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Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

( ENTRE O ZAPPING E O BOTÃO ON/OFF )

28.02.05, a dona do chá

Os dedos de Ana ficavam enregelados só de pensar que teria de estender a roupa no varal. Fazia tanto frio que tocar a roupa húmida congelava. Bastava imaginar. Mas este era o seu dever. Sabia que não devia pensar nos aspectos negativos do acto em si. Procurava, então, distrair o pensamento. Fazia um zapping mental, mudava de tópico de pensamento, como quem mudava de canal. Aqueles instantes passariam a ser como um intervalo publicitário.
Pensaria em muitas coisas, mas não daria atenção especial a nenhum assunto. Distraída.

Se a vida fosse assim, tudo seria mais fácil.

Se acontecesse alguma coisa mais complicada… botão on/off .

( AMPULHETA )

23.02.05, a dona do chá
TEMPO-ETERNIDADE

O instante é tudo para mim que ausente
Do segredo que os dias encadeia
Me abismo na canção que pastoreia
As íntimas nuvens do presente.


Pobre do tempo, fico transparente
A luz desta canção que me rodeia
Como se a carne se fizesse alheia
À nossa opacidade descontente.


Nos meus olhos o tempo é uma cegueira
E a minha eternidade uma bandeira
Aberta em céu azul de solidões.


Sem margens, sem destino, sem história,
O tempo que se esvai é minha glória
E o susto de minh'alma sem razões.


Paulo Mendes Campos

( VIDENTES )

22.02.05, a dona do chá
Por vezes, chateia-me esta tendência das pessoas de tentarem adivinhar o que os outros sentem. Olham para nós e pimba, lá vem a frase "tás com uma cara de quem tem alguma coisa..." Fazem lembrar investigadores da polícia ou videntes. Chateia-me. Como se ao indagar o estado de espírito alheio isso implicasse como recípocra o deslindar desse mesmo estado de espírito.

Mas será que uma pessoa não pode viver os seus próprios problemas em paz?
Chateia-me, que mais hei-de dizer?

( PÉS DESCALÇOS )

21.02.05, a dona do chá

Não vejo a claridade. A névoa da noite se confunde com as nuvens negras do dia. Percorrer a estrada de pés descalços me desperta a vontade de andar cada vez mais rápido. Não há tempo a perder. O terreno rugoso entranha-se entre os meus dedos, as minhas unhas sujam-se de pó e de terra. A roupa é pouca para deter a força do frio. Mas que importa isso? Os meus passos acelerados levam-me através desta manhã. Aquecem-se de frio. Esqueço-me do que não é importante.

Encontro-me.

( CONSTATO QUE... )

21.02.05, a dona do chá

...se os meus amigos me conhecessem bem, não cobravam tanto de mim. Não tinham tantas expectativas.

A pressão é, por vezes, sufocante.

( SEGUNDA-FEIRA )

21.02.05, a dona do chá

Como se não bastasse hoje ser segunda-feira - dia do mal-humor generalizado - ainda por cima recebo más notícias.

Há dias que são assim – um amontoado de horas sem sentido, que nunca devia ter começado.

Será que não podemos passar rapidamente para a terça-feira??

( CANTADO E SENTIDO )

19.02.05, a dona do chá




* Baden Powel / Vinícius de Moraes

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