"Cometi crime de amor à morte fui condenado Mas antes do cadafalso a um capitão fui chamado Que partia para a Guiné e me prometeu perdão Se fosse numa galé e aceitasse a missão De à sorte ser lançado na má terra do gentio Sózinho e abandonado durante meses a fio(...)"
Viver tudo o que uma vida possui: os seus altos e baixos. Chega-se aos setenta anos não se sabe bem como. É mesmo assim, a vida vai no seu estranho ritmo: atravessa-se mares, conhece-se outros lugares, outros costumes. Faz-se do caminho um percurso imparável. E chega-se aos setenta. E ainda não é hora de parar. Setenta anos é obra. Setenta anos de teimosia e ousadia. Este é o dia dele: meu pai.
A noite passada um paredão ruiu pela fresta aberta o meu peito fugiu estavas do outro lado a tricotar janelas vias-me em segredo ao debruçar-te nelas cheguei-me a ti, disse baixinho "olá" toquei-te no ombro e a marca ficou lá o sol inteiro caiu entre os montes e então tu olhaste depois sorriste disseste "ainda bem que voltaste"
Bem baixinho (para não acordar os vizinhos ) ouço Sérgio Godinho, ao mesmo tempo que entra uma aragem fria pela janela. Toca a música A noite passada. Sorrio. Há um silêncio pela casa, em que o sussurro das respirações e o som da música se confundem. Nestas ocasiões, o mundo parece melhor.
Passo a tarde a ver televisão porque uma constipação a isso obriga. Tenho calor por causa da febre, tenho frio por causa da febre. Dói-me a cabeça e a garganta. Mais um espirro. Nariz pinga, pinga, pinga... Entro no msn porque me lembrei de uma amiga e ela podia lá estar online. E estava. Ela fala um pouco. Desabafa. Eu tento ajudar. Não consigo. Não sou de grande ajuda. Aliás, tenho perdido o jeito para ser uma boa amiga. Ela fica offline. Eu volto a pensar na minha incompetência para ajudar. Penso em ir ler; mas não, não me apetece. Penso em voltar a ver televisão, também não. Começo a escrever este post e quando chego perto do fim constato que agora consigo entender a razão de não fazer deste blog um diário: pura inépcia. Entre outras.
-- Well theres blood in these veins And I cry when in pain Im only human on the inside And if looks can deceive Make it hard to believe Im only human on the inside