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Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Vozes antes de dormir.

31.08.03, a dona do chá

Ouço vozes que vêm da rua. Dois, talvez três homens, a discutir. Vozes arrastadas. Vozes já conduzidas pelo álcool. Vozes que pertubam a tranquilidade da noite. A madrugada dá passos lentos, assim como o sono que tarda a despontar. Pode até ser que ele surja.
Talvez.

Uma voz amiga e um reencontro.

31.08.03, a dona do chá

Voltar a ouvir uma voz amiga pelo telefone também pode aumentar a sensação de proximidade. Ontem voltei a ouvir a voz da minha grande amiga A., que esteve a viajar. Depois de muito tempo de trabalho, teve as férias que merecia. Disse-me que tínhamos que nos ver urgentemente porque tinha muitas histórias para contar, muitas fotos para mostrar, muitos deslumbramentos para descrever e muitas saudades para matar. Eu respondi que "Sim, vamos nos encontrar, tenho muitas saudades tuas".
Espero que o reencontro seja em breve.

Uma voz amiga e um desencontro.

31.08.03, a dona do chá

Voltar a ouvir uma voz amiga pelo telefone diminui, por vezes, a sensação de distanciamento. Principalmente quando a distância é delimitada por um imenso oceano. Um desencontro, um email lido tarde demais, fez-me perder a oportunidade. O momento não se concretizou. Ainda bem que a amizade não se desfaz com a distância, com os desencontros e com os imprevistos. Tranquiliza-me saber que posso contar com esta amizade, e ela saber que pode contar comigo.
Neste instante penso na minha amiga D..
Tão longe de mim, mas tão perto do meu coração.

Maresia.

31.08.03, a dona do chá

Ler um livro em que a história se passa numa ilha faz-me visualizar uma praia, uma escarpa, um povo a lutar pela sua terra. Posso quase sentir o vento que vem do mar, o liso som da areia se movendo nas dunas e o encrespar das ondas. Posso quase sentir o gosto do sal na boca. Quase. E já basta.

Plano não concretizado.

31.08.03, a dona do chá

Há dias em que perco o controlo da situação.
Planeio no dia anterior uma série de coisas a serem concretizadas no dia seguinte. Anoto numa lista tudo o que tenho de fazer durante o dia. Penduro uns post-it's, para avivar a memória sobre alguma coisa. Mesmo assim, chegado o final do dia, nem a metade do meu "plano" foi concretizado. Será que o tempo anda rápido demais? Ou serei demasiadamente lenta?
Talvez as duas alternativas.

Música antes de dormir. 1

29.08.03, a dona do chá

Não sei se agora chove. Tenho as persianas fechadas. Não quero ver. Meus olhos pesam. Primeiro indício do sono desejado. Ouço James Taylor. Ouço "Shed a little light". Agora sei que vou conseguir dormir.

Chuva de Verão.

29.08.03, a dona do chá

Os carros amontoavam-se na rua, as pessoas circulavam apressadas de um lado para o outro e, por vezes, esbarravam-se entre si. A azáfama é natural em todas as quintas-feiras: é o dia de Feira.
No verão, neste dia da semana, a cidade fica ainda mais movimentada. Grande parte das pessoas estão de férias e a passear. Os imigrantes aproveitam para visitar a família e comprar umas lembranças. E também aparecem muitos estrangeiros.
Parece que tudo muda de cor.
A cidade, que costuma ser tão pacata, torna-se imparável. Pelo menos, até ao fim da tarde.
Ela gosta de ver tudo isso da janela. O cenário fica mais real da varanda, do que quando está no meio da multidão. Não sabe explicar a razão.
Ontem, o dia foi diferente dos outros. Choveu. O que modificou um pouco o cenário. As pessoas andavam apressadas. Queriam fugir. A maioria andava sem guarda-chuva, apesar da chuva não ter surpreendido ninguém por aqueles lados. Choveu de madrugada, amanheceu chovendo ainda mais, e manteve-se constante durante todo o dia. Poucas pessoas paravam nos cafés. Muitas pessoas andavam excessivamente agasalhadas. Os carros - esses mantiveram-se fiéis - enchiam as ruas, mas a passos lentos.
De olhos postos na rua, no céu e na chuva ela desceu os degraus que afastam o apartamento da realidade. Utilizou a desculpa de levar o lixo ao contentor. Saiu sem agasalho e sem guarda-chuva. Fechou os olhos, e deixou-se estar. Sentir a chuva.
Sentir o momento.
Levantou os olhos para olhar a sua varanda. Olhou à volta, para ver as pessoas que passavam na rua. Ninguém parecia notá-la. Na realidade, ninguém a notava. Constatou que realmente não fazia parte da multidão. Era como ser invisível. De facto, ela sentia-se invisível. Era como se soubesse intimamente que não pertencia a este mundo.
Por momentos, persistiu uma espécie de peso e de melancolia.
Por momentos somente.
Tudo passa.
Tão depressa surgiu a sensação, como no instante seguinte se extinguiu.
Tal e qual chuva de verão.

Nas nuvens.

28.08.03, a dona do chá

Está chovendo.
Caem serenamente as gotas de chuva. Fazem um leve burburinho. O silêncio da madrugada permite ouvir esse canto. O cheiro de terra molhada já anda no ar. Um discreto frio afasta as cortinas e invade o quarto. A pele ressente-se num arrepio. Ela está a olhar as estrelas possíveis. Sentada no chão, esquece os problemas e afasta pensamentos penosos. Parou de chover, mas o frio permanece.

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