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Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Tão denso quanto sangue (4)

26.02.04, a dona do chá

Eu tenho uma firme convicção: quando estamos perto de realizar algo que sonhámos, algo que nos vai realizar e trazer felicidade, acontecem mil e uma coisas para atenuar isto. Esta convicção não evita o sofrimento, mas aumenta o sabor da dita realização. Eu só queria aprender a controlar este coração que bate incondicional...

Tão denso quanto sangue. (2)

26.02.04, a dona do chá

A decepção surge sem convite. Arrebenta com a porta e instala-se sem permissão. Desorienta o sentido de direcção. Deixa-se de olhar para frente - são as lágrimas que impedem de exergar ou é a alma que escorre e se perde?
Passado o impacto da queda, levanto-me. Meio encurvada, mas levanto-me. Surgirão mais episódios, bem sei. Racionalmente resolvo esquecer. Virar a página.
Na verdade A., sinto que talvez tenha sido a última vez que te vi, que falámos. Não lamento que seja assim, porque o meu amor fraterno por ti virou uma lembrança. A tua indiferença teve o efeito de uma frente fria.
A última frase que disseste foi: "depois eu mando-te um presente". E eu disse: "nunca me importei com presentes, não vou me importar agora".
Fechei o casaco, aconcheguei a gola ao pescoço, virei costas e não olhei para trás.

Tão denso quanto sangue.

23.02.04, a dona do chá

Quando se ama alguém como se fosse uma irmã e, por circunstâncias que fogem ao controle, o distanciamento nasce e se instala, a dor torna-se aguda. Hoje olhei para ti A. e pensei: "porquê?". Conversámos, mas era como se estivesse a falar para uma estranha. Terão sido talvez os 15 minutos mais longos da minha vida. Quantas madrugadas passámos acordadas a conversar e a despejar a alma e o coração? Quantas vezes te confiei pensamentos que a mais ninguém ousei partilhar? Quantas vezes sustentei as tuas lágrimas como se fossem minhas também? Eu estou tão triste como se alguém tivesse morrido. Talvez o amor por uma amiga também acabe. Talvez nunca tenha existido. Talvez, se eu fechar os olhos e for dormir, eu esqueça esta tarde. Este desolamento.

O cachecol envolve o pescoço.

20.02.04, a dona do chá
Espera-se que a névoa da noite se desfaça na timidez do sol que desponta na manhã. Os passos seguem incertos na indecisão do dia. É no seguir das nuvens que se contempla a verdade dos olhos. É no repisar do chão que se persegue os sonhos escondidos entre as pedras da calçada.

(...)

12.02.04, a dona do chá

« viver é ter
o tempo na mão
e o tempo ser
a entretecer
as teias da razão
um punhado de lume
na palma da mão
- quando nela olhamos
a semente e o fruto
a teoria e a prática
da libertação »

José Manuel Mendes, "Viver", Salgema.

Locais de interesse. (5)

12.02.04, a dona do chá

BetaMania

« Afinal, quantas vezes fui salva pela orla das marés de convicções tuas, e não minhas? Eu me deixei incrustar na madeira da tua cama, ouvindo tuas idéias de cabeceira, e foram elas que me fizeram a cabeça, que me salvaram do transtorno de não entender a única coisa que eu tinha: eu mesma. » ( 06.Fevereiro.2004 )

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dias que correm

« faz antes assim: olha-te ao espelho e verás o meu sonho. apenas a tua imagem em fundo negro. » ( 08.Fevereiro.2004)

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3tesas não pagam dívidas

« As democracias modernas estão assentes no ideal francês da Liberdade, Igualdade, e Fraternidade. Mas os franceses parecem que nos querem dizer aquilo que Orwell havia escrito no Triunfo dos Porcos: "Todos os porcos são iguais, mas existem uns mais iguais que outros". No caso francês, o que se impôe é: "Todos os franceses são livres, mas existem alguns mais livres do que outros" . Parece-me demasiadamente perverso para ser verdade. » ( 11.Fevereiro.2004 )

Já que não consigo dormir...

11.02.04, a dona do chá

- Deixo que a música invada o quarto, baixinho...
« Não vou mais falar de amor
De dor, de coração, de ilusão
Não vou mais falar de sol
Do mar, da rua, da lua ou da solidão »


- Deixo que a voz se aproxime de mim, em jeito de vaga. Recebo-a como uma náufraga.
« Meu vício agora é a madrugada
Um anjo, um tigre e um gavião
Que desenho acordada
Contra o fundo azul da televisão »


- Que esta grandeza me embale os olhos: a luz ténue da penumbra e o fluir do som.
« Meu vício agora...
É o passar do tempo
Meu vício agora...
Movimento, é o vento, é voar...é voar »


- Deixo que as imagens se formem. Vejo o céu, as aves, estar deitado na relva a olhar para o mesmo céu. Contemplar a passagem das horas vagas. Lembrar-me-ei destas horas...
« E mesmo assim fica interessante
Não ser o avesso do que eu era antes
De agora em diante ficarei assim...
Desedificante »


* Os trechos em negrito fazem parte da música "Meu vício agora" dos Kid Abelha

(...)

11.02.04, a dona do chá

« Não acabarão com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme
fiel
e verdadeiramente. »

Maiakovski

No fundo da gaveta.

09.02.04, a dona do chá

Enterra os dedos na terra,
Arranha a superfície formando fileiras
As unhas, lâminas afiadas pelo tempo
E o corpo, o próprio arado em evolução.

Deixa o suor cair nos galhos fortes
que as veias desenham em teus braços,
- liquefazem um caminho denso.
Sacia cada grão frutificado.

E quando o dia cair e o sol desmaiar
De cansaço, aos teus pés
Levantarás as costas doloridas
pela violência fingida,
e arrebatarás a posse com tuas mãos calejadas da lida.

Nesse momento serás o ser liberto.
O elemento que renasce após a dor.

Florescerás.

( ... )

08.02.04, a dona do chá

« Tira-me a luz dos olhos - continuarei a ver-te
Tapa-me os ouvidos - continuarei a ouvir-te
E, mesmo sem pés, posso caminhar para ti
E, mesmo sem boca, posso chamar por ti.
Arranca-me os braços e tocar-te-ei
Com o meu coração como com uma mão...
Despedaça-me o coração - e o meu cérebro baterá
E, mesmo que faças do meu cérebro uma fogueira,
Continuarei a trazer-te no meu sangue »

Rainer Maria Rilke

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