(o coração é um órgão de fogo)
dia 4 - intermédios
outro dia inteiro. outra noite imensa. porta que abre. porta que fecha. novamente. os outros expectantes continuam a me parecer familiares. alguns deles compartilham experiências entre eles. a mulher de branco aparece a porta. cita nomes. resposta afirmativa. vista a bata e me acompanhe. desinfecte as mãos. está ali, ao fundo, consegue vê-lo? sim. estava sentado. peito coberto. pijama de casa. mais camas. mais companheiros. menos instrumentos. o nariz livre. fios. sondas. telas. números. contagens. sinais sonoros. máscara e oxigénio, de vez em quando. a fala vem devagar. o olhar confuso. perdido. palavras e frases sem sentido. diz que viu o que eu sabia que não tinha visto. que ouviu o que eu sabia que não era possível ter ouvido. que dia é hoje? porque o teu irmão não veio? porque estou aqui? vou embora hoje contigo? porque não posso ir contigo? quero me levantar. quero sair. explico. explico mais uma vez. explico novamente. quero abraçá-lo para afastar esta confusão, penso. o que está acontecer, pergunto-me. cai-me o mundo. o que está a acontecer? o que é isto? questino a mulher de branco e ela diz que é normal. normal? normal para mim são palavras, frases e parágrafos com sentido.
intermédio ganhou um novo significado. delimitou bem nitidamente o início de uma nova etapa.
e, para isto, eu não estava preparada.