O primeiro pensamento. Abrir os olhos e ter o primeiro pensamento do dia. Eu imagino qual terá sido o teu. Pensaste na ausência, no vazio e na saudade . A luminosidade da manhã ainda pouco desperta não te trouxe alento nem entusiasmo. Para quê? Afinal quem te trouxe ao mundo não está mais aqui. Nada do que possa ser dito hoje superará esta lacuna. Eu sei disso. Saberão os outros?
Havia tristeza nos teus olhos. Olhos húmidos de tristeza. Ninguém é capaz de entender.
A mim restam-me os teus sinais. Saber o que não queres. Saber que preferes o silêncio aos aplausos efémeros e às gritarias passageiras. Com amor, coloco-me ao lado do teu silêncio. Aguardo que o dia passe e o coração sossegue. A dor não desaparece mas, por vezes, acalma.
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Hoje é o teu dia.
Deixo-te nos olhos as palavras do nosso poeta, que tanto tocaram o teu coração a primeira vez que leste há uns 10 anos atrás. Palavras que, curiosamente, traduzem de forma inexplicável a tua personalidade.
«
(...) Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e o mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.
Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.
Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.
Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante
E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.
Resta esse desejo de sentir-se igual a todosDe refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino. (...)»
( O Haver, Vinícius de Moraes )
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Quero dizer que eu te amo e que sempre vou te amar.