Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

( VELAS QUE ARDEM E VELAS QUE SE APAGAM )

29.11.06, a dona do chá
Por que não me apetece dormir. Por que me apetece dormir. Por que me apetece chorar. Por que estou numa infindável tristeza. Decepção. Por que não sei o que pensar. Por que não sei o que dizer. Talvez isto explicasse muita coisa. Talvez nunca tenha significado nada. Nada.

( VESTÍGIOS DE CASA )

22.11.06, a dona do chá
Havia um certo prazer em estender-se ao longo da relva como quem escolhe onde pousar os ombros. Conhecia todos os formatos e todos os enredos das nuvens. Ela conhecia. O sol, por vezes, atrapalhava o destino mas isso também não era um grande problema. Era facilmente ultrapassável. As nuvens dançavam e diziam-lhe palavras ao ouvido. Ela sorria e sonhava. Pensava quantas pessoas existiriam no mundo e quantas prestariam atenção àquele emaranhado de histórias. São tantas, são tantas.

Ela olhava de baixo para cima, em direcção ao céu, e isso fazia com que mantivesse uma esperança de olhos brilhantes.

( METADE E ESSÊNCIA )

18.11.06, a dona do chá
A Dona MP. diz-me com olhar resignado que não há qualquer possibilidade dela reconstruir a vida com outra pessoa. Um olhar e um inclinar de ombros a lembrar uma condenada à morte. Volto a insistir que ela ainda é muito nova, que ela deve procurar alguém e se afastar daquele arrastar da solidão. E ela mais uma vez mostra-se resignada.
Eu entendo-a. Há uns dois ou três anos atrás não entenderia. Mas agora eu entendo-a. Como seria viver sem o meu G.? Um abismo profundo. Viver com outro? Impossível. Entendo-a tão bem. Entendo que deve ser acutilante a dor de olhar para cada pedaço de chão e sentir a ausência sem regresso. A ausência de um pedaço da própria pessoa.
Uma meia morte.
O que deve ser mais doloroso.

( TELEFONE SEM FIO )

17.11.06, a dona do chá
Tenho sempre a sensação de que não sou bem compreendida, principalmente quando converso alguém pelo msn. Quando falamos cara-a-cara acontece de haver coisas que não ficam bem entendidas, isso piora no meio virtual. Eu reconheço que nem sempre consigo me fazer entender, que não sei explicar bem aquilo que penso e defendo; mas, às vezes, é mesmo frustante. Eu fico sempre com aquele gosto amargo na boca "mais valia não ter dito nada" ou "mas porque cargas d'água fui falar nisto??".

( IMAGINAÇÃO )

17.11.06, a dona do chá
Apetece-me desenhar os pingos desta chuva para transformá-los em flores. Torná-las noutra forma de beleza. Reconheço que não possuo poderes mágicos, mas apetece-me sonhar com estes pingos de chuva a se transformarem em flores. Pequenas e perfumadas. Imagina só se fosse possível passear entre um caminho de pétalas de flores? Como se nevasse flores? Seria lindo.
Os problemas ficariam debaixo de nossos pés.

( ENTREGA )

16.11.06, a dona do chá
Naquelas caminhadas em que o verde perdura nos olhos, não se vê nada para além do que está a pairar no pensamento. Não importa se o caminho é longo, se a estrada é estreita e se os pés doem a cada passo. Latejam. Se tu dominas o meu pensamento porque hei-de dar conta da dor e do cansaço? É que a vida é isso mesmo: entrega. Estar do teu lado torna suportável a dificuldade do dia-a-dia.
Então, naquelas caminhadas em que o verde perdura nos olhos e o cansaço rapta as minhas forças, vejo-te ao meu lado. Seguimos o dia. Seguimos em frente.

Pág. 1/2