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Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

(agora, neste momento)

15.01.12, a dona do chá

Ter 36 anos não faz de mim alguém melhor. É mais do que eu pensei poder alcançar. Bem mais. 

Ter 36 anos torna-me alguém consciente dos meus limites, estou bem perto deles. Bem perto. Demasiado perto.

Ter 36 anos ensinou-me a ver quem me ama de verdade. São poucos. Os verdadeiros nunca se esquecem de mim. Nunca. 

Ter 36 anos e estar em contagem regressiva.

 

Hoje não me sinto bem. Não costumo escrever assim tão claramente, mas hoje não me sinto bem. Nada bem.

Hoje não quero ser a pessoa que se preocupa com tudo e com todos. Não quero dar uma palavra amiga. Não quero ouvir. Não quero.

(não és)

15.01.12, a dona do chá

As palavras saem e perduram. Ganham vida própria numa realidade paralela. Aquela não é a realidade. Aquele não é o sistema. Aquelas não são as pessoas. Não pertencer é algo estranho e também perdura. De repente, esta realidade cai como um piano do alto de um prédio: um dia és, no outro dia não és nem sombra. 

(de repente, 36)

05.01.12, a dona do chá

Um dia de sol em véspera de Reis. Um dia de sol, quase primaveril. As pessoas andavam pelas ruas devagar, bem devagar. Absorviam cada centímetro de sol. Acredito que queriam carregar dentro delas aquele vestígio de calor. O sol tem esta capacidade de tornar-nos mais felizes e mais dispostos a viver. Posso estar enganada, mas pareceu-me que as pessoas que passavam na rua sorriram mais hoje do que ontem. Eu sorri também.

 

Um dia de sol e sorrisos ambulantes. Um dia de sol e, de repente, chego aos 36. Não posso deixar de dizer que olhar para a janela e ver o sol a emoldurar os meus olhos fez-me feliz. Escancarei as janelas e fiquei de rosto em encontro ao abraço da manhã. Apetecia-me tirar o avental do trabalho, sair pela porta fora e abordar a primeira pessoa que me aparecesse pela frente e dizer: “Bom dia, o meu nome é Cátia, faço hoje 36 anos; não acha que hoje está um dia esplendoroso?”. Apetecia-me assim conversar do nada e viver do nada e sorrir do nada e dançar do nada. Não apenas porque alcanço os 36 anos de idade, não apenas porque tratava-se de um dia de sol radiante, não apenas porque eu tenho pensamentos insanos, não apenas porque derreto-me diante de sorrisos plenos; não. Apenas porque encarar a beleza das pequenas coisas traz contentamento. Sobretudo porque viver o dia, cada dia, com encantamento é fundamental. Às vezes, viver a vida devia ser como num musical: cantar alegrias e tristezas e prosseguir a dançar diante do futuro. É verdade que os dias sombrios surgiram e surgem, mas não quero pensar nisso. Não quero lamber feridas. Rejeito a astúcia da tristeza. Aos 36, escolho abraçar o bom da vida e expurgar o que de menos bom aparece.

 

Um dia de sol nos dedos, nos olhos, nas mãos e no coração. De repente, é assim. São 36 anos e uma grande vontade de agarrar os dias nas mãos. O meu coração tem andado acelerado, demasiado acelerado. Mas, de repente, é assim mesmo. Tem que ser. Viver intensamente. Viver.

 

No sistema solar do meu universo pessoal tenho um sol, vários planetas, milhares de estrelas e número imensuráveis de satélites. O que seria da minha vida sem eles? Todos tornam o meu dia em algo primaveril e soalheiro. Todos eles fazem estes 36 anos valerem a pena.

 

De repente, em véspera de Reis, faço 36 anos. O dia esteve ensolarado. O coração acelerado. A beleza das pequenas coisas passou por mim... eu vi, vivi e viverei.