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Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

( LENTE DE AUMENTO )

11.11.08, a dona do chá

«Sinto-me completamente incapaz, perto de pessoas que sofrem. Na verdade, sinto-me até culpado. As pessoas estão alí sozinhas, talvez gemendo, faces contorcidas, e não consigo transpor o abismo e penetrar no seu sofrimento. Consigo apenas observar. Qualquer coisa que eu tente dizer, parece-me medíocre e formal, como se recitasse algo previamente decorado.»

 

Deus sabe que sofremos, Philip Yancey

( Lente de Aumento )

06.11.08, a dona do chá

« A morte é banal, costumava dizer a minha mãe, semanas antes da sua morte numa rua movimentada do centro de Nova Iorque. A vida é extraordinária. Nós somos extraordinários. Celebrar a vida é compreender e abarcar o extraordinário. »

 

Sapatos de Rebuçado, Joanne Harris

 

 

[ Banda Sonora ]

06.11.08, a dona do chá

 

Eu não vou falar sobre as potencialidades do Barak Obama como Presidente dos EUA nem dar a minha opinião sobre o impacto da concretização deste facto ao nível mundial. Não faltam por aí opinion makers, jornalistas e bloggers a discorrerem linhas e mais linhas sobre isto. E sobre o evidente carisma e a impecável oratória dele ninguém precisa dizer nada porque é óbvio.

 

O que me interessa dizer - peço, desde já, perdão se alguém já falou sobre isto - é que sempre que eu vejo uma imagem do sr. Obama, surge aos meus ouvidos, de imediato músicas como Let's get it on e Sexual Healing do Marvin Gaye. É quase uma banda sonora...

 

Poxa, eu até imagino o fulano a dançar.

 

;^)

[ 2 de Novembro - 2ª Parte ]

04.11.08, a dona do chá

Pairava uma ansiedade, um ímpeto de chegar o mais rápido possível. Na realidade, quase que a chegada era no fim. Uma ansiedade descabida porque se pensarmos bem que diferença faria? De longe, não chegávamos bem a conclusão se estávamos no local indicado. Tantas caras desconhecidas. Tantas cores, flores e velas. Certo, é o local certo. Ele vê um rosto familiar. Passámos dentre as pessoas sem as vermos, pode ter acontecido de termos involuntariamente empurrado alguém. Lá estava ela, rodeada pelas amigas que estiveram sempre do seu lado. Foi estranho. Um peso de intrusão. Mas a ansiedade foi mais forte do que esta sensação.
Ela abraçou-me.
Eu abracei-a. Como queria ter feito isto antes. Bem antes.
Senti-lhe a respiração em vulcão, em avalanche, mas coordenada. Era o fim de uma etapa, de um longo deserto, que ela atravessou sem temer. Ela atravessou o “vale da sombra e da morte” e estava ali, talvez destroçada, mas estranhamente tranquila. Uma sobrevivente. Ela tinha os olhos diferentes, um reflexo de quem já viu alguém a lhe morrer nos braços. Viu a vida a desaparecer. Quando isto acontece, nunca mais voltámos a ser o que éramos.
Deixei que as lágrimas lhe corressem. Permiti as minhas. Se ela soubesse como lhe tive saudades. As lágrimas e o seu lamento se completaram num suspiro. Olho ao redor e vejo-as e ela puxa-as e nos juntamos todas num abraço de grupo. Aqueles poucos instantes pareceram tão perfeitos que pensei que, apesar do motivo que nos levou ali, aquele abraço parecia o meu lar. Senti-me em casa, do lado das amigas que tanto amo. Todas nós, há 10 anos atrás, não pensaríamos que estaríamos ali, naquele momento, por aquele motivo e que teríamos passado por tanta coisa. Imaginávamo-nos brilhantes, felizes e realizadas. Tenho quase a certeza que podemos dizer que a felicidade é uma estrada e só no fim da jornada saberemos com alguma fiabilidade se passámos por lá perto. Quem somos agora?
 

[ E ainda se admiram!! ]

04.11.08, a dona do chá

Ainda se admiram das pessoas preferirem ver novelas!

Estou a acompanhar o "Prós e Contras" na RTP1 e devo dizer que é o programa mais deprimente que existe. Informativo? De debate?

 

Meu Deus...

 

Como é possível isto? 

 

[ 2 de Novembro - 1ª parte ]

03.11.08, a dona do chá

O que se pode fazer para amenizar a dor de alguém? Nada, ou quase nada. Emprestamos os ouvidos e os braços, doamos o nosso coração. Pode-se apagar a dor com um abraço? Seria fácil demais. Mas é verdadeiro, o desejo de apagar-lhe a dor. 

 

[ Eu não estive lá quando ela precisou. Esta é a dura e a corrosiva verdade que me acompanha todos os dias. Eu cheguei no fim. ]

 

Não era necessária a afirmação de que tinha ocorrido uma mudança, de que não se tratava da mesma pessoa. Era evidente. Um brilho diferente. Um olhar de quem já passou pelas sombras mais profundas e sobreviveu. Uma estranha sabedoria. Uma inesperada sabedoria. Uma postura de quem já não tem pressa para viver. Falava com as pessoas e observava tudo à sua volta com ar atento e, ao mesmo, abstraído. Como pode ser isso? As flores ao redor não tinham a importância do adeus nem o papel social da homenagem. As flores são acessórios desnecessários. Como ela disse "não têm a menor importância". Importante é o que lhe está lá dentro. A alma e o coração, mesmo que destroçados. E as lembranças que viveu e construiu.

 

[ Não foi possível exprimir palavras. Calei-me. O que eu podia dizer? É inexplicável. ]

( triste, muito triste )

01.11.08, a dona do chá

Um dia extremamente frio, nublado e, por vezes, chuvoso. Este é o dia triste, por natureza. Este é o dia em que as pessoas vão aos cemitérios. Conheço algumas pessoas que não vão, dizem que é quase uma encenação e uma disputa entre as pessoas para mostrarem quem tem a melhor e a mais bonita campa. Eu digo que há-de haver alguém sincero, que vá movido pela saudade.

 

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Apesar do barulho, ouço o sinal. Peço-lhe "podes me ir buscar o telemóvel". Ele diz-me "que bons ouvidos que tens!". Lá está uma sms da amiga Lb. a informar que a mãe faleceu e quando seria o enterro. O queixo fica suspenso bem como os batimentos cardíacos. Vagueio na indecisão de lhe ligar ou de lhe pegar ao colo. Até agora permanece um desconhecimento de como deveria agir. O sabor amargo da perda é familiar. A angústia, a impotência, o medo, a revolta; são tantos os sentimentos.

 

Que ano complicado. Que dia tão frio.