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Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Locais de interesse.

31.12.03, a dona do chá

Coração agradecido.

29.12.03, a dona do chá

Não posso deixar de expressar o meu agradecimento à todos que transmitiram uma palavra de solidariedade e carinho durante este período difícil. Amigos reais e familiares (que sei que lêm estas linhas), amigos virtuais (sim, é verdade que também nos afeiçoamos através deste meio) e mesmo alguns desconhecidos que por aqui passaram. Pessoalmente, através de email, carta, mensagem de telemóvel, de outras pessoas, por telefone, o apoio chegou até ao meu coração.
Quero deixar aqui marcada a minha gratidão. Obrigada pelo vosso carinho.

« Em todo o todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão.» Provérbios 17:17, Bíblia Sagrada

Natal invulgar ou o aprendizado de uma lição sem fim.

29.12.03, a dona do chá

Passei por um Natal invulgar. Fui apanhada por um sentimento pouco usual. Senti-me feliz neste Natal. Logo eu, que há muito tempo deixei de gostar de Dezembro. Gosto do Natal, pelo o que ele realmente é: a celebração do nascimento de Cristo. Socialmente, porém, o Natal é visto como uma data agregadora de convívio familiar e, neste sentido, há muito deixou de ser especial para mim.

O que, então, tornou o meu Natal feliz? O meu pai saiu do hospital antes da véspera de Natal e, como não acontecia há bastante tempo, o convívio foi excelente. A sombra que costuma ensobrar a ceia esteve ausente. Dissipada. Havia sorrisos e risadas. Dei por mim a olhar para o cenário, como se estivesse do lado de fora e não pude deixar de pensar que estava presenciando e vivendo uma bênção. Talvez Deus quisesse me mostrar que devo estar grata. Talvez Deus quisesse revelar um pouco daquilo que podemos alcançar. Paz, harmonia, amor. Quem sabe o que estava no pensamento de Deus era demonstrar que nós podemos renascer: fisicamente (bem-estar) e emocionalmente (em sentimentos, acções e palavras).

Mais do que receber, importa valorizar o que já se tem. Acarinhar o que possuímos. E sermos gratos pelo Deus concede.

A cada dia.

29.12.03, a dona do chá

 « (...) assim como o Senhor 

alimenta as aves do céu
veste os lírios dos campos,
de beleza e esplendor
Ele cuida as nossas vidas,
supre as necessidades
a cada dia, a cada manhã. »

A Cada Manhã, Asaph Borba

O coração é um órgão de fogo. (6)

27.12.03, a dona do chá

A tua ausência foi uma experiência de profunda estranheza. O silêncio perdurava e afligia-me. Não queria este tipo de silêncio.
Até as pequenas coisas que sempre me causaram irritação, faziam-me falta. Como quando me chamavas por tudo e por nada:
- Ó minha filha, onde estão as minhas chaves?
- Estão no lugar de sempre, pai.
- Não estão nada...(!)
- Estão sim.

Então, eu confirmava que as chaves estavam no mesmo lugar. Tu rias, com sorriso maroto. O que tu realmente querias é que eu te desse atenção. És um pai que gosta de ter os filhos à tua volta, gostas de ser acarinhado, nem que seja no gesto de te dar as chaves de casa, ou a fazer um café fresquinho.

O coração é um órgão de fogo. (5)

27.12.03, a dona do chá

Não nos ensinaram a enfrentar estas situações e, apesar de todas as coisas pelas quais já passamos, esta é uma situação completamente nova. Não sabia como iria reagir. Não sabia como seria ver-te numa cama de hospital. Estava receosa. Tinha medo que as minhas emoções fossem incontroláveis.
Agora sei. Sei que não foi fácil.
Mais uma vez, vi o medo a passar pelos teus olhos. Vi que as tuas esperanças se dissipavam, como se caminhasses por uma estrada sem volta. Ou como se este fosse o início do fim. Eu vi tudo isso nos teus olhos. Sempre foste um misto de familiaridade e mistério. Há facetas tuas que conheço muito bem; palavras, gestos e sorrisos que entendo de imediato o significado. Há alturas, porém, que vejo uma névoa que me oculta pensamentos teus.
A tua voz soía fraca, lenta e cansada. Sei que estiveste a lutar... Sempre foste e sempre serás um lutador. Já passaste por tantas coisas. Já enfrentaste tantos problemas, humilhações e afrontas. És um destemido, meu pai. Admiro a tua força e a tua coragem diante do inusitado. Tens teus defeitos, é inevitável. Mas eu te amo assim.
A primeira coisa que eu fiz quando te vi naquela cama de hospital na U.C.I. foi passar as minhas mãos pelos teus cabelos grisalhos e pelo teu rosto. Sorrir para os teus olhos, transmitir o meu amor de uma forma tranquila, sem te alarmar. E tu me olhaste com tanto carinho... Então disse-te: "Todos mandam beijos para ti, sentem a tua falta e estão a orar por ti". Falei também que o teu filho A. liga todos os dias do Brasil.
Então, colocaste o braço por cima do rosto e, em soluços, começaste a chorar. Quis interromper as tuas lágrimas porque não podias te emocionar. De repente pensei: deves chorar muitas vezes de noite, sozinho neste leito... Olhei para a máquina que estava ao lado da cama e vi as batidas irregulares do teu coração. Lembrei-me de quando era criança e tu me deixavas sentar na parte superior do sofá para eu fazer penteados no teu cabelo, enquanto conversavas com a mãe ou vias televisão.

Tens que quietar o teu coração. Não fiques preocupado, meu pai, está tudo bem. Cuida de ti e não desistas de lutar.
(17/12/03)

O coração é um órgão de fogo. (4)

16.12.03, a dona do chá

« Meu pai, dá-me os teus velhos sapatos manchados de terra
Dá-me o teu antigo paletó sujo de ventos e de chuvas
Dá-me o imemorial chapéu com que cobrias a tua paciência
E os misteriosos papéis com que teus versos inscreveste.

Meu pai, dá-me a tua pequena chave das grandes portas
Dá-me a tua lamparina de rolha, estranha bailarina das
[insônias
Meu pai, dá-me os teus velhos sapatos. »

Vinícius de Morais

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