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Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

O coração é um órgão de fogo. (2)

16.12.03, a dona do chá

Ó Deus ouve a voz que parte do meu coração. Preciso tanto de ti neste dia. Preciso tanto de ti a cuidar do meu pai. Sabes que creio em Ti. Sabes que Te amo. Conheces o meu ser, o meu sentimento e a minha dor.
Fica do lado do meu pai, zela por ele.
Quero entender tudo isto que está a acontecer. Sei que há um propósito. Não consigo ver de imediato qual será, mas confio em Ti.
Conforta-o nestas infindas horas de branco de hospital.
Há coisas que não podemos entender agora, mas um dia entenderemos.
Obrigada por me ouvires a minha prece, meu Deus

O coração é um órgão de fogo. (1)

16.12.03, a dona do chá

Desde que tudo começou não consegui pensar noutra frase: "o coração é um orgão de fogo". Uma frase dita num filme, "O Paciente Inglês". E o fogo enfraquece, um dia se extingue.

Sinto-me tão cansada que não consigo escrever e, ao mesmo tempo, percorre-me uma necessidade de expelir esta dor através das palavras. Atirar para fora não somente lágrimas. Não sou triste, melancólica talvez. Não consigo evitar, porém, uma profunda tristeza. Tudo pode mudar num segundo, algumas coisas vão mudando gradualmente. Qual das duas situações causará mais danos? A dor, meus caros, é provavelmente o sentimento mais pessoal e intraduzível que existe, e indissociável do amor.

Meu pai, neste momento a tua dor é física. O fogo do teu coração falhou. Ontem quando te olhei pela última vez, ao sair da ambulância, vi o medo. Não sabes o que te vai acontecer. Não sabes se foi apenas um aviso, para que entendas que a força da tua personalidade não acompanha o desgaste da idade. Olhaste por uns segundos para mim, não mais. Como se não quisesses ver que também eu sentia medo. E sinto. Não estou preparada para te perder, entendes? Não estou preparada para deixar de ouvir as tuas rabujices. Tanta falta me fazem agora...

Quando cheguei em casa e não te vi sentado no sofá, aguardando para ver as notícias do Brasil, um peso desceu sobre mim. Este é o teu quotidiano: trabalho e fim de noite a ver notícias. Admiro a tua capacidade de achar que as coisas vão mudar. Pensarás ainda assim?

Neste momento, a tua companheira de toda a vida, a minha mãe, deve estar do teu lado a segurar a tua mão e a dizer-te:"tudo vai ficar bem, descansa". Não sei se vou aguentar ver-te prostado, sou tão fraca...

Lembro-me de ti, da minha mãe, de meus irmãos, da nossa infância, de como a vida passa e os sonhos se perdem. Meu pai, sei que achas que a tua vida foi em vão, que passou tão rápido e tu não a pudeste agarrar. Esquece isso pai, esquece os lamentos, todos nós te amamos. Cada um do seu jeito sem jeito. Ainda há muito a viver. Ainda há muitas mágoas a desfazer e cicatrizes a desaparecer. Ainda precisamos de ti, mesmo que não percebas isso.

Quero voltar a afagar os teus cabelos brancos, quero ouvir as tuas histórias de outros tempos, quando eras novo e navegavas pelo mundo fora. Quero que um dia, quando eu tiver os meus filhos, eles possam ouvir de tua boca essas mesmas histórias.

Não deixes que o teu fogo se extinga. Não deixes, meu pai. Atende ao pedido desta tua filha.

Retratos.

15.12.03, a dona do chá

Crescer

Olhinhos azuis. «São da cor do céu...», completas tu, orgulhoso da comparação que te ensinaram a fazer. Mas sem saber ao certo o que é o céu. Sem saber por que é que os teus olhos são azuis e não cor-de-rosa, a cor de que tanto gostas.

Um dia vão-te ensinar que o céu é um composto de azoto, ozono, oxigénio e dióxido de carbono. Sim, é verdade! E tu vais acreditar, porque quando fores grande já não te vai contentar a explicação que a mãe te dá agora:

«O céu é onde mora o Jesus!»

Jesus, esse nome que a mãe dá ao lugar onde te diz que a avó está. Esse lugar de longas filas de pedras brancas por onde corres, para onde saltas... Enquanto vês a mãe, de joelhos, numa dessas pedras a lavar a avó e a pôr-lhe flores em cima. Um dia, talvez vejas nesse lugar as correrias dos teus filhos...

Meu menino lindo, vai levar menos tempo até que te digam que o cor-de-rosa é para as meninas e que te impinjam o azul. Nunca te deixarão ter uma mochila cor-de-rosa para levares para a escola. Veremos como te rirás de tudo isto, daqui a muitos, muitos anos, quando usares camisas e gravatas dessa cor.

Sorriso matreiro, a dizer «gosto de ti», para que te leve comigo ao café e te dê um gelado cor-de-rosa, o teu preferido... ainda não sabes que é de morango...

Será que vais deixar de gostar de mim quando descobrires que te menti? E que na portinha pequenina, feita na parede do corredor do nosso prédio, não mora nenhum gnomo, mas sim o contador da luz?

Sei que vai ser um choque para ti perceberes por que é que o teu patinho só fala quando eu estou por perto. E não deve demorar muito até que isso aconteça, sinto que já desconfias... mas quando verdadeiramente confirmares a tua suspeita, vou-te ensinar a falar pelo patinho, assim os dois vão poder conversar a sós e já não vão precisar de mim.

