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Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

( FINO E CORTANTE )

29.01.05, a dona do chá
Em passos naturais ia pela estrada fora. Podia ter esperado por um transporte público. Para quê? Meia hora de caminhada só lhe faria bem. Ficou satisfeita de pensar que fez a melhor escolha. A acertada. Sentia o sol sobre os seus pés, ainda lutando contra o frio da manhã. Mas, sobretudo, sentia aquele vento fino e cortante. Fez-lhe lembrar a aragem da serra. Fez-lhe lembrar os relatos da infância da sua mãe, quando ela dizia que em pleno Inverno andava descalça, porque naquele tempo não havia dinheiro para sapatos.
Achou invulgar o frio naquela manhã. O seu cabelo, que havia lavado antes de sair de casa, já estava em completo desalinho e ondulado pela aragem. Não se importou. O frio não a incomodou. O vento não a incomodou. Estranhamente.

O dia despertava para a caminhada. Ela despertava para o dia.

( VIRTUALIDADE )

29.01.05, a dona do chá
< G. pode não responder porque o seu estado está definido como Ausente >



C. diz:

Que a ausência do meu amor pesa-me como um lamento, um ai, um desalento.

C. diz:

Vejo o teu nome e não te vejo, nem através de palavra escrita ou de um cumprimento. Sei que, neste momento, deves estar ocupado. O que fazes? Como te correu o dia? Tens frio? Tens fome?



[Não houve resposta]



< C. ficou offline >

( QUEM DITA AS LEIS )

27.01.05, a dona do chá
Fica decretado, a partir de hoje, que todos os comentários indecorosos serão apagados. A crítica, a partilha de ideias, o esboço de um pensamento, tudo isso é bem aceite. Ordinarices é que não.

Liberdade de Expressão?

Aqui quem dita as leis sou eu.

( JOGOS LUNARES )

27.01.05, a dona do chá
É sempre a ti que eu procuro. É o teu sorriso que me conforta. Irritam-me as coisas que te afastam de mim. Não podíamos retornar ao tempo em que éramos só nós os dois? Juntos fazíamos uma multidão. E víamos jogos lunares.

( NÃO ME CONHECES )

27.01.05, a dona do chá
Para aqueles que procuram dar a entender que possuem a perspicácia sobre tudo e mais alguma coisa, estendo o meu levantar de ombros. Não é uma letra, não é um gesto, nem mesmo uma pressuposição que revelam seja o que for.

( DA SIMPLICIDADE DOS GESTOS - 2 )

19.01.05, a dona do chá
Ana sentia-se uma estranha dentro daquela casa. E era. Mais que tudo, sentia-se uma intrusa. Terreno incerto aquele, onde todos viviam juntos, mas não se olhavam não se ouviam. As refeições eram feitas sem conversas. Silêncio criado pelo hábito.

O que não seria muito diferente do que acontecia com as outras pessoas.

( DA SIMPLICIDADE DOS GESTOS )

18.01.05, a dona do chá
Podia falar de tantas coisas: do que lhe tinha acontecido durante o dia, do que sentia, do que pensava. Mas Ana permanecia quieta. Não lhe interessava falar sobre si própria. Não queria ouvir o som da sua voz. Inquietava-lhe ser o centro das atenções. “Que tenho de especial?”.

Agradava-lhe o trabalho silencioso de ajeitar as roupas, fazia com carinho como se estivesse em casa. Pegava na peça de roupa, abanava no ar para desamarrotar, pegava no ferro de passar e deslizava-o com cuidado e destreza. O vapor encontrava a pele do seu rosto e criava uma película brilhante. Parecia suor, mas não era.

Juntava peça com peça e as distribuía conforme os respectivos quartos e gavetas. Gestos maquinais. Todos os dias, sempre igual. Mas era também agradável. Não precisava pensar. Por poucas horas, esquecia-se de tudo. Via outras vidas.

Como se estivesse no cinema.

( ENTRECORTADO )

16.01.05, a dona do chá
a noite. esta noite, em específico. imensa. tenho sono, tenho frio. sinto a tua falta. vagueio sozinha no nosso espaço. não quero encontrar o vazio dos lençóis. não sei lidar com a tua ausência.

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