A proximidade é um conceito estranho. Tão certo é a distância que nos separa quanto o amor que nos aproxima. Quando voltamos a nos rever, a amizade demonstra estar intacta. É um abraço apertado, é uma vontade de repor continuidades, é um não querer mais nos separar. Começámos a conversar como se nunca tivéssemos parado. É verdade que suscitámos algumas recordações. [não concebemos distinção entre passado e presente.] Então, cismo comigo mesma, que a proximidade é esta força que nos empurra a cultivar um sentimento. Deve-se lutar para o deixar intacto, resguardado das agressões do mundo. Quando ouço o som metalizado da tua voz através do telefone, sinto-te presente. Quando vejo o céu trespassado de leveza cor-de-rosa, aproxima-se de mim o entardecer de outros tempos. Recosto-me na cadeira. Alí, na varanda. Olha para a rua, mas vejo outra rua. Consigo visualizar-me a correr. Tu também lá estás. E tua irmã. Risos, joelhos feridos, brincadeiras. Tremo, aqui faz frio.