Pensava várias vezes que a vida não podia ser só isso. Este desencontro. Esta ansiedade. Este desalento. Não importavam os problemas e as dificuldades, desde que aquela velha solidão desaparecesse. Parecia uma segunda pele, que não a abandonava. Outrora depositou as suas esperanças no amor. Não deu ouvidos aos poetas que clamam pelo valor do amor, mas também pela sua incontinuidade. Não dura para sempre, dizem. Mais do que isso, alertam.
Clara ansiava pelo amor, como uma tábua de salvação. Algo ao qual podia se agarrar, se dedicar e receber retribuição. Sim, porque queria ser amada. Ansiava por ser o centro na vida de alguém. Arrancar fora aquela segunda pele. Poderia, então, esquecer tudo o que sofreu.
O que Clara não contava era com a incompreensão. Apesar de encontrar o amor, a incompreensão foi se alojando devagar. O seu efeito mostrou-se mortífero. Ia roendo por dentro. A segunda pele começou a se instalar novamente. Terá alguma vez desaparecido?
Clara não conseguiu deixar de dizer-lhe: "a minha solidão é mais profunda agora".