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Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

( cor, relevo e textura )

27.06.11, a dona do chá

a cor dos dias não possui uma margem de variação. a cor é primária e sem mistura. sem subtilidade. a cor dos dias é assim quase que uma ausência de cor. sinto esta ausência com o peso das coisas não vividas. a certeza do que não irá acontecer. quando vês que a tua esperança é esmagada pelo imperativo da realidade a vida perde todas as cores e as formas ganham o relevo de dureza. a cor dos dias, por estranho que pareça, tem textura. E é aspera.

(Before Sunset 1)

25.06.11, a dona do chá

 

Vi "Before Sunset", finalmente. Assisti "Before Sunrise" há alguns anos e o revi milhares de vezes. Tinha uma enorme curiosidade de ver o que reservava a continuação do filme. Não decepcionou. Pelo contrário. Adorei. Pareceu-me que os diálogos do primeiro filme são mais interessantes do que neste, mas há um jogo entre angústia e esperança em alguns diálogos de "Before Sunset" que me captivaram.

 

 

(pés inchados #3)

22.06.11, a dona do chá

Estou cansada que me digam para ter paciência. Não a tenho. Não a quero. A paciência só traz benefício para quem dela usufrui. E esta pessoa é sempre outra. A vida é assim: não há paciência para ela. Não a tenho. Não a quero. Não é fácil. Não é fácil ter paciência. Vivo esta sucessão de quedas. Levanto-me sempre. Esta queda, porém, enfraqueceu-me. 

O que estava para vir, veio. E não há paciência.

(pés inchados #2)

20.06.11, a dona do chá

o cansaço também destrói, pouco a pouco. começa a entranhar-se nos ossos e faz-nos esquecer a idade que temos. as convicções enfraquecem. não há nada mais corrosivo para a sobrevivência. o cansaço come a alma mais rápido do que se possa pensar. 

 

a incerteza sempre levanta uma réstia de esperança. mas a certeza do que vai acontecer é letal. não há alternativa. não há saída. não há escolha. 

 

"esta é a tua vida, engole-a". 

( pés inchados )

20.06.11, a dona do chá

eu poderia dizer que é um problema de fases. que esta é uma fase e que vai passar. acontece-me, porém, de estar cansada de pensar isto: os momentos bons é que acabam por serem fases. cansei de pensar na legitimidade disto. aliás, cansaço é uma boa palavra - não pela sua natureza mas, sobretudo, porque define por completo o meu estado de alma. a única coisa que posso fazer é esperar. não há nada, ao meu alcance, que faça mudar as circunstâncias. nada. tenho de esperar. a paciência nunca foi uma virtude que estivesse cravada no meu coração. nem a resignação. no entanto, vejo-me neste ponto de situação: não posso fazer nada, tenho de esperar e o cansaço corrói-me.

( a pergunta e o espanto )

14.06.11, a dona do chá

- E o que vais fazer? E tu vais conseguir arranjar trabalho? - questiona, muito espantado.

Não saberia dizer o que a ofendeu mais: a questão ou espanto do ponto de interrogação. Não saberia dizer quantas vezes teria ouvido estas insinuações e estas perguntas neste tom, desta natureza e com este tão pouco respeito. Não saberia dizer se o que a magoava mais seria ele não acreditar no seu valor ou ela não encontrar em si talento, dom e realidade. Se ela olhasse no espelho será que veria a sua imagem reflectida ou a cravada nos seus olhos a palavra fracasso. Era capaz de partir o espelho para não ter de enxergar a realidade da pergunta e a dor da resposta.