Pairava uma ansiedade, um ímpeto de chegar o mais rápido possível. Na realidade, quase que a chegada era no fim. Uma ansiedade descabida porque se pensarmos bem que diferença faria? De longe, não chegávamos bem a conclusão se estávamos no local indicado. Tantas caras desconhecidas. Tantas cores, flores e velas. Certo, é o local certo. Ele vê um rosto familiar. Passámos dentre as pessoas sem as vermos, pode ter acontecido de termos involuntariamente empurrado alguém. Lá estava ela, rodeada pelas amigas que estiveram sempre do seu lado. Foi estranho. Um peso de intrusão. Mas a ansiedade foi mais forte do que esta sensação.
Ela abraçou-me.
Eu abracei-a. Como queria ter feito isto antes. Bem antes.
Senti-lhe a respiração em vulcão, em avalanche, mas coordenada. Era o fim de uma etapa, de um longo deserto, que ela atravessou sem temer. Ela atravessou o “vale da sombra e da morte” e estava ali, talvez destroçada, mas estranhamente tranquila. Uma sobrevivente. Ela tinha os olhos diferentes, um reflexo de quem já viu alguém a lhe morrer nos braços. Viu a vida a desaparecer. Quando isto acontece, nunca mais voltámos a ser o que éramos.
Deixei que as lágrimas lhe corressem. Permiti as minhas. Se ela soubesse como lhe tive saudades. As lágrimas e o seu lamento se completaram num suspiro. Olho ao redor e vejo-as e ela puxa-as e nos juntamos todas num abraço de grupo. Aqueles poucos instantes pareceram tão perfeitos que pensei que, apesar do motivo que nos levou ali, aquele abraço parecia o meu lar. Senti-me em casa, do lado das amigas que tanto amo. Todas nós, há 10 anos atrás, não pensaríamos que estaríamos ali, naquele momento, por aquele motivo e que teríamos passado por tanta coisa. Imaginávamo-nos brilhantes, felizes e realizadas. Tenho quase a certeza que podemos dizer que a felicidade é uma estrada e só no fim da jornada saberemos com alguma fiabilidade se passámos por lá perto. Quem somos agora?