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Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Locais de Interesse. (4)

30.01.04, a dona do chá

Em Busca da Límpida Medida:

« Habita, aí, a quimera e o sortilégio da Límpida Medida./Uma assunção tão pura, tão férrea de fé, que fosse certa, não pudesse nunca estar errada. Pois não seria já assunção. Mas antes consciência. Tudo o que sentisse e pensasse seres, serias. E o mesmo contigo. » ( 21 Janeiro 2004 )

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Literatus:

« E ainda hoje, quando um poema dele me cai nas mãos, penso que houve um tempo em que dizer ¿eu te amo¿ exigia pompa e circunstância, um certo recato, como se o peso das palavras selasse a eternidade. » (dia 27 Janeiro 2004)

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Miniscente:

« Fica sempre por dizer aquele que é o primeiro olhar da manhã. As janelas abrem-se na frente dos olhos e dão-nos o pasto e o gorgolhar íntimo das ondas, talvez um dia nos concedam a evidência. » ( 29 Janeiro 2004 )

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Thelma & Louise:

« Entra, que os meus braços não param de crescer. / como fios eléctricos, estão cruzados, emaranhados. / descarnados não, ainda sonham ouvir Noc Noc. » ( 29 Janeiro 2004 )



 

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Inventário. (2)

30.01.04, a dona do chá

E lembras-te daquela música que fizeste para mim? Disseste que foi num dia, num repente, que começaste a tocar e as notas foram saindo, fluindo, dançando. Quando deste por ti, tocavas, tocavas, tocavas. Nunca precisaste de a escrever. Nunca precisaste de a aprisionar num papel ou numa gravação. Essa música está dentro de ti. Derramaste pelos teus dedos o som desse sentimento. Já lá vão uns dez anos. Naquelas dias de calmia - têm sido poucos, bem sei - eu costumo te pedir: toca para mim. Olhas-me com ternura, e dizes: o quê? E eu digo: tu sabes.

Inventário. (2)

30.01.04, a dona do chá
E lembras-te daquela música que fizeste para mim? Disseste que foi num dia, num repente, que começaste a tocar e as notas foram saindo, fluindo, dançando. Quando deste por ti, tocavas, tocavas, tocavas. Nunca precisaste de a escrever. Nunca precisaste de a aprisionar num papel ou numa gravação. A música está dentro de ti. Derramaste pelos teus dedos o som desse sentimento. Já lá vão uns dez anos. Naquelas dias de calma - têm sido poucos, bem sei - eu costumo te pedir: toca para mim. Olhas-me com ternura, e dizes: o quê? E eu digo: tu sabes.


( NO CONSULTÓRIO )

30.01.04, a dona do chá

A espera de se ser atendido num consultório, quando não se tem um bom livro para ler e distrair ensinou-me algo: ou se vê televisão (caso a clínica e/ou hospital tenha uma) ou se folheia uma revista.
No caso da televisão, os únicos programas televisivos são os talk shows. No caso da revista, geralmente ou se encontra daquelas revistas chamadas "cor-de-rosa" ou daquelas que fala da vida alheia dos ditos "membros" do jet set ( o que quer que isso seja...). Acabo por optar - quase sempre - pela revista. Folheio, folheio, folheio. Dou-me conta que só reconheci um nome naquele emaranhado de festas, entrevistas e artigos.

No fim deste exercício, sinto-me ignorante pelo meu desconhecimento. Mas não o lamento.

Inventário. (1)

30.01.04, a dona do chá

Buscar os indícios do que somos. Olhar para trás e ver todo o percurso. Contar a nossa história para aqueles que se interrogam: como tudo começou? Eu sei e tu sabes como foi que tudo aconteceu. Foi um sorriso, um olhar, sobretudo um encontro de pensamentos. Foi uma construção em conjunto. Agora resta juntar todas as nossas parcelas de vivência e eleger as que foram mais importantes. Será possível empreender esta selecção?
Há quantos anos nos conhecemos?
Há quantos anos nos amamos?
Esqueçamos esta soma, válido é saber que é infinito. Esta é a condição. A razão primordial. O que nos move: a certeza.

Descansa.

29.01.04, a dona do chá

Seguras o teu rosto com uma das tuas mãos. Indefeso. Pareces quase uma criança. A confusão do mundo confere cansaço aos teus passos. Dor. Insustentável dor. Afasta-a dos teus sonhos.
És sereno como o amanhecer e constante como a sucessão dos dias e das noites. Mas tens os teus limites.
Então dorme, sei que os obstáculos não desaparecem. Mas eles que esperem. Deixa que o sono te envolva na aura do esquecimento dos problemas.
Descansa. Eu vigiarei o teu sono. Por hoje. Para sempre.

Histórias ou sonhos.

