Depois surgem pensamentos do género "com esta idade a minha mãe já tinha 3 filhos enquanto eu...". Este tipo de pensamento não é um sintoma prematuro de uma suposta "crise dos 30". Ainda mal dei o primeiro passo pela porta dentro. Apenas é estranho constatar que tudo o que sonhámos ou planeámos não se concretiza. Não é derrotismo nem pessimismo. É constatação. Há 15 anos atrás nascia a minha sobrinha e eu sonhava que quando tivesse 30 anos seria uma pessoa totalmente diferente. Sinto a insegurança e a fragilidade do mundo, como se ainda tivesse 15 anos.
« Só me lembro que choveu todo o dia e toda a noite e que quando perguntei ao meu pai se o céu chorava faltou a voz para me responder. (...) a ausência de minha mãe era para mim ainda uma miragem, um silêncio gritante que até então não tinha aprendido a emudecer com palavras. »
Viu aquele frio a correr o soalho, a subir pelas paredes, a dançar pelo ar. O frio silencioso da noite. Aquela ausência de movimento. O tempo tornou-se invisível, não se movia. A noite era interminável.
Encontrou refúgio naquelas páginas, milhares delas. Escritas e lidas. Uma aventura, um céu sem limites, lágrimas e risos involuntários. Era um leitor, mas apesar disso integrou-se na trama.
É fascinante como, apesar da idade, podemos manter a capacidade de sonhar através das palavras dos outros.