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Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

(aprender a voar)

30.12.10, a dona do chá

regresso com braços largos. regresso depois da partida. depois de ter entrelaçado nos dedos este céu de pó e de riscos. depois de atirado para fora os desperdícios do pensamento. regresso mas não sei se cheguei. não sei sequer se parti. acumulo as horas e os dias de sentimentos apartados. não os encontro. alguma vez os tive? terá sido uma ilusão ou um desfoque cardíaco? o coração bateu mas não bombeou sangue suficiente? faltou algo? falta algo? falta tudo? regresso com braços cheios de interrogações. com os olhos desnudados de sentido. com as mãos desconcertadas de desencontros. o peito a bater distorcido de sequência. dói como uma pisadura. dói de forma ininterrupta, certeira e metódica. desconheço-lhes os rostos. quem são eles? desconheço-lhes os nomes. de onde são? não compreendo o que dizem. será que falam outra língua?

 

não sei se regresso, se parti, se estou e se sou alguém. ando surda de tanto ouvir o meu peito a bater. ando cansada de sentir. queria abrir a janela e aprender a voar. ir bem longe. e saber que parti.

(coordenadas)

28.12.10, a dona do chá

afasta. corre. vê. não vê. não entende. sente e não quer sentir. não sente e não compreende. escurece. esfria. horas que voam. horas que não voltam. será lua, será sol, será horizonte? olhos que doem. olhos que salgam. o mundo está demasiado longe do coração. o sentimento inexiste. a ilha é a ilha. a ilha é o lugar. a ilha é o ponto exacto no mapa. e o mapa,  este,  não contém coordenadas. uma ausência de direcção.

se fosses barco saberias o que isso significa.  se fosses mar não faria diferença. se fosses vento empurrarias o barco e encararias  o mar. olhas para cima. olhas para o céu. olhas para as tuas mãos e entendes que te transformaram em ilha. és uma ilha. estás cercado de ausências. para que serve ter um mapa?

(maravilhosa)

22.12.10, a dona do chá

O dia foi lento. A lembrança dela tem me acompanhado. Tem estado comigo. Tenho pensado bastante nela. Cada vez mais. Soa-me a sua gargalhada. Parece que ainda ouço as suas palavras. É estranho, é muito estranho. Não entendo muito isto da ausência. Farto-me de escrever sobre isto. Sobre este efeito da passagem do tempo. Parece que foi ontem. Parece que foi há um século. Parece que nada aconteceu. O peso do facto  permanece.

Parece que vejo-lhe os olhos. Atentos e inteligentes. Parece que nos engolia com a sua sabedoria.

Ela era verdadeira, íntegra e frontal. Absolutamente frontal. Isto – que hoje em dia está em desuso – agradava-me. Sempre hei-de apreciar as pessoas que são capazes de dizer aquilo que pensam de forma correcta e sem panos quentes. Aqueles que não assumem máscaras. E ela era assim. Ela emanava uma grandeza que vinha deste facto de ser verdadeira.

Sinto-lhe falta. Sinto falta dos seus conselhos. Sinto falta do seu senso de justiça. Relembro-lhe as mãos, tão calejadas e tão belas. Dedos longos e fortes. Sinto falta da sua presença, como que um farol ao qual todos recorríamos.

Assim, olho para esta quadra e sinto-lhe cada vez mais a falta. Os olhos doem-me de tanto lhe relembrar o rosto e os gestos. Tenho saudades do Natal que nunca cheguei a passar do seu lado enquanto nora. Acho que teria sido especial. Acho que teria sido inesquecível.

Perdoem-me quando não junto a minha voz àqueles que fazem humor com a figura da sogra. A minha era maravilhosa e sinto a sua falta.

( diminuído)

17.12.10, a dona do chá

Tenho as sapatilhas e o casaco manchados de sangue.

 

Um homem caído no chão. Um homem que não se aguenta em pé. Chegamos em forma de auxílio. Dos olhos lhe escorrem lágrimas seguidas de miséria e de vazio. Os olhos não o traem. Não tem nada. Nem no olhar, nem nas mãos, nem na vida. Diz que queria ser diferente, que queria casar, que queria ter uma casa melhor, que queria encontrar um rumo. Os olhos prendem-nos em súplica por uma resposta que ele já conhece. Ele sabe qual é o caminho. Ele sabe. A boca pronuncia um discurso enrolado, de difícil compreensão. Uma fala arrastada. Uma fala que se estende entre o lamento e a revolta. A boca com sangue seco nos lábios. O corpo que estremece com a própria solidão. Eu seguro-o de um lado. O G. segura-o do outro. O homem fala entrecortado. Olha para o céu e pede para não contar nada para a sua mãe. E chora. Diz que quer tomar banho e esquecer. O homem exalta-se consigo mesmo. Chora. O homem sabe qual é o caminho, qual é a solução; mas não aceita, não quer.

 

Tenho as sapatilhas e o casaco manchados de sangue. E o coração diminuído pela miséria do mundo.

(viciadas em séries 5)

11.12.10, a dona do chá

Tenho actualizado a visualização das minhas séries preferidas.

 

Por enquanto, acho que Anatomia de Grey está no bom caminho. O desenrolar do trauma da Cristina está a ser bastante interessante. É bem diferente ver uma Cristina fragilizada e sofrida. Trata-se de uma grande actriz.

 

Continuo a achar a Meredith a personagem menos interessante de todas.

 

 

 

(certezas - para já )

11.12.10, a dona do chá

Neste blogue, este ano, não encontrará imagens alusivas a quadra em vigor. Já tentei ser mais flexível, mas chega uma altura que o que tem de ser, tem de ser. E, para já, o Natal não desperta em mim qualquer tipo de emoção.