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Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

( INCONTROLÁVEL )

30.09.04, a dona do chá
De uns dias para cá tenho tido uma enorme vontade de voltar a ouvir as músicas da Legião Urbana. Será do Outono? Será melancolia?

( ESTAR PRESENTE )

30.09.04, a dona do chá
Quando passamos pelo pior, parece que nada mais ao nosso redor faz sentido. Grandes problemas tornam-se pequenos diante do Inesperado. Queria ter a capacidade de confortar, de fazer crer que a adversidade é um ser em constante mutação.

( ... )

29.09.04, a dona do chá
Os olhos ficam pendurados no tecto, de tão persistentemente olharem naquela direcção. Seguem com detalhe cada contorno de sombra projectada.



Por cima da porta do quarto, há um painel de vidro que liga a porta ao tecto. É através desse painel que passa a luz do corredor e anuncia que ainda é noite e que ainda não dormiu. Não encontra posição para dormir, nem ânimo. Desencontra-se nas rugas do travesseiro. Sente calor. Afasta os lençóis. Sente frio. Puxa os lençóis.



E, de repente, faz-se dia. Mas nada se ilumina.

( REALIDADE )

25.09.04, a dona do chá

( CHÃO VERDE - 3 )

22.09.04, a dona do chá
Eu olho para o filho e as três filhas a rodearem a senhora no leito de carinhos e atenções.



- Mas conseguiste dormir bem?

- E te sentes melhor?

- Queres que te ajeite a travesseira?

- Vou te massajar os pezinhos.

- Queres que te ajude?



Guardo para mim o meu sorriso e o meu pensamento de que uma mãe que ama e que luta pelos seus filhos e marido também recebe amor. Mesmo num gesto imperceptível de um carinho nos pés.

( CHÃO VERDE – 2 )

22.09.04, a dona do chá
O chão é verde. Reluz de tão polido que está. Penso que é um pouco estranho o chão ser daquela cor [estranho também são os pensamentos que nos passam pela mente quando estamos em momentos difíceis]. Um longo corredor semeado de chão verde. Enquanto caminhamos, o silêncio nos cerca, pelos lados. Somente ao longe, bem longe, não se sabe bem de onde, ecoa um som metálico. Talvez de pratos.



Empurramos a porta para encontrar outro corredor, cercado de outras portas.



Procuramos o rosto ansiado. O sorriso maternal.



- Podem ir sempre em frente, 6º quarto à esquerda. - Somos informados. Passos. Olhos interrogam cada porta. Todas iguais, as portas. Todos iguais, os quartos. Pessoas diferentes. Histórias de infortúnios e de esperanças.



Encontramos o rosto ansiado. O sorriso maternal. [se soubesses o quanto de vida este sorriso encerra. se soubesses o quanto de amor e de luta este sorriso guarda. se este sorriso fosse livro, ainda não estaria completo. indecifrável e profundo]



A voz soou fluida, mas enfraquecida. A pele com um brilho especial. Um pouco mais magra, é bem verdade, mas profundamente bela. Tive de conter uma enorme vontade de abraçá-la, de tentar afastar a sua dor com meus braços. Tive de conter a ânsia de ficar o tempo todo segurando suas mãos. Devolvia-lhe os sorrisos, falava-lhe com carinho e tentava afastar a sua preocupação.



-Tudo vai correr bem – dizíamos.



Contudo, há um certo desamparo nesta incapacidade de ter resposta para a dor daqueles que amamos.

(CHÃO VERDE)

20.09.04, a dona do chá
- Sempre lutei pela lealdade, pela verdade e pela dignidade. - diz a senhora no leito de hospital ao filho.

- Já pareces um político a falar - brinca o filho com um sorriso nos lábios, a tentar distraí-la.




Eu olho para ambos e penso que o que une uma mãe e um filho é algo inexplicável, seja qual for a idade entre ambos. Testemunho isso e me alegro por esse misterioso amor. Por esse elo.


E admiro a força e a fibra daquela senhora, no leito do hospital

( TRECHO ADEQUADO )

16.09.04, a dona do chá
E depois das palavras que tenho lido e que li hoje, nada mais adequado do que ouvir de relance na televisão uma entrevista, em que a actriz Regina Duarte recita um extracto de uma peça:



« (…)Já aprendi que não importa quão boa seja uma pessoa /
ela vai me ferir de vez em quando /
e eu preciso perdoá-la por isso sob pena /
de ter o meu coração mergulhado no veneno do rancor(…) » *



Nada mais adequado.



* Cleise Mendes

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