( Um abraço cheio de nada )
Um abraço. Um abraço para transmitir solidariedade. Um abraço para transmitir carinho. Um abraço para transmitir amizade. A dimensão de um abraço não se esgota na extensão de um braço. A capacidade de abraçar não é unicamente física. Num abraço colocamos um pouco de alma. Quando abraçamos estamos a indicar que os nossos ombros estão dispostos a recolher as lágrimas e a proteger a pessoa dos olhares indiscretos. Um abraço contém a circularidade dos afectos. Abrigamos e guardamos os sentimentos do outro. Um abraço pode ser um porto de abrigo, mas não resolve os problemas.
O abraço é dado. As palavras são ditas. O olhar de encontro ao olhar é afirmado. Mas, no fim, quando a pessoa roda os próprios pés e volta para o seu inferno particular o abraço, as palavras e o olhar caem pelo chão e não servem para nada. Nada. Absolutamente nada.
Esta é a grande frustração de quem entende que a sua função no mundo é dar afecto, ser humano, consolar e ajudar os que sofrem. A inexpugnável frustração de ver uma vida completamente em pedaços e não poder nada de concreto. Nada. A pergunta persiste: "Deus, que posso fazer? Como posso ajudar? Como ir para casa e saber que aquela pessoa está em pedaços e eu não posso fazer nada?". A frustração e a impotência é pungente. Visceral.
É preciso manter os olhos e o coração atento para ouvir. É preciso colocar os pés ao caminho e procurar respostas. Se a estrada se faz enquanto se anda, haverá em algum lugar, de alguma forma, uma solução. Uma série de soluções. Mesmo que se trate de pequenos passos. Deus nos dá esta capacidade de olhar para cada pessoa como se fosse parte de nós. Somos responsáveis uns pelos outros. Somos responsáveis por todos aqueles que sofrem.
O lamento de quem realmente sofre deveria ser o alarme mental que nunca nos deveria deixar descansar. Não há tempo para descansar. Não há tempo a perder. É preciso direccionar esforços e palavras para juntar os pedaços de quem a vida resolveu quebrar.