( FIBRA )
01.02.05, a dona do chá
Dos teus lábios solta-se um sorriso quase ausente. Dos olhos, um traço de tristeza, como se já adivinhasse que a vida é dura e pesada. Uma pele imaculada, tão bela, tão jovem. A vida iria para além do alcance dos teus olhos. Não sabias. Não imaginavas. Os passos que deste não estavam planeados.
Caminhada cheia de privações e sem auto-realização. Guardaste para ti própria os teus sonhos. Nunca te foi permitido alcançá-los.
Sofres calada. Choras em silêncio. Abafas as tuas angústias. O teu coração já não tem lugar para mais nada.
Quem adivinharia que tu és uma mulher de fibra? Passaste tempestades e problemas, e permaneces. É certo que os cabelos brancos já aparecem. Mas continuas forte e enfrentas. Olhas de frente. Lutas, mesmo quando te sentes a desfalecer.
Queria poder apagar essa sombra que tantas vezes se instala na tua face, que te tolda os olhos. Como se te ausentasses.
Queria, sobretudo, dizer-te que tenho muito orgulho de ser tua filha.