Neste calor inesperado, um café bem forte e dois pães de leite para começar o dia. Tento abrir os olhos e olhar para a realidade com alguma esperança. Pensar que as coisas podem ser melhores e que tudo vai se resolver.
Que no fim do dia, eu possa repetir as mesmas palavras mentalmente. As mesmas palavras de alguma esperança. Que no fim do dia, o teu rosto mostre um radioso sorriso, esquecido dos dias maus. Mesmo que isto não se venha a verificar, estar contigo é o que conta, nos bons e maus momentos.
«(...)Para ti criarei um dia puro Livre como o vento e repetido Como o florir das ondas ordenadas.»
Pesquiso opções para uns "diazinhos" de descanso, que já nem chamo de férias, e enfrento um enorme desânimo. Como é possível que tantas pessoas consigam fazer viagens de férias? Meu Deus, como tudo é caro! Seria realmente bom ter uns dias de fuga, esquecer um pouco a realidade. Mas estou a ver que vai ser muito, mas muito difícil.
tento fazer o melhor e encontrar soluções para resolver os problemas e para afastar as preocupações. não consigo, é um esforço em vão. não consigo deixar de me preocupar com a mudez que te persegue os olhos e a fala. este cansaço e esta tristeza que te tem torturado. nós sabemos o porquê, mas e a solução? a solução não é unânime nem mesmo de efeito imediato. dizem que para tudo há solução, será? não podemos desistir, mas não é fácil. não tem sido fácil. aliás, vamos afirmar: nada para nós é fácil.
estes cabelos grisalhos que [já] te acompanham, testemunham o muito que tens vivido e sofrido. o que posso mais fazer para atenuar a tua dor?
não consigo deixar de admirar as pessoas que dizem que são felizes e que tudo lhes corre bem. apetece-me perguntar-lhes o segredo, qual a fórmula? será assim tão fácil viver e alguém esqueceu de me avisar?
ela subia as escadas, pé ante pé. cada passo era um peso: cada um carrega os seus desgastes da forma que quer - ou da forma como pode. ela subia as escadas como se tivesse dito adeus às velhas paredes que ficaram para trás. ela disse adeus, mas não era definitivo. «amanhã é outro dia», pensou ela, lembrando-se da banalidade da conclusão.
é certo que com o sol, amanhecerão as tarefas e as responsabilidades. amanhecerá uma nova disposição. amanhecerão esperanças renovadas. mas, naquele momento, enquanto subia as escadas, só conseguia se concentrar em esquecer. esquecer e dizer adeus.
chegar ao fim do dia e saber o seu fim realmente não chegou, que a cabeça não pára, que o coração não desacelera e que a tranquilidade está bem longe de aparecer.
seria bom contar coisas boas, positivas e optimistas. realmente seria. quem sabe, eu venha a ter esse tipo de conteúdo... não é que eu não acredite que as coisas boas existem e estão por aí, mas este fim-de-semana de trabalho e de páscoa só me demonstraram o que de pior anda por aí. desde línguas ferinas até a comentários xenófobos. mais tarde eu vou desenvolver este assunto. para já, o descanso merecido.
incomoda-me sim. incomoda-me estar cansada e não ter tempo para nada. incomoda-me os calos nos dedos e os cortes inesperados. incomoda-me o peso nos olhos e a saudades dos dias que não voltam. incomoda-me ser insultada. incomodam-me tantas coisas que, às vezes, penso se não será excesso de valores. mas não me incomoda ter valores e conceitos. seria inconveniente se, por causa disso, eu me escondesse dentro de uma redoma.
talvez isso incomode aos outros, esta coisa de ter valores. talvez.