(Crónicas do Rio 1)
Olho para ele, do outro lado. Um vidro, um brilho, uma estranha e nova distância. Ouvir-lhe a voz e vê-lo ao longe causa-me um novo tipo de vazio. Como se me arrancassem algo e eu sentisse o vento a trespassar-me. Reuno os meus pensamentos e desencontro-me de mim mesma. Afastar-me dele, mesmo que temporariamente, é entrar neste lugar de ausência.
Levanto e caminho, então.
O balanço aéreo incomoda-me como uma suspeita de naúsea e como um sintoma de medo. Os argumentos racionais e as provas factuais não afastam esta apreensão. Parece ridiculo e patético. Até é. Todos temos um pouco disto, de ridículo e de patético. E todos, sem excepção, temos os nossos medos. Reservo-me ao direito de tê-los e ao dever de combatê-los.
O tempo arrasta-se pelas nuvens. Infindável. A câmera parece ser ainda mais lenta do que é. Não sei mais por onde hei-de contar as horas. A coluna reclama, a garganta seca e a impaciência adensa-se.
Entretanto, o fim sempre surge. Surge um ar que eu não reconheço, alguns corredores e uma série de placas informativas. Papel, documentos, espera e saída. Será esta a saída?
De repente, uma criança vem na minha direcção. Que abraço tão bom! Que sorriso tão puro! E outra criança com flores nos braços! E mais outra! E tantos rostos queridos e conhecidos. Atordoada, abraço e choro e relembro e abraço e choro e beijo e abraço e choro e sorrio e abraço e choro e agradeço e abraço e choro e digo que amo. Uma sensação que atravessa a alma. Inexplicável.
É um mistério, mas a chegada será sempre o auge de qualquer caminhada.