Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

( O CORAÇÃO É UM ORGÃO DE FOGO - 11 )

27.05.04, a dona do chá
No caminho para cá, observo a tua nuca. Os teus cabelos que embranqueceram com o tempo. Estou acostumada a ver-te com o rosto que tens hoje e, por vezes, esqueço-me de como já foste: alegre, sorridente, activo, esperançoso.

É o quotidiano quem nos tolda os olhos?

Tinhas os cabelos negros e os olhos de um castanho vivo, sempre a planear algo. Irriquieto. Começas a enfraquecer e a questionar. Posso ver isso. Mas os teus olhos parecem não querer perder a vivacidade, só o cansaço cria uma estranha sombra. Este evidente cansaço revela um esconderijo de episódios: os que eu conheço, os que eu não conheço e os que nunca conhecerei.

- "Tás" bem pai?.
- Tou.


E continuas a vaguear dentro de ti mesmo.

( O CORAÇÃO É UM ORGÃO DE FOGO - 10 )

27.05.04, a dona do chá
Silêncio. Escuro. Tic. Tac. Sonho. Olhos. Olhos que mexem. Olhos que tremem. Luz. Luz ténue. Escassa. Dia. Levantar. Acordar.

O toque. O toque do relógio. Encontro-me entre a indecisão de amanhecer ou de esquecer-me. Não posso. Tem de ser.

Não é o trabalho que me espera. É mais uma das etapas. Viver.

( ENTRE NÓS, UM OCEANO - 9 )

27.05.04, a dona do chá

Um está aqui. Outro está lá. Sabes como é a sensação de nada ser completo? Falta sempre qualquer coisa. Não é insatisfação ou frustação. Antes uma ausência.
Um teve os parabéns ao vivo, com bolo e beijo no rosto. O outro só o som intervalado analogicamente pela ligação telefónica [Parece que sempre tem um eco, algo que corta a palavra, que nos faz ficar meio retraídos diante da descoordenação do tempo. Como se, quem está do outro lado, estivesse numa outra dimensão].
Podíamos comemorar todos juntos estas datas, se o rumo das nossas vidas tivesse sido diferente. Quando estávamos juntos, não fazíamos isso, não valorizávamos. Seria da idade, ou da diferença de idades? Ou seria porque não entendíamos completamente os conceitos de ausência e de saudade.

A Saudade é esta "incompletude"...
Apesar de muitos não entenderem esta sensação, tenho saudades do que não vivi e de tudo aquilo que sei que não poderei viver.

[Dedicado aos meus dois irmãos, aniversariantes neste mês de Maio. Um presente. Outro distante.]

( METAMORFOSE AMBULANTE)

25.05.04, a dona do chá
Os meus conhecimentos, para alterar a imagem do blog, são limitados. Sendo assim, vou ter que dar pequenos passos.
Em breve, espero efectuar as modificações pretendidas e links actualizados.
Enquanto isso, paciência...

( CONJUGUEMOS )

19.05.04, a dona do chá

Além da Terra, Além do Céu

Além da terra, além do céu
no trampolim do sem-fim das estrelas,
no rastro dos astros,
na magnólia das nebulosas.
Além, muito além do sistema solar
até onde alcançam o pensamento e o coração,
vamos!
vamos conjugar
o verbo fudamental essencial
o verbo transcendente, acima das gramáticas
e do medo e da moeda e da política,
o verbo sempreamar
o verbo pluriamar,
razão de ser e viver.

Carlos Drummond de Andrade

( NOITES SEM CHUVA )

13.05.04, a dona do chá
Ver-te assim abandonado nos meus braços, desprendido de temores e assombros, faz-me ter mais coragem.
O mundo continua a se mover do lado de fora da nossa janela. Na nossa órbita giram, constantes e incansáveis, os problemas.

Dentro de nós, paz. E basta.

[ Paz (definição alternativa): o cheiro dos teus cabelos no travesseiro quando eu acordo de manhã.]

( FOTO EM PRETO E BRANCO )

13.05.04, a dona do chá
Para não falar somente de coisas tristes, Dona Constância folheava os antigos álbuns de fotografias. Ela gostava de virar as páginas dos seus pensamentos conforme observava as imagens do passado.
Erguia os olhos, de vez em quando, e via através da janela que ainda restavam pequenas partículas de água. Não havia nada além das gotas. Deslizavam desinibidas pelo seu pescoço e ombro, desciam pelo braço, desaguavam em seus dedos.

O passado era isto: uma mancha difusa irrigada pela saudade.

Pág. 1/2