29.01.04, a dona do chá

« A plataforma estava deserta, à excepção de alguns vendedores que marchavam ao longo das janelas, espreitando para dentro a ver se alguém estava acordado. Um a um, detiveram-se à janela de Edgar. Mangas, senhor, para si, Quer engraxar os sapatos, senhor, passe-os pela janela, Chamuças, São deliciosas, senhor. É um sítio estranho para um engraxador, pensou Edgar, e um rapaz acercou-se da janela e parou. Não disse nada, ficando a olhar para dentro, à espera. Por fim, Edgar começou a sentir-se constrangido sob o olhar insistente do rapaz. Que estás a vender, perguntou. Sou um wallah* poeta, senhor. Um wallah poeta. Sim, senhor, dê-me uma anna** e eu recito-lhe um poema. Que poema. Qualquer poema, senhor, conheço-os todos, mas para si tenho um poema especial, o poema é antigo e é da Birmânia onde lhe chamam "A História da Viagem do Leip-bya, mas eu chamo-lhe simplesmente "O Espírito da Borboleta" porque o adaptei pessoalmente, É só uma anna. Sabes que eu vou para a Birmânia, Como? Sei porque conheço a direcção das histórias, os meus poemas são filhos da profecia. Toma uma anna, vá, depressa, o comboio está a andar. E estava, gemendo com o girar das rodas. Recita depressa, disse Edgar, sentindo subitamente uma onda de pânico, Há uma razão para teres escolhido a minha carruagem. O comboio corria mais depressa, o cabelo do rapaz começou a esvoaçar com o vento. É um história de sonhos, gritou, Todas as histórias são de sonhos. Mais veloz agora, e Edgar ouviu os sons de outras vozes, Ei, rapaz, larga o comboio, Tu, passageiro clandestino, Sai daí, e Edgar quis também gritar quando, por um breve instante, surgiu à janela o vulto de um polícia de turbante, também a correr, e o lampejo de um cassetete, e o rapaz desprendeu-se e caiu na noite. »


* Termo hindi que designa uma pessoa que encarregada de um trabalho ou obrigação específicos (N. da T.)
** Moeda antiga da Índia, Paquistão e Bangladesh, equivalente a um dezasseis avos da rupia (N. da T.)




Daniel Mason, O Afinador de Pianos

( A CAMINHANTE 2 )

29.01.04, a dona do chá

Para Ane Walker:

« Andar e pensar um pouco,
que só sei pensar andando.
Três passos, e minhas pernas
já estão pensando.

Aonde vão dar esses passos?
Acima, abaixo?
Além? Ou acaso
se desfazem no vento
sem deixar nenhum traço? »
Paulo Leminski


(ps. Apenas uma forma simples de desejar que a nuvem que te sombreia passe rápido)

( A CAMINHANTE 1 )

29.01.04, a dona do chá

Ane Walker inscreve-se dentro do meu quotidiano de leituras. Não, eu não a conheço pessoalmente. Acompanho-lhe apenas as pisadas que tem deixado ao longo do caminho, em cada post que escreve. Há muito que lhe vislumbro a estrada que constrói. Todos os dias.
Encontrei o blog da Walkwoman há alguns meses e, desde aí, não pude deixar de acompanhar as suas impressões. O que o olhar de Ane capta é substanciado em palavras, de forma genuína e bela.

« Quando penso me cansar da vida, caminho. Tento me cansar de qualquer coisa, sentir dor nos pés, calcanhares e plantas, nas pernas, coxas, panturrilhas e joelhos, abdome em posição de susto, peito esvaziando e enchendo em necessidade urgente, tudo para não sentir o coração dentro. Enquanto caminho, ele pulsa violentamente, bombeia meu sangue, irriga meu corpo, órgãos vitais, todos os pontos de minha carne e pele e todas as pontas de meus dedos inertes. Bombeia violentamente a vida que caminho. Não caminho para ela, estou nela, caminho por ela, por mim, por dor ou por alegria, para senti-la de algum modo diferente. Tento senti-la então nos músculos cansados de minhas pernas. Tento senti-la no sol que ultrapassa minhas lentes ou na música que me fere os tímpanos. Caminho porque meu corpo vive independente do silêncio interior. No entanto, acontecem os dias em que meu corpo me grita e pára. É quando sento em degraus, em pedras ou na grama e ele se aquieta para dar lugar a esta outra que tento sufocar dentro de mim. Esta que caminha dentro. Incansável. Esta que tento fazer calar. » (29 de Agosto de 2002)

Pode não ser a intenção de Ane, mas sinto a escrita dela de uma forma muito pictórica. Leio cada frase e, de repente, dou por mim a reconstruir um cenário, a visualizar uma pintura onde se desenha a "estrada" que ela percorre.

« Estou caminhando. Caminho em muitos sentidos e direções. Nada procuro, mas encontro. Tropeço e perco coisas pelo caminho. Tombos. Machucados. Flores. Eu caminho. Sóis, manhãs, tardes, noites e estrelas... eu caminho. Vejo você, mas sigo. Talvez você queira vir comigo. Talvez saiba contar histórias bonitas. Talvez conheça caminhos que eu não percorri. Posso contar também. Posso mostrar. Posso caminhar com você. Estou indo. Você vem ou fica? » (13 de Agosto, 2002)

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