( ENTRE NÓS, UM OCEANO 10 )
26.06.04, a dona do chá
Procurei por ti. Sabias disso? Sabias que procurei por ti? Não estive diante da tua casa. Nem chamei por teu nome (embora o repetisse mentalmente). Marquei o número, seguiu-se o som opaco da chamada (dantes as chamadas tinham um som mais estridente) insistente (tão ansioso como eu), mas nada. Ninguém atendeu. Será que não estás ou ainda não chegastes em casa? Será que foste comemorar com os teus amigos em algum lugar? É que já não conheço as tuas rotinas. Nem sei quem são os teus amigos. Sei quem és. O teu carácter e a tua força.
Noutros tempos, seria uma algazarra. Os primos a correr pela casa e a brincar de "queimado" no lado de fora de casa (alguém ainda faz isto nos dias de hoje?). Havia sempre algum primo a tentar comer escondido (sempre que tentei fui apanhada!) o brigadeiro que a tua mãe fazia (e tudo o que ela faz é uma delícia). Ou então iríamos discutir e fazer logo as pazes, que isso também fazia parte de se ser criança. Eu queria sempre ter algo para dizer, porque tu tinhas sempre resposta para tudo e não queria que me achasses idiota.
A vida não volta ao que era e, provavelmente, não se deve lamentar isso. Entrego-me, contudo, ao hábito de enxergar estas cores e formas, estes cheiros e sons.
Longe daqui, comemoras. Sim, eu sei que comemoras. Faz parte da tua natureza alegre e festeira. Aí ainda é o teu aniversário, aqui não. Já é madrugada.
Sandra, queria tanto que ouvisses a minha voz a desejar-te um "feliz aniversário" tímido e embargado, como sempre me acontece ao expressar os meus sentimentos. Eu sei que ouviria uma risada - como só tu sabes dar - e ficaria com os olhos encharcados de saudades.
Tal e qual como agora.