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Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Dinâmica dos estilhaços.

11.12.03, a dona do chá

Submersa na apatia da inacção, reservo-me ao silêncio. Guardo-me da agilidade das decisões concretizadas.

Sou uma passageira de comboio. Passo por vários locais. Vejo os mesmos rostos em diferentes horários. O vento artificial espalha-me os cabelos. Portas que se abrem e que se fecham. Barulho de sacolas. Crianças que se empurram por entre adultos impacientes. Os campos esborratam-se na janela com a velocidade do andamento. Pessoas distraídas olham, falam e não ouvem.

Eu permaneço.

Um dia tudo mudará. Consigo ver o desfecho. (Porque a imobilidade também tem as suas vantagens, permite vislumbrar realidades que estão escondidas pela azáfama da acção). Simplesmente abrirei a janela e lançar-me-ei borda fora. Em pleno ar. Apesar do medo, sentirei coragem. A vida irá entranhar-se nos meus ossos. Abandonarei a mornidão da hesitação.
Após o voo, cairei no chão. Transmutada em estilhaços, ficarei desfeita em milhares de grãos. É preciso chegar ao fundo para se poder reconstruir. De grão em grão.

De passageira, tornar-me-ei completa.

Os dois lados do espelho.

03.12.03, a dona do chá


« Gosto de pensar que há um mundo paralelo. Ou antes, vários. Onde os caminhos que seguimos são outros. Onde as vidas que temos são diferentes. Onde os dias que vivemos, no entanto, duram iguais 24 horas. Quantas vezes já não me terei cruzado comigo mesma? Não tenho medo algum de viver, pelo contrário, fascina-me. Mas na desenfreada roda-viva em que andamos, o tempo escasseia ainda mais depressa. Juntando todos estes mundos, no fim de uma vida teríamos feito tudo! Haveria melhor??? »

dito pela D. do blog Leite.de.Creme

No silêncio das cores fortes.

03.12.03, a dona do chá

O silêncio é uma palavra, um conceito, um anseio, uma virtude (ou defeito) motivador da minha atenção. Já aqui falei do |Silêncio Digital| da Mónica. Hoje vou referenciar outro blog.

Trata-se do Silêncio em Cores Fortes, um blog escrito por Maurem Kayna e por Tereza Fernandes. Aparenta ter sido criado há pouco tempo, mas já promete conceder momentos de interessante leitura.

« Em traços, passos e horas nubladas, vejo desenharem-se horas vindouras. Contornos imprecisos que o pincel terá de demarcar com decisões. Texturas que irão se descortinando com o avançar dos dedos tingidos de expectativa sobre a tela dos dias. O esboço foi delineado ao longo de tudo que me sou até aqui... a concretude da tela vai nascendo assim... a cada movimento, mesmo os cegos... Os pincéis ainda repousam ao lado do cavalete, mas a mão já se adianta para tomá-los e definir o traço... entretanto, demora-se no ar úmido que segue-se à chuva.
Antes disso pretendo colher margaridas para o vaso longo que ocupa o canto do estúdio. »
por Tereza Fernandes


«As segundas-feiras eram sempre mais complicadas que qualquer outro dia, pois, invariavelmente, esquecia a agenda no trabalho e não conseguia lembrar os compromissos programados para a primeira manhã da semana. E lá ia ela saindo de casa atrasada, sem tomar café e com uma lista confusa de possíveis tarefas a vencer.

Tinha vontade de mudar, mas não encontrava uma brecha nos atropelos das horas. Então seguia, arrastada pelos cabelos por ponteiros de péssimo humor. »
por Maurem Kayna.

Entre nós, um oceano. (3)

03.12.03, a dona do chá

Mais uma vez, o telefone.
Ouvi a risada da minha prima Sandra, da minha cunhada Rô e a voz da minha amada madrinha.
Nestas alturas, eu reafirmo a convicção de que a felicidade não é um estado constante, é feito destes breves momentos. Ao contrário da saudade, que entranha-se debaixo de pele...

Entre nós, um oceano. (2)

03.12.03, a dona do chá


Não medimos a duração dos nossos passos. Tentamos compôr o desenrolar do quotidiano: muda-se o que pode ser alterado, conforma-se com o que é inevitável. A dada altura, a interrogação flutua. Primeiro, discreta e inofensiva. A seguir, angustiante e insistente. O que nos faz seguir determinado rumo? A ânsia de entendimento embriaga-se com o tormento do vivido.

Quatro pólos de contenda interior:
- o vivido
- o não vivido
- o que poderia ter sido vivido
- o que não se pode viver

A descoberta de uma maneira razoável de conviver com estas quatro forças permitirão o alcance de uma certa paz.

Entre nós, um oceano. (1)

03.12.03, a dona do chá

Eu:
-Estou ligando para dar parabéns à Rô e à Ana Carolina. Tentei ligar antes, mas nunca consigo encontrar alguém...
Meu irmão (com voz risonha):
- O telefone daí deve estar estragado ou algo assim... Mas você chegou tarde...
Eu (meio confusa):
- Cheguei tarde?
Meu irmão (ainda com a voz risonha):
- Você chegou tarde porque a festa já acabou...
Eu (agora entendendo o alcance da frase e rindo):
- Ahhhh! Vocês estão a comemorar...
Meu irmão:
- A festa da minha filha! Terminou mesmo agora...
Eu (meio brincalhona):
- E você não guardou um pedaço de bolo? nem um "brigadeirozinho"...?
Meu irmão (também brincalhão):
- Pôxa, não sobrou nada... Todos estiveram aqui: a tua madrinha, a tia Enir... todo mundo...
Eu (melancolicamente):
- Todo mundo...


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É tão estranho como um telefonema parece encurtar distâncias e, ao mesmo tempo, torna-as mais evidentes. Quase como um muro. O telefonema tinha como razão fundamental dar os parabéns à minha sobrinha ( que eu ainda não conheço, fez um ano de vida) e à minha cunhada Rô ( que também fez aniversário). Ouvir a voz do meu irmão Adriano ao pé do ouvido permitiu-me visualizá-lo, e também imaginar todas as pessoas que lá estiveram com ele. Imaginei um rostinho de criança - minha sobrinha - que ainda não conheço (a não ser por fotos). Lembrei-me de festas de criança do passado, quando todos nós viviamos momentos de fantasia, a sonhar os sonhos de meninice, a esconder-mo-nos debaixo da mesa para comer um doce longe do olhar adulto. Era numa altura em que ainda se podia ir para a rua brincar. Era o tempo em que a família estava toda reunida, e não existia o dia seguinte. O amanhã era o pedaço de bolo da festa anterior.

O dia de hoje pode parecer resultar do inesperado. Contudo, a história continua a circular.... A família persiste, mas fragmentada. O sentimento existe, o oceano nos separa. Então, a realidade para seguir o seu rumo natural...

Eu queria fazer parte da dita realidade. Existe sempre um "porém" que nos impede de concretizar o que desejamos....

Entre nós, um oceano.

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