(em estilo facebook)
luto contra a minha própria natureza e é "muito complicado".
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luto contra a minha própria natureza e é "muito complicado".
a realidade, é que ela sofre há meses e poucos enxergam ou importam-se. com esta verdade, ela quebra qualquer teoria.
Ontem, recebi um email de uma pessoa querida deste mundo virtual dos blogues.
Ela partilhou comigo este texto (que abaixo transcrevo).
Emocionou-me porque me revi em cada palavra.
Emocionou-me o gesto dela.
Obrigada, Paula.
"Também escrevo para escapar à realidade dos dias, ao cinzentismo da profissão e à formalidade emproada do mundo em que me movo. Escrevo para infantilizar as horas e colorir a existência. Escrevo porque me recuso a ceder à ideia de que só as palavras retorcidas encontram eco em quem as lê, porque a confiança, o humor, a solidariedade, o Deus em que acredito, a beleza das pequenas coisas, a bondade dos gestos, a surpresa dos acasos têm o dom de me alegrar mais que uma garrafa de vinho, mesmo que seja alentejano, do bom, daquele que o meu pai abre às segundas-feiras quando reunimos a família à volta da mesa do jantar e eu tenho as minhas miúdas penduradas em mim a puxarem um "oh tia", cada uma para seu lado. Escrevo porque não cedo, porque a escrita pode ser depurante mas também pode ser encantatória, uma fotografia desfocada em tons suaves que apetece reter no ecran. Escrevo porque já todos falam de tudo o resto e eu já não tenho paciência para os ouvir, ou ler, quanto mais escrever. Escrevo porque prefiro mil vezes uma oração a um lamento, uma declaração de amor a um queixume traído, um sorriso a um esgar de desprezo solidário, uma nota de esperança a um panfleto revolucionário, um beijo nas mãos a um piropo usado lançado do passeio, uma frase bem escolhida a um lugar comum que já é dito em silêncio antes sequer de ser pronunciado.
E sim, às vezes é também por tudo isto que eu não escrevo."
"Use mornings of courage, light and optimism to draw the roadmap that will work in the darkness."
um raio, um lampejo, uma explosão, uma queda, uma pancada. qual seria a palavra certa para definir a tomada de consciência da inaptidão? a verdade, quando surge diante dos olhos, é inequívoca. a verdade, quando revelada, não há como voltar atrás. a verdade é a maior das ingratidões: não permite que se adormeça em devaneios.
um: quem pensas que és?
outro: ninguém. não sou ninguém.
Comecei a ler este livro de Rick Warren e vou fazer o percurso de 40 dias. Vou fazer apontamentos aqui.
estarei a ser adolescente aos 35 anos? será o reverso do crescimento? o crescente do descrescente?
há momentos em que penso em desistir de escrever no blogue e de fazer parte de redes sociais. lembro-me de ver ontem uma pessoa querida falar sobre isso no twitter e me reconheci nas palavras dela. fez-me pensar. chega uma altura em que questionamos "afinal, vale a pena?". sempre defini para mim própria de que valeria a pena enquanto, de alguma forma, escrever e participar em redes sociais for algo enriquecedor. é verdade que, pelo caminho, ficam chatices, decepções, brutalidades e indelicadezas; mas há o outro lado: a gentileza, a doçura e o construtivismo.
para mim, particularmente, há o aspecto de fazer sentido. há alguns anos que tenho blogue e sempre fez sentido. mesmo quando não escrevia. mesmo quando duvidei. mesmo quando quem me lê não entende nada do que estou a dizer (e, muitas vezes, a escrita tem isto de intencional - fazer sentido somente para mim).
tem sido um refúgio. um espaço de plenitude. tem deixado de ser. porque um dos grandes problemas que sinto é a auto-censura. não posso dizer tudo o que penso e é triste. tenho experimentado uns meses de incompreensão. acaba por ser uma continuidade do que tenho sentido no dia-a-dia: um deslocamento e uma inadaptação.
a voz ordena a escrita, grita. a voz ordena que seja dito, insiste. a voz, a voz, a voz. a escrita, a escrita, a escrita. tens de escrever. tens. tem de ser. não pode ser. dizer o que não deve ser dito. dizer o que se pensa. dizer as lavas do coração em chamas. escrever e dizer. dizer e falar. falar e ouvir. ouvir e ferir. ferir e sofrer. não escrever e não dizer e não falar e não ouvir e não ferir e sofrer. espremer a normalidade e vestir a certeza de que nem tudo pode ser dito, nem tudo pode ser ouvido, nem tudo. o sacrifício da normalidade. a queda das palavras. o abismo do silêncio. se nada é dito, se nada é falado, se nada é escrito, nada acontece. como explicar esta miserável convulsão do pensamento? como se faz para viver?
a voz ordena, extende, empurra. à voz, dedica-se a inacção. desobediência. revela-se a auto-mutilação em proveito da preservação dos afectos.
devolva-se os hieróglifos e concretize-se a escrita. materializar a fala. abrir o coração. conquistar a liberdade.