Antes de dormir.
Penso em ti. Penso em mim. Penso em nós.
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Penso em ti. Penso em mim. Penso em nós.
Ontem encontrei três amigas de diferentes contextos. Com cada uma eu tenho uma história de companheirismo diferente. São pessoas especiais a quem dedico um sentimento de gratidão e ternura. Sou devedora de lhes dedicar mais do meu tempo e atenção. Sou culpada por estar absorta pelos meus próprios problemas e angústias. Às vezes, perco-me dentro da minha própria imperfeição.
Encontrei-as por mero acaso, e num dia significativamente marcante. Um sinal para eu relembrar que a duração da tormenta pode ser longa, mas um dia passa.
Concretizar uma etapa gera uma grande satisfação interna. A perfeição da obra é uma preocupação que atormenta durante todo o processo, mas que perde algum do seu peso e significado, aquando da sua finalização. Ver um plano a ser materializado é inigualável. Finda a etapa, prevalece uma sensação de alívio por chegar ao fim e, ao mesmo tempo, um gosto de vazio...
Abraçar desafios leva-nos a percorrer degraus. O cansaço e a falta de ar na subida são consequências inevitáveis. A recompensa é sentir sair das costas o enorme peso que a responsabilidade, por vezes, nos impõe.
Esta semana tenho escrito pouco. Todos os dias dedico um tempo para ver os meus blogs preferidos e para conhecer novos blogs também. E nesta semana aconteceu-me uma coisa estranha. Dei por mim deslumbrada com alguns blogs. Há blogs que já me deslumbravam, cada um por motivos diferentes. Escrita, conteúdo, imagens, senso de humor, verdade, sinceridade, e partilha são factores que me despertam a atenção. A medida que o tempo passa (e já leio alguns blogs há muito tempo) percebo que há grandes pessoas neste meio. Não sei se me faço entender com esta afirmação. Não estou a falar de popularidade. Estou a falar de pessoas que trazem dentro de si algo de belo e de brilho, que transborda a superfície de um ecrã. E isso me deslumbra. Todos os dias eu aprendo, me comovo, sofro, rio (sorrio também), irrito-me e reflito por causa do que tenho lido. Inúmeras são as vezes que leio algo e vejo em determinada pessoa um gosto ou pensamento em comum. Por outro lado, também encontro ideias opostas, e isso representa sempre um desafio.
O Pedro do Icosaedro disse há uns dias que "o nível de partilha de experiência proporcionada por um blog é, para mim, fascinante e revolucionário". Concordo.
«Sempre houve e haverá um combate inevitável entre a Subjectivização da realidade e a sua Objectivação. E é esse combate que, sendo incontornável, hoje está mais vivo do que nunca. Veja-se a homogeneização dos "telejornais". Como se de repente fossemos como que obrigados a crer que a realidade é um telejornal. Talvez o seja, para quem só vê telejornais. Mas só um idiota é capaz de pensar que não existe mais realidade para além de um ecrã. Talvez um ecrã seja o novo espaço de acolhimento dos desligados do "mundo objectivo": Asilos pós-modernos.»
Transcrevi este trecho de "A Escrita dos Olhares", de Isaac Pereira. Acho que foi o melhor post que eu li sobre os telejornais. Um espaço a visitar e a fidelizar.
Somente após o apelo das cigarras, é que a tarde começava a cair. No ar hesitava um cheiro meio acre a mornidão. Um fim de dia se firmava na lua, tímida palidez no céu. Primeiro uma, depois duas, no minuto seguinte eram milhares de cigarras. As cantoras invisíveis, habitantes da vegetação densa. A pele respira este apelo das cigarras, de que a noite em breve vem, de que o dia deixou de ser. Lentamente.
Sentada no muro do terraço assistia a tudo isso impávida. Pés descalços a balançar, a reunir todos os detalhes. A alimentar a minha ânsia de pertença.
Se eu fechar os olhos ainda as posso ouvir, distantes. As cigarras.
Se eu fechar os olhos sei que posso transformar a saudade em presença.
A duração não importa quando se sente de forma plena.
Gosto de pensar que o poema é « rigor e desmedida », « um sim e um não, e ainda um plácido talvez ».
Mas gosto ainda mais de pensar que neste equilíbrio entre opostos, estamos todos nós - enquanto leitores - desconstruindo e construindo o poema, num processo interminável ( ou não? ) de significações.
O leitor também é um ser solitário.