Não é estranho que tenha de ser assim? Não é estranho que tenhamos de relembrar mil vezes que o destino nos prega várias armadilhas? Perder uma pessoa importante e essa sensação de vazio se prolongar de forma indefinida. Todos nós sentimos esta ausência de uma forma amplificada, como um grito estridente que não termina nunca mas que é calado - como se fingíssimos que está tudo bem. Não é estranho que tenha de ser assim?? Por vezes, eu fico cansada de insistir nestas frases feitas e nestes lugares-comuns... mas é mesmo assim. A mesmice comanda a letra para traduzir a vida.
Dias assim em que a névoa aparece e perdura. O sol intenso não impede a névoa. Tão densa. O meu coração se recolhe e se enternece - o meu amor por elas aumenta. Em cada nuvem que passa pelo olhar, em cada sorriso puro e em cada brado de revolta reconheço a dor, a saudade e a incerteza pelo futuro.
Por que Deus permite que as mães vão-se embora? Mãe não tem limite, é tempo sem hora, luz que não apaga quando sopra o vento e chuva desaba, veludo escondido na pele enrugada, água pura, ar puro, puro pensamento. Morrer acontece com o que é breve e passa sem deixar vestígio. Mãe, na sua graça, é eternidade.
Por que Deus se lembra - mistério profundo - de tirá-la um dia? Fosse eu Rei do Mundo, baixava uma lei: Mãe não morre nunca, mãe ficará sempre junto de seu filho e ele, velho embora, será pequenino feito grão de milho.
A minha amiga LB me pergunta se eu tenho a banda sonora completa da Ally Mcbeal, eu digo que não, que só tenho os dois primeiros. Entretanto, começo a pensar em todos os objectos de desejo ou sonhos de consumo que abdicamos para poder cumprir outras prioridades.