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Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

( Um abraço cheio de nada )

25.10.10, a dona do chá

Um abraço. Um abraço para transmitir solidariedade. Um abraço para transmitir carinho. Um abraço para transmitir amizade. A dimensão de um abraço não se esgota na extensão de um braço. A capacidade de abraçar não é unicamente física. Num abraço colocamos um pouco de alma. Quando abraçamos estamos a indicar que os nossos ombros estão dispostos a recolher as lágrimas e a proteger a pessoa dos olhares indiscretos. Um abraço contém  a circularidade dos  afectos. Abrigamos e guardamos os sentimentos do outro. Um abraço pode ser um porto de abrigo, mas não resolve os problemas.

 

O abraço é dado. As palavras são ditas. O olhar de encontro ao olhar é afirmado. Mas, no fim, quando a pessoa roda os próprios pés e volta para o seu inferno particular  o abraço, as palavras e o olhar caem pelo chão e não servem para nada. Nada. Absolutamente nada.

 

Esta é a grande frustração de quem entende que a sua função no mundo é dar afecto, ser humano, consolar e ajudar os que sofrem. A inexpugnável frustração de ver uma vida completamente em pedaços e não poder nada de concreto. Nada. A pergunta persiste: "Deus, que posso fazer? Como posso ajudar? Como ir para casa e saber que aquela pessoa está em pedaços e eu não posso fazer nada?". A frustração e a impotência é pungente.  Visceral.

 

É preciso manter os olhos e o coração atento para ouvir. É preciso colocar os pés ao caminho e procurar respostas. Se a estrada se faz enquanto se anda, haverá em algum lugar, de alguma forma, uma solução. Uma série de soluções. Mesmo que se trate de pequenos passos.  Deus nos dá esta capacidade de olhar para cada pessoa como se fosse parte de nós. Somos responsáveis uns pelos outros. Somos responsáveis por todos aqueles que sofrem.

 

O lamento de quem realmente sofre deveria ser o alarme mental que nunca nos deveria deixar descansar. Não há tempo para descansar. Não há tempo a perder. É preciso direccionar esforços e palavras para juntar os pedaços de quem a vida resolveu quebrar.

(o entretanto )

23.10.10, a dona do chá

conheces este silêncio? esta aragem que se mistura a névoa da noite? conheces este início reticente de frio? conheces esta pausa? conheces este hiato entre uma coisa e outra? este entretanto? é a aparente calma que assusta.

 

- pensa no silêncio, na aragem, na névoa, no frio, na pausa, no hiato, no entretanto e na aparente calma. e já tem muito em que pensar. -

 

descoordeno-me ao ritmo das horas e da contagem dos minutos. cada fôlego é um reinício e cada reinício é um confronto. não sei entender, confesso. não sei entender o rumo dos pés. não sei descodificar o timbre da voz. páro, olho e escuto.


(intensidades sucessivas)

20.10.10, a dona do chá

"Leste o meu coração? Não leste?" - questiona-me ela. Não é o coração feito desta matéria absurdamente intrigante (?): sentimentos, emoções, pensamentos, brilhos e faíscas. O coração, muitas vezes, trai os olhos. Os olhos revelam-se e o coração dilata-se. Este órgão de fogo e de intensidades sucessivas! Amiga, não nos lemos uns aos outros?

( Hillsong Conference Europe 2010 #3 )

19.10.10, a dona do chá

"Civility"

 

Para quem lê clássicos ingleses, principalmente Jane Austen, encontra com frequência o termo "civility". A tradução literal para o português seria "civilidade".  Uma palavra que tem uma sonoridade estranha para mim, já que não o usamos com regularidade. Usamos com mais frequência o termo "civil" ou "civilizado". Convenhamos que raramente falamos em "civilidade".  O dicionário diz-me que civilidade é "um modo de se corresponderem as pessoas bem-educadas; cortesia, etiqueta". No fundo tem a ver com ser bem-educado no sentido das boas maneiras. Concluo que talvez, por isso, não usemos tanto o termo "civilidade". Por que - permitam-me - de civilidade a nossa sociedade tem muito pouco. Está em total desuso ter civilidade. Quanto mais embrutecido, grosseiro e inconveniente melhor.  Infelizmente.

 

Destes dias em Londres, devo confessar, a dita "civility" derreteu o estereótipo sobre os ingleses. Na minha cabeça prevalecia uma imagem de certa distância e frieza. Constatei o oposto. Nem estou a me referir às pessoas que estavam presentes na Conferência da Hillsong (estas até pareciam latinas de tão calorosas). Refiro-me às pessoas anónimas nas ruas. Todos eram extremamente solícitos, corteses e gentis. Por isso, nunca gostei de estereótipos. Raramente são correctos e comummente induzem em erro.

 

Em Jane Austen é quase um lugar comum vermos este termo. Esta noção de civilidade exerce um certo fascínio sobre mim. Quando somos corteses e gentis não estamos a nos doar ao próximo? Abdicamos um pouco da nossa individualidade pelo bem-estar de quem nos cerca. É tão difícil assim? Se há dificuldade nos pequenos gestos, o que dizer das grandes acções?

