquece a noite. E ela enrola-se ao livro e despede-se da realidade. 

 

"Se me queres falar, se me queres dizer algo, se me queres conquistar, tens de fazê-lo através de tuas palavras de tinta e de papel.", ela pensa entre folhas e olhares.

 

As horas deste longo Outono, carregadas de folhas, ventos e rostos curvados ao chão cuidam de acolher a paixão. E ela não se queixa.

 

(discrição, pausa e moderação)

24.11.12, a dona do chá

Ela diz com olhos brilhantes que o livro é lindíssimo e não consegue conter o seu entusiasmo. Perde-se nas palavras, nas páginas, ouve os risos, o barulho do vento a uivar na janela e consegue até enxergar os penhascos. Ela está tão apaixonada pelo que lê que esquece o mundo ao redor. O verdadeiro antídoto para o desconsolo. Quando adormece, pensa no que leu. Sonha e vive. 

 

Quem a ouve não entende, não consegue perceber o porquê do seu entusiasmo. Algo inventado pode ter tanto poder assim? A felicidade pode estar ali, num conjunto de páginas? Talvez não, mas ela não quer pensar profundamente nisso. Pensar a felicidade, invalida-a.

 

Quando ela fala sobre a sua paixão, não é compreendida. Durante alguns minutos, a sensação é de frustração. A incompreensão é uma estrada solitária. Depois conclui que sempre seria assim, sempre soube que o seu caminho seria solitário, sempre soube que a sua caminhada seria marcada por este distanciamento. Eles não entendem e não vêm sequer a necessidade de tal empreendimento.

 

Eles não sabem, talvez nunca saberão, que alguns livros tem o poder de nos depir completamente ao revelar o que somos e até aquilo que não queremos ver em nós mesmos. Como é possível nos revermos num estranho/a como se fosse um espelho? Como é possível que aquilo que um desconhecido escreva possa partir uma pessoa em mil pedaços? Como é possível que haja esta comunhão de direcções? 

 

Eles não sabem, talvez nunca saberão - e a verdade seja dita, não estão minimamente interessados em saber - que ela não consegue ter a coragem de ler todos os livros do escritor que mais ama. Cada palavra que lê dele é uma mistura de revelação, dor e deslumbramento. A consciência de si própria não é algo a ser encarado com leveza. De forma que, ela tem tentado adiar o inevitável. Tem lido com discrição, pausa e moderação. Ao contrário de tudo o que lê, usualmente com sofreguidão. 

 

"Eu sei quem eu sou", ouço-a.

 

Eles não fazem a menor ideia.

 

 

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