Bebezinho, esses olhinhos azuis que agora encantam os adultos, um dia vão encantar namoradas. Nesse dia vou-te contar que quando eras pequenino me beijavas os lábios e dizias satisfeito que eras o meu namorado. Vou ter um desgosto, semelhante ao que tu tiveste quando o mano velho levou a casa a sua primeira namorada. Aquela de quem tens ciúmes porque a vês beijar o teu mano e a quem te recusas dar um único beijinho...

Quando tiveres a tua namorada eu já terei envelhecido, não muito, mas alguma coisa... e vou ver incrédula o quanto cresceste... Então vou-me deliciar e contar vezes sem conta as asneiras que fazias, quando ainda te chamava, com razão, bebezinho...

Felizmente, ainda faltam muitos anos da tua vida que não tenciono perder... e não vale a pena pensar no que ainda não há-de vir para breve, não agora que te tenho aqui ao meu colo a querer dormir... o patinho de borracha já dorme, digo-te eu...

«De olhos abertos?», perguntas tu.

«Pois ainda não está bem a dormir... está à espera que adormeças!», remendo eu.

Estás a crescer, é impossível ignorá-lo, começas já a duvidar de algumas coisas que te digo... não tarda muito vais saber que sou eu que falo pelo patinho...e vais saber do contador da luz... Mas isso agora não importa, anda cá, vou-te contar uma história e tu... vais sonhar com o teu patinho falador.

por Andreia Lobo (jornalista da Página da Educação)

Canto para ti.

13.12.03, a dona do chá

« I needed the shelter of someone's arms and there you were
I needed someone to understand my ups and downs and there you were
With sweet love and devotion
Deeply touching my emotion
I want to stop and thank you baby
I just want to stop and thank you baby

How sweet it is to be loved by you
How sweet it is to be loved by you

I close my eyes at night
Wondering where would I be without you in my life

Everything I did was just a bore
Everywhere I went it seems I'd been there before
But you brighten up for me all of my days
With a love so sweet in so many ways

I want to stop and thank you baby
I just want to stop and thank you baby

How sweet it is to be loved by you
How sweet it is to be loved by you »

JAMES TAYLOR, How Sweet It Is (To Be Loved By You)

Entre nós, um oceano. (4)

12.12.03, a dona do chá
Nos filmes (que a televisão exibia) e nas histórias (que os livros contavam), figurava o Natal inscrito na neve e no frio, realidade abstrata aos meus olhos. Desde que tudo mudou e que conheci o frio no (e do) Natal, esta data perdeu um pouco do seu encanto. Os preparativos, as músicas e os enfeites são aprazíveis, mas quando chega o dia 25 eu só consigo ansiar pelo seu fim.

Faz-me falta ver o sol em chamas às 7 da manhã.
Faz-me falta o límpido do céu, enorme tecto azul...
Faz-me falta o cheiro quente do fim de tarde.
Faz-me falta ouvir o som intenso das cigarras.

Não posso mais sentir o calor em (e de) Dezembro.
Não posso mais.

Lombadas. (3)

12.12.03, a dona do chá

O meu coração rejubila de alegria. Vi livros novos na Biblioteca Municipal (como já referi anteriormente, é um facto pouco usual). Minhas preces foram ouvidas... Requisitei dois livros: "A Rainha do Sul" (Arturo Pérez-Reverte) e o "O Afinador de Pianos" (Daniel Mason). A minha dúvida era: qual devo ler em primeiro lugar? (Este é um luxo pouco frequente, portanto, desfrutei-o enquanto pude).
Optei pelo Pérez-Reverte.

Os direitos de autor na blogosfera.

12.12.03, a dona do chá

Durante uma semana não escrevi nada, mas acompanhei através da leitura de alguns blogs favoritos ( nomeadamente a Walkwoman e o Papel de Pão ) um facto que gerou grande polémica no universo dos blogs brasileiros, de âmbito mais literário. Tratou-se de um roubo. Podemos considerar a apropriação de textos, fotografias e ideias sem a devida creditação como um roubo, não é mesmo?

A Ticcia, autora do blog Não Discuto descobriu que dois blogs reproduziam textos seus, sem demarcarem a devida autoria. Um dos blogs seria de Helô Abreu; mas este foi deletado após a divulgação do furto. O outro blog é de Gabriela Gomes, que ainda está em funcionamento. ( No post « As mulheres que copiavam » pode-se ler em pormenor sobre este caso.)

Segundo a Ane Walker, 15 autores de blogs reconheceram textos e imagens no dito blog da Gabriela Gomes.

Por outro lado, a Ticcia do Não Discuto é advogada e está estudando alguma forma legal das infractoras serem punidas. Falamos de uma matéria específica - os direitos de autor. Várias questões surgem na minha mente: Como punir alguém que rouba um texto na Internet? E quando falamos de um universo como o dos blogs, onde um nome pode ser apenas um nickname e os dados podem ser inventados, como identificar o infractor? Como funcionam os direitos de autor para casos como esse aqui em Portugal? Mais: alguém já ouviu falar de um caso semelhante a este, no contexto da blogosfera portuguesa?

Apelo ao Rui, talvez ele saiba me esclarecer o que a lei diz sobre estes casos. E quem tiver algo a dizer, que fale. Eu estarei aqui para ouvir. Parece ser um assunto para um interessante e produtivo debate.