 

Confesso que estou um bocado cansada de receber encontrões na rua e não ouvir um pedido de desculpas; de me passarem à frente nas filas como se fosse normal; de me deixarem portas a bater na minha cara; de cheiro de cigarro dentro do elevador logo pela manhã; de papéis e lixo por todos os lados; de ouvir palavras rudes e palavrões; de ver idosos a serem desrespeitados; tantas coisas. Prevalece, nesta nossa sociedade, uma triste e patética ideia de que ser mal-educado é ser esperto porque pretensamente passar alguém para trás ou ser grosseiro vai trazer uma vantagem sobre o outro. Esta esperteza pobre e podre, em parte, nos arruina  e nos "inciviliza".

(HILLSONG CONFERENCE EUROPE 2010 #2)

13.10.10, a dona do chá

Leio num artigo que "o olho é um órgão par, situado em cada uma das órbitas, no nível que separa o crânio da face". Permite-nos ter percepção, reconhecimento e localização de algo. A sua função primordial é captar luz que, através de uma série de processos gera reconhecimento no nosso cérebro.  Posso afirmar que o olhar é uma captação de uma série de sucessivas luzes? Esta ideia fascina-me: dos nossos olhos serem inundados de luz que se liga directamente ao nosso cérebro criando uma série de imagens. A luz inunda-nos e gera significado. A luz liberta-nos da escuridão.

 

Nestes dias, em Londres, pensei muito nisto. Eu fixava toda aquela profusão de cores e jogo de luzes e pensava nisto. Ouvia aquelas mensagens desafiadoras e acutilantes e fervilhava.  Reflectia sobre a capacidade de ver e de perceber o que vemos, de como a vida segue um rumo inesperado e de como todas as coisas fluem de maneira a nos fazer enxergar algo. Mesmo quando não queremos ver.  Melhor dizendo, pensei como Deus se revela de diferentes maneiras.

 

Tantas coisas começaram a fazer sentido. À volta da minha cabeça voavam inúmeras peças de puzzle. Sentia que pegava cada peça com as mãos e as encaixava uma nas outras. Ali, mesmo diante dos meus olhos. A verdade, de uma forma tão simples, tão pura.  Eu não enxergava. A luz entrava nos meus olhos mas não faziam ligação ao meu cérebro. Senti que Deus fazia ali comigo como um oftalmologista, que vai experimentando lente por lente até chegar aquela que me permitirá perceber, reconhecer e localizar as coisas e o sentido delas. Na realidade, é isso que Ele tem feito. Ele tem me ensinado a ver.

 

Ao ouvir um dos oradores referir o versículo já tão conhecido "e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará" (Jo. 8:32) senti-me atingida. Liberto, oposto de preso. Não se trata apenas "de usar óculos". Também se trata de nos libertarmos do que de alguma maneira nos aprisiona. Acreditem, todos temos algo em nós que nos puxa para baixo. Há sempre algum aspecto na nossa vida ou no nosso quotidiano que não nos quer deixar ver a luz.  E não me refiro a pessoas. Refiro-me às nossas próprias inseguranças.

 

Eu confesso que eu tenho alguns aspectos que me prendem. Alguns medos. Medo de arriscar. Medo do imprevisto. Medo de voar demasiado alto. Tenho receio pelo amanhã. Sou insegura e pouco auto-confiante. Preciso sempre de pára-quedas. Naqueles momentos, em que as luzes eram estrelas pontilhadas e enquanto o chão tremia com a intensidade dos passos, eu entendi. A minha "graduação de lente" foi ajustada. Entendi que o medo é natural mas não deve ser dominante. Apesar desta insegurança inata há a tenacidade. Entendi que tudo pelo que tenho passado é para me preparar para algo. Não sei bem o quê.

 

Vi cair o peso e o cansaço.

 

Não posso deixar de estar grata pelo "ajuste". Espero que seja sempre um processo contínuo. Tomo com  os dedos  uma expressão de Vinícius de Moraes e escrevo que quero estar sempre "em construção".

(Hillsong Conference Europe 2010 #1)

12.10.10, a dona do chá

 


 

Até ao último instante pensei que não iria. As coisas nem sempre acontecem da forma como pensamos. Felizmente.

 

Eu e o G. estivemos juntos, em Londres, nesta experiência inesquecível. É verdade que não tivemos tempo para conhecer os pontos famosos de Londres; dedicamos a nossa atenção por completo à conferência. Valeu a pena.

 

Conhecer Londres fica para uma próxima vez. Acho que vou gostar;)

(longe do peso do mundo)

02.10.10, a dona do chá

completa as palavras que me faltam. termina as minhas frases antes que eu as diga.


o vento já se levanta e arrasta as apreensões pela beira da rua. os gestos moldam-se às circunstâncias mas não perdem carácter. as respostas devem andar à deriva. a pairar em algum lugar. atenda-se com mais atenção às perguntas, o combustível da persistência.

 

se for para dizer algo, que sejam gentilezas. o tempo dedicado à perfídia não tem lugar cativo na passagem dos dias. o tempo da revolta e das palavras duras destinam-se ao efeito da justiça. permita-se que a gentileza seja constante e que a revolta seja a excepção. tudo é passível de mudança e de reestruturação. somos seres em constante construção.

 

o meu melhor momento será sempre aquele em que estou contigo, longe do peso do mundo. meu amor, preenche a ausência da tua mão na minha. o meu dia, o teu dia, os nossos dias. sempre.

 

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