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Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

( A NATUREZA DAS COISAS )

20.09.05, a dona do chá
Quem eu sou ou quem eu deixo de ser é uma incógnita [até para mim mesma].
Sei da melancolia, da solidão, da invisibilidade.
A solidão é uma condição inata. O que não implica o estar sozinha.

( SOBRE A NOSTALGIA 2 )

20.09.05, a dona do chá
"Quanto mais vasto é o tempo que deixámos para trás de nós, mais irresistível a voz que nos convida ao regresso. Esta proposição tem o ar de uma evidência, e no entanto é falsa. O homem envelhece, o fim aproxima-se, cada momento torna-se cada vez mais querido e já não há tempo a perder com recordações. É preciso compreender-se o paradoxo matemático da nostalgia: o tempo do seu poder maior é a primeira juventude, quando o volume da vida passada é perfeitamente insignificante.
(...)
Essa sensação, esse desejo invencível de regressar, revelha-lhe de uma só vez a existência do passado, o poder do passado, do seu passado; na casa da sua vida apareceram janelas; janelas voltadas para trás, para o que ela viveu; sem essas janelas, doravante, a sua existência deixará de ser pensável."

Milan Kundera, A Ignorância

( PELA NOITE DENTRO 2 )

11.09.05, a dona do chá
O tom amarelado da luz artificial da rua transforma o quadrado da janela num retrato a sépia. Longínquo.
Se não fosse Setembro, diria que a natureza estava equivocada e não acreditaria no orvalho que pousa no chão. Silencioso.
Nesta insistente insónia, sei da aragem fria, do carro que passa lentamente, do céu opaco e do sono incerto.
Também conheço os sonhos e os pesadelos.

( DECISÕES )

11.09.05, a dona do chá
Repensar escolhas pode ser um hábito frustrante.
Saber que não se fez o que se deveria ter feito, e saber também que se fosse possível voltar atrás ela tomaria as mesmas decisões.
A vida passa para todos, mas no caso dela, a vida é um amontoado de dias idênticos.

( SOBRE A NOSTALGIA )

09.09.05, a dona do chá
« O regresso, em grego, diz-se nostos. Algos significa sofrimento. A nostalgia é portanto o sofrimento causado pelo desejo insatisfeito de regressar. Para esta noção fundamental, a maior parte dos europeus podem utilizar uma palavra de origem grega (nostalgia, nostalgia) e além disso outras palavras com raízes na sua língua nacional: anoranza, dizem os espanhóis; saudade, dizem os portugueses. Em cada língua, estas palavras possuem um matiz semântico diferente. Muitas vezes significam apenas a tristeza causada pela impossibilidade de regresso ao país. Recordação dolorosa do país. Recordação dolorosa do lugar. O que, em inglês, se diz: homesickness. Ou em alemão: Heimweh. Em holandês: heimwee. Mas trata-se de uma redução espacial da grande noção. Uma das mais antigas línguas europeias, o islandês, distingue bem dois termos: söknudur: nostalgia no seu sentido geral; e heimfra: recordação dolorosa do país. Os checos, a par da palavra nostalgie vinda do grego, têm para a noção o seu próprio substantivo, stesk, e o seu próprio verbo; a mais comovente expressão de amor checa: styska se mi po tobe: tenho nostalgia de ti; não posso suportar a dor da tua ausência. Em espanhol, anoranza vem do verbo anorar (ter nostalgia), que vem do catalão enyorar, derivado, por seu turno, da palavra latina ignorare (ignorar). A esta luz etimológica, a nostalgia aparece como o sofrimento da ignorância. Tu estás longe, e eu não sei o que te acontece. O meu país está longe, e não sei o que lá se passa. »

Milan Kundera, A Ignorância.

( PELA NOITE DENTRO )

09.09.05, a dona do chá
Vivi noites de descanso e de tormenta. Agora calo esta noite vazia, este silêncio, esta ausência de eco.
Os olhos sustentam a dor que perfura o cansaço [ deveria falar da saudade…].
Contudo, a noite traz esta inesperada tranquilidade.
Uma aragem fria que entra pela janela.
Uma certeza de regresso.