O chão é verde. Reluz de tão polido que está. Penso que é um pouco estranho o chão ser daquela cor [estranho também são os pensamentos que nos passam pela mente quando estamos em momentos difíceis]. Um longo corredor semeado de chão verde. Enquanto caminhamos, o silêncio nos cerca, pelos lados. Somente ao longe, bem longe, não se sabe bem de onde, ecoa um som metálico. Talvez de pratos.
Empurramos a porta para encontrar outro corredor, cercado de outras portas.
Procuramos o rosto ansiado. O sorriso maternal.
- Podem ir sempre em frente, 6º quarto à esquerda. - Somos informados. Passos. Olhos interrogam cada porta. Todas iguais, as portas. Todos iguais, os quartos. Pessoas diferentes. Histórias de infortúnios e de esperanças.
Encontramos o rosto ansiado. O sorriso maternal. [se soubesses o quanto de vida este sorriso encerra. se soubesses o quanto de amor e de luta este sorriso guarda. se este sorriso fosse livro, ainda não estaria completo. indecifrável e profundo]
A voz soou fluida, mas enfraquecida. A pele com um brilho especial. Um pouco mais magra, é bem verdade, mas profundamente bela. Tive de conter uma enorme vontade de abraçá-la, de tentar afastar a sua dor com meus braços. Tive de conter a ânsia de ficar o tempo todo segurando suas mãos. Devolvia-lhe os sorrisos, falava-lhe com carinho e tentava afastar a sua preocupação.
-Tudo vai correr bem dizíamos.
Contudo, há um certo desamparo nesta incapacidade de ter resposta para a dor daqueles que amamos.