Dizia-me as palavras certas com a calma que lhe é tão inata, e eu ficava a pensar que é tão familiar ouvir-lhe o timbre, sentir-lhe o perfume e descansar no seu carácter.
De todas as preces e apelos pelo bem geral, acontece de haver uma entrega ao egoísmo. Gera-se um desconcerto, um mal-estar. Aquilo que parece ser uma evidência, aquilo que conhecemos do próximo, torna-se um dado inválido. Saboreia-se um desconforto - o desentendimento dos gestos.
A conclusão imediata é de que não é possível chegar a uma conclusão. E não saber bem o que pensar sobre tal facto. Incerteza e pesar.
estes inesperados dias quentes são uma fuga ao Inverno que, para mim, é sempre demasiado longo. a vontade de viver torna-se mais presente, mais intensa.
sinto-me ridícula por pensar nestas coisas, nestas coisas insignificantes. sinto-me ridícula por ter esperanças e acreditar que amanhã pode vir a ser melhor.
mas não deixa de ser uma sensação boa, simples e revigorante.
seria tão fácil esquecer destas coisas importantes, de ter honra e de ter respeito. seria tão fácil... seria tão fácil ofender e sair ileso. não ter remorsos. sobretudo, seria tão fácil ceder à tentação de encarar as ideias preconcebidas como leis absolutas.
uma imensidão de sentimentos retraídos e de dias afastados, que não deixam a marca da saudade. abro um sorriso só de lembrar das paredes vazias e das caixas acumuladas.
o excesso de espaço, por vezes, dá lugar a uma ineficaz tendência para a acumulação. guardam-se coisas com o estranho sentimento de que assim retemos episódios, tornado-os eternos. mas, e se cairmos no erro do exagero? não quero voltar a confundir recordações com lixo. o que custa é dar o primeiro passo.
e sem qualquer pesar, atravessei corredores vazios, fechei a porta e não olhei para